segunda-feira, 16 de março de 2015

Paulo Portas esteve no Sahara Ocidental ocupado por Marrocos?



Se esteve, trata-se de uma atitude muito, muito, grave já que o Sahara Ocidental (a exemplo do que foi Timor-Leste) é considerado pelas Nações Unidas um território não autónomo pendente de descolonização, para o qual a organização internacional criou, em 1991, a MINURSO (Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental) com o assentimento das partes em conflito — Marrocos e a Frente POLISARIO.
Não se está a ver um vice-ministro de Portugal a visitar Dili ou Bacau num Timor-Leste ainda sob ocupação da Indonésia…

Se não esteve, então a notícia é falsa e a agência de notícias marroquina MAP criou um problema político e diplomático nas relações entre a República Portuguesa e o Reino de Marrocos.

Em todo o caso, o assunto merece esclarecimento. A opinião pública portuguesa tem direito a que o senhor Vice primeiro-ministro e o Governo de Portugal esclareçam quanto antes esta lamentável ocorrência.

Os factos:

A agência de notícias oficial marroquina MAP divulga num despacho com data de 13 de março (6.ª Feira) a presença do vice-primeiro-ministro português, Paulo Portas, no Fórum Crans-Montana, que se realizou em Dakhla (antiga Villa Cisneros *), cidade no sul do Sahara Ocidental sob ocupação marroquina.

O Fórum Crans Montana, criado n Suíça como um fórum de reflexão internacional ao estilo do de Davos, reuniu este ano em Dakhla a convite e a avultadas expensas do Rei de Marrocos, Mohamed VI. O intuito do monarca e do seu regime — com a evidente cumplicidade dos organizadores do Fórum —, era, alegadamente, legitimarem a ocupação de um território, sobre o qual nenhum país do Mundo reconhece a soberania de Marrocos, isto a poucos dias do Conselho de Segurança da ONU se voltar a debruçar sob o tema da descolonização inacabada do território que se prolonga há 40 anos.  

O Secretário-Geral das Nações Unidas, em comunicado mandado distribuir por ocasião da realização do evento, lembrou que “embora Dakhla seja descrita nos materiais do Fórum como uma cidade de Marrocos, o estatuto final do Sahara Ocidental é objeto de um processo de negociação sob os auspícios do Secretário-Geral com base nas resoluções relevantes das Nações Unidas”.



(*) Dakhla é uma cidade piscatória do sul Sahara Ocidental, próxima do Cabo Branco. Até 1975 chamava-se Villa Cisneros, altura em que a antiga potência colonial — Espanha — abandonou a sua colónia do Sahara Ocidental à invasão de Marrocos e Mauritânia. Este último país retirou-se do conflito em Agosto de 1979 após ter celebrado a paz com a Frente Popular de Libertação do Saguia El Hamra e Rio do Ouro (Frente POLISARIO), representante do Povo Saharaui reconhecido pelas Nações Unidas.

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