Brahim Mojtar, ministro da Cooperação da RASD |
O ministro
saharaui da Cooperação, Brahim Mojtar, condenou hoje a visita do rei Mohamed VI
de Marrocos a El Aaiún e advertiu de que se não se avança na solução política
existe “uma possibilidade real” de regresso às armas.
Em entrevista
concedida à agência EFE, um dos homens fortes do atual governo saharaui sublinhou
que “a intransigência marroquina”, somada ao cansaço de 40 anos de exílio forçado
e as recentes inundações, que arruinaram os acampamentos, multiplicaram a aposta
na radicalização, em particular entre os jovens.
“Tudo isso, junto
com a intransigência marroquina, não fará mais que incrementar essa frustração
que poderá desembocar numa radicalização de todo o processo e poderá levar,
sobretudo da população mais jovem de saharauis, a reivindicar o regresso às armas”,
sublinhou.
“É inegável que
o governo saharaui e a direção política da Frente Polisario estão sob pressão contínua
por parte dos jovens que reivindicam ação”, acrescenta o ministro nas suas
instalações em Rabouni, zona administrativa dos campos de refugiados saharauis no
sudoeste da Argélia.
Na sequência
deste argumento, advertiu que das duas uma, “ou aceleramos o processo de
negociação que leve à realização do referendo, como prometeram as Nações Unidas
no ano de 1991, ou permitimos-lhes retomar as armas para continuar aquilo que
fizeram os seus pais desde 1975 até 1991”.
“Penso que a
possibilidade é real, a ameaça é real e há que levá-la muito a sério”, sublinhou.
Mojtar, homem
de longa trajetória na Frente Polisario e de grande experiência no governo
saharaui, atribuiu toda a responsabilidade a Marrocos, a quem acusou de jogar com
a comunidade internacional para iludir o cumprimento das distintas resoluções da
ONU.
“O rei o que
está fazendo é uma provocação, está atuando contra o direito internacional
porque sabe, como o sabem todos os marroquinos, que o Sahara é um território
colonizado, pendente de descolonização e que não deve ser visitado pelas
autoridades marroquinas”, afirmou.
“Pensamos
que é uma fuga para a frente, enquanto as Nações Unidas estão procurando por
todos os meios uma maneira de aplicar as diferentes resoluções que defendem uma
solução política, consensual, que permita o direito do povo saharaui à autodeterminação”,
realçou.
A este respeito,
citou como exemplo a obstinada rejeição do reino alauita em receber Christopher
Ross, enviado pessoal do SG da ONU para conflito do Sahara, e em facilitar a missão
para a realização do referendo, pendente desde que a Espanha aceitou fazê-lo na
já longínqua década de sessenta.
“Pensamos que
esta fuga para a frente, esta intransigência, não leva àquilo que a comunidade
internacional pretende, que é uma solução pacífica através das negociações e
que poderá incrementar mais ainda a frustração já vivida pelos saharauis devido
ao arrastamento de todo este período”, afirmou.
“A abertura
de mais um foco de tensão na região, já de si muito volátil, cremos que não é
do interesse nem dos países vizinhos, nem das partes envolvidas nem da própria
Europa do sul”, acrescentou.
Rajoy com Garcia-Margallo |
Mojtar teve
também duras palavras para a Espanha, potência colonial no Sahara, a quem pediu
que utilize o seu atual cargo de presidente em exercício do Conselho de Segurança
da ONU para solucionar o que definiu como “último problema por resolver dos criados
pelo franquismo”.
“Pedimos veementemente
ao governo de Espanha que use toda a sua força, toda a sua energia, para forçar
o rei de Marrocos e ao governo marroquino a sentar-se à mesa de negociação e a
procurar uma solução com o povo saharaui que conduza à autodeterminação”, afirmou.
“Espanha, tal
como o fez Portugal em relação a Timor-Leste, tem todas as possibilidades de
dizer basta, 40 anos são mais que suficientes. Vamos descolonizar este território
que deixámos às mãos de verdugos e que mais não fizeram do que fazer sofrer a população
saharaui indefesa”, acrescentou.
Nesse sentido,
Mojtar afirmou que o Sahara também está pendente das eleições do próximo dia 20
de dezembro [em Espanha] mas que “a única coisa que pedimos a quem vier a ocupar
a Moncloa é que já é tempo de resolver o último resíduo dos problemas criado pelo
franquismo”.
Por último, Mojtar
sublinhou a importância que tem o próximo Congresso Geral da Frente Polisario, a
que assistirá o presidente Mohamed Abddelaziz, como disse, juntamente com mais de
2.500 delegados e onde serão tomadas decisões cruciais.
“A 16 de dezembro
temos o congresso geral da Frente Polisario que é onde se tomam as decisões estratégicas
e em que a maioria dos congressistas serão jovens com menos de 30 anos”, enfatizou.
Fonte: Terra
/ EFE
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