sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Marrocos suspende todo o contacto com as instituições europeias


Abdeliláh Benkirán, presidente do Governo de Marrocos

Nova briga entre Rabat e a União Europeia por causa do Sahara Ocidental. O governo marroquino declarou a "suspensão de todo o contacto com as instituições europeias" e enviou a Rupert Joy, embaixador oficial da UE em Rabat, uma notificação. O congelamento de contactos com a UE já vinha sendo implementado desde o início deste ano, mas esta tarde foi encenado numa conferência de imprensa do porta-voz do governo marroquino, Mustafa Jalfi.

O anúncio de Rabat é motivado pela decisão do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias de 10 de Dezembro passado de anular um acordo de liberalização de comércio de produtos agrícolas e de pesca acordado em 2012, por incluir no seu âmbito o Sahara Ocidental, um território cuja soberania é disputada. A ONU havia pedido a Espanha para descolonizar o Sahara Ocidental, mas em 1975 Marrocos ocupou o território, provocando um conflito armado com a Frente Polisario, defensor da independência. Após o cessar-fogo de 1991, tanto a ONU como as partes envolvidas não têm sido incapazes de encontrar uma solução.

Em 2012, a Frente Polisário interpôs uma ação contra o acordo comercial, a que o Tribunal de Justiça Europeu sentenciou com a sua anulação. Sexta-feira passada o Conselho Europeu recorreu da sentença, poucos dias antes do termo do prazo de recurso fixado para 22 de fevereiro. Naquele dia, a Corte publicou a sua decisão no Jornal Oficial da UE. As ONGs internacionais Western Sahara Resource Watch e Human Rights Watch denunciaram o acordo por este incluir produtos do território ocupado que não podem ser rotulados como oriundos de Marrocos, já que "indiretamente incentiva a violação dos direitos do povo saharaui".

Apesar do recurso do Conselho Europeu contra a decisão do seu próprio Tribunal, Rabat manifestou a sua "deceção ante a gestão opaca que certos serviços da UE fizeram desta questão", segundo o comunicado lido por Jalfi. O Executivo marroquino criticou as "autoridades europeias", a quem condenou pela sua "atitude desleal que faz casso omisso devido entre parceiros", informa a agência Efe.

Marrocos – afirmou o porta-voz do governo marroquino —"dá-se o direito de exigir da EU uma interação justa e responsável" e espera "receber explicações e garantias". "Marrocos não pode aceitar ser tratado como um mero objeto de um processo judicial, ou passar de mão em mão entre os diferentes serviços e instituições da UE", afirmou.

Rabat — que tem um estatuto avançado no âmbito do acordo de parceria com a EU — negoceia um Acordo de Comércio Livre mais profundo. A suspensão dos contactos pode afetar a colaboração em matéria de luta antijihadista e controlo de fronteiras, áreas em que a UE considera Marrocos um parceiro fundamental.

Fonte: El Mundo – 25.02.2016




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