O Governo de Marrocos acusou hoje o secretário geral da
ONU, Ban Ki-moon, de alinhar "totalmente" e de forma
"premeditada" com as teses da Polisario sobre o Sahara Ocidental.
"Para Marrocos (as palavras de Ban) são ações premeditadas
que têm como fim alterar o caráter do conflito (...). Trata-se, nem mais nem
menos, que um alinhamento total com as teses das outras partes (numa alusão à
Polisario e Argélia)", asseverou um porta-voz do Ministério dos Negócios
Estrangeiros marroquino em declarações à imprensa.
Desta forma, Marrocos recusou de forma clara a ideia de
que a polémica com o secretário-geral da ONU se devia a um "mal-entendido",
como insinuaram porta-vozes do secretário-geral das Nações Unidas.
Com esta declaração o Governo de Rabat demonstra que não
dá por concluído o seu descontentamento com Ban Ki-moon, embora o mesmo porta-voz
tenha insistido sobre a disposição de Marrocos de entabular um diálogo
"responsável e construtivo" sobre a crise aberta com o secretário-geral
da ONU.
Ao mesmo tempo, Rabat reiterou o seu apoio operacional e
logístico à componente militar da Missão da ONU no Sahara Ocidental (MINURSO)
para supervisionar o cessar-fogo firmado entre Marrocos e a Polisario em 1991.
O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane
Dujarric, disse ontem numa conferência de imprensa que a palavra "ocupação"
não foi "nem planeada nem usada deliberadamente" por Ban Ki-moon, e
acrescentou que "nada do que Ban dissera ou fizera durante a sua viagem ao
norte de África pretendia ofender ou demonstrar hostilidade para com o reino de
Marrocos".
Não obstante, o governo marroquino considerou hoje que as
palavras e gestos de Ban "não se podem reduzir e um simples 'mal-entendido'
porque são de uma gravidade sem precedentes, injustificável e não se podem apagar".
Além do uso da palavra "ocupação", o Governo de
Marrocos voltou a enumerar outros três gestos que reprovam a Ban: a sua visita no
passado dia 5 de março a Bir Lehlu, situada no el Sahara Ocidental; uma zona
considerada por Marrocos "terra de ninguém" ou "zona tampão",
enquanto a Polisario a qualifica de "território libertado".
O Governo marroquino também reprovou ao secretário-geral
da ONU a sua vénia ante a bandeira da
República Árabe Saharaui Democrática (RASD) em Bir Lehlu, e também o facto de
fazer com as suas mãos o "V" de vitória durante a sua presença nos acampamentos
saharauis de Tindouf (Argélia).
Marrocos e Ban Ki-moon encontram-se numa crise aberta depois
de Rabat ter denunciado por "hostis" e "insultuosas" as
declarações e gestos produzidos pelo secretário-geral da ONU na sua última
visita ao Sahara.
Em resposta a isso, Marrocos cortou a ajuda financeira
que dava à MINURSO (alojamento e alimentação), expulsou 73 funcionários da missão
de El Aaiún, e pediu na semana passada à ONU o encerramento do posto de ligação
militar que esta missão tinha em Dakhla.
Rabat, 29 mar (EFE)
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