quarta-feira, 30 de março de 2016

Rabat insiste em que Ban Ki-moon alinha “deliberadamente" com a Polisario




O Governo de Marrocos acusou hoje o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, de alinhar "totalmente" e de forma "premeditada" com as teses da Polisario sobre o Sahara Ocidental.

"Para Marrocos (as palavras de Ban) são ações premeditadas que têm como fim alterar o caráter do conflito (...). Trata-se, nem mais nem menos, que um alinhamento total com as teses das outras partes (numa alusão à Polisario e Argélia)", asseverou um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros marroquino em declarações à imprensa.

Desta forma, Marrocos recusou de forma clara a ideia de que a polémica com o secretário-geral da ONU se devia a um "mal-entendido", como insinuaram porta-vozes do secretário-geral das Nações Unidas.

Com esta declaração o Governo de Rabat demonstra que não dá por concluído o seu descontentamento com Ban Ki-moon, embora o mesmo porta-voz tenha insistido sobre a disposição de Marrocos de entabular um diálogo "responsável e construtivo" sobre a crise aberta com o secretário-geral da ONU.

Ao mesmo tempo, Rabat reiterou o seu apoio operacional e logístico à componente militar da Missão da ONU no Sahara Ocidental (MINURSO) para supervisionar o cessar-fogo firmado entre Marrocos e a Polisario em 1991.

O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, disse ontem numa conferência de imprensa que a palavra "ocupação" não foi "nem planeada nem usada deliberadamente" por Ban Ki-moon, e acrescentou que "nada do que Ban dissera ou fizera durante a sua viagem ao norte de África pretendia ofender ou demonstrar hostilidade para com o reino de Marrocos".

Não obstante, o governo marroquino considerou hoje que as palavras e gestos de Ban "não se podem reduzir e um simples 'mal-entendido' porque são de uma gravidade sem precedentes, injustificável e não se podem apagar".

Além do uso da palavra "ocupação", o Governo de Marrocos voltou a enumerar outros três gestos que reprovam a Ban: a sua visita no passado dia 5 de março a Bir Lehlu, situada no el Sahara Ocidental; uma zona considerada por Marrocos "terra de ninguém" ou "zona tampão", enquanto a Polisario a qualifica de "território libertado".

O Governo marroquino também reprovou ao secretário-geral da ONU a sua  vénia ante a bandeira da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) em Bir Lehlu, e também o facto de fazer com as suas mãos o "V" de vitória durante a sua presença nos acampamentos saharauis de Tindouf (Argélia).

Marrocos e Ban Ki-moon encontram-se numa crise aberta depois de Rabat ter denunciado por "hostis" e "insultuosas" as declarações e gestos produzidos pelo secretário-geral da ONU na sua última visita ao Sahara.

Em resposta a isso, Marrocos cortou a ajuda financeira que dava à MINURSO (alojamento e alimentação), expulsou 73 funcionários da missão de El Aaiún, e pediu na semana passada à ONU o encerramento do posto de ligação militar que esta missão tinha em Dakhla.


Rabat, 29 mar (EFE)

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