Kerry Kennedy |
Para lavar a sua imagem, Marrocos gastou 3,1 milhões de
dólares nos EUA em 2014 em operações de lobbying para melhorar sua imagem
manchada pelas violações diárias dos direitos humanos nos territórios saharauis
ocupados, disse na quarta-feira, em Washington, a presidente da organização Robert
F. Kennedy Center for Justice & Human Rights, Kerry Kennedy.
Durante uma audição organizada pela Comissão dos Direitos
Humanos Tom Lantos no Congresso dos EUA sobre o Sahara Ocidental, Kerry Kennedy
disse que "ao contrário dos obstáculos que coloca à investigação de
direitos humanos, Marrocos gastou nada mais nada menos que 3,1 milhões de
dólares só nos EUA em 2014 em lobbying e relações públicas”. Enquanto isso, as
autoridades marroquinas continuam a impedir os defensores dos direitos humanos
a nível local a identificar e divulgar esses atropelos. As autoridades consideram
que é quase "impossível investigar nos territórios ocupados por medo de
represálias." Durante os últimos dois anos, o Centro Robert F. Kennedy de
Justiça e Direitos Humanos documentou 56 detenções arbitrárias, 50 casos de
abuso cometidos contra presos políticos, 84 violações de direitos políticos e
outros 31 casos de restrição à liberdade de movimento, disse Kerry Kennedy.
Marrocos restringiu severamente os direitos económicos,
sociais e culturais dos saharauis, disse a presidente da organização
norte-americana perante a comissão, observando que MINURSO é a única missão de
paz da ONU que não está dotada com um mandato para monitorar os direitos
humanos.
Abordando a posição dos EUA sobre o conflito no Sahara
Ocidental, Kerry Kennedy observou que o projeto de resolução apresentado em
2013 por Susan Rice, ex-representante dos EUA na ONU para ampliar o mandato da
MINURSO à supervisão dos direitos humanos foi torpedeado por Marrocos e os seus
aliados no Conselho de Segurança. Mas, desde então, "os Estados-Membros limitaram-se
a prolongar o prazo [...] desta missão",
lamentou. A Presidente do Centro RFK apelou ao seu país a financiar a MINURSO
na sequência da decisão de Rabat cortar o financiamento à MINURSO. “Estamos
convencidos que é do interesse dos EUA apoiar os direitos do povo saharaui e o
seu direito à autodeterminação” – afirmou
Prazo
para negociações e alternativas em caso de fracasso…
Intervindo na mesma audição, o ex-representante especial do
Secretário-Geral da ONU no Sahara Ocidental, Franchesco Bastagli, disse que o
Sahara Ocidental "foi um processo de descolonização mal conduzido", o
que levou a comunidade internacional a tomar responsabilidades no que diz
respeito a esta questão. "A negligência não é uma opção política. Os
membros do Conselho de Segurança devem empenhar-se fortemente e ter um sentido
de uma urgência ", prosseguiu Bastagli, defendendo uma retomada das
negociações entre a Frente Polisário e Marrocos sem condições prévias. Bastagli
— que respondeu a várias perguntas da Comissão sobre o estatuto do Sahara
Ocidental — disse que a ONU deve definir um prazo para as negociações e
estabelecer alternativas em caso de fracasso das negociações.
Por seu lado, Erik Hagen, presidente do Observatório para
a proteção dos recursos naturais do Sahara Ocidental, abordou a exploração
ilegal das riquezas deste território com base no parecer jurídico emitido em
2002 pela ONU, que concluiu que qualquer prospeção ou exploração dos recursos
deve ser feita de acordo com a vontade dos saharauis e de acordo com os seus
interesses.
Hagen baseou também a sua argumentação tendo por base o
acordo de livre comércio entre os EUA e Marrocos, o qual excluiu taxativamente o
Sahara Ocidental do seu âmbito. Os saharauis — lembrou — não recebem atualmente
nenhum rendimento das riquezas saqueadas pelo ocupante marroquino, ou empregos
gerados por estas atividades económicas ilegais nos territórios ocupados do
Sahara Ocidental.
Fonte: La Tribunedz.com
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