terça-feira, 2 de março de 2021

Alegando "MAL ENTENDIDOS PROFUNDOS": Marrocos suspende repentinamente as suas Relações com a Alemanha sem dar explicações

 

Nota do ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos, Nasser Bourita, ordenando a suspensão de qualquer relação com a Alemanha.



Rabat, há alguns anos, já havia suspendido a Cooperação em matéria de Segurança - incluindo a antiterrorista- com Espanha durante um mês e com França durante 11 meses

Por Ignacio Cembrero

01/03/2021 - 22:59 Atualizado: 02/03/2021 - 00:10


Marrocos anunciou, esta segunda-feira à noite, que suspenderia as relações com o Governo alemão e as suas instituições públicas, mas não explicou os motivos desta decisão. O ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Bourita, divulgou uma nota na qual faz referência a "mal-entendidos profundos (...) a propósito de questões fundamentais para o Reino de Marrocos", embora não entre em detalhes. A carta, dirigida ao chefe do Governo e a todos os seus membros, ordena a "suspensão de qualquer contacto, interação ou ação de cooperação (...) com a embaixada da Alemanha em Marrocos, com os organismos de cooperação e as fundações políticas alemãs" —seja, a Friedriech Ebert ou a Konrad Adenauer, vinculadas, respetivamente, à social-democracia e à democracia-cristã alemã. O Ministério dos Negócios Estrangeiros marroquino precisa que já aplicou esta suspensão. A nota não deixa de ser curiosa, porque nela o ministro das Relações Exteriores dá ordens a alguém que, em teoria, é seu chefe, Saeddine o Othmani, que está à frente do Executivo. Bourita tem, na realidade, mais peso no Governo marroquino pela sua linha directa com o palácio real e Mohamed VI.



A imprensa marroquina especulava, na segunda-feira à noite, sobre os motivos que estiveram na origem desta decisão drástica. Menciona desde uma trama de espionagem alemã até à colocação da bandeira da Frente Polisario, durante algumas horas, na fachada do Parlamento regional de Bremen (Alemanha). Um membro do Governo de Rabat reconheceu em privado que desconhecia as razões concretas que estavam por detrás da tensão diplomática. O facto de Marrocos se atrever a cortar relações com a Alemanha demonstra até que ponto a sua diplomacia foi encorajada depois de o Presidente Donald Trump ter reconhecido, em Dezembro, a soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental, uma colónia espanhola até 1975. Vinte países africanos e árabes deram passos na mesma direção que Trump e estão abrindo consulados em El Aaiún ou Dajla, as duas principais cidades desse território.

Rabat interrompeu já a cooperação em matéria de segurança com a Espanha em agosto de 2014, depois de a Guarda Civil ter interceptado, por engano, a embarcação em que navegava o próprio Mohamed VI rumo a Tânger, nas águas de Ceuta. Com a França, congelou as suas relações durante 11 meses, de fevereiro de 2014 a janeiro de 2015, depois de a polícia judiciária francesa ter tentado levar a julgamento Abdellatif Hammouchi, o principal responsável da Direção-Geral de Supervisão do Território (DGST, polícia secreta), que os exilados marroquinos acusavam de ter torturado. Nos círculos diplomáticos, receia-se uma crise entre Rabat e a União Europeia se, no final do ano, o Tribunal de Justiça da UE invalidar os acordos, renovados em 2019, sobre agricultura e pescas. O escritório de advogados Devers, contratado pela Frente Polisário, interpôs recurso contra estes acordos porque incluem uma extensão para o Sahara que consideram não estar em conformidade com o direito internacional.

 

 




Sem comentários:

Enviar um comentário