Nota do ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos, Nasser Bourita, ordenando a suspensão de qualquer relação com a Alemanha. |
Rabat, há alguns anos, já havia suspendido a Cooperação em matéria de Segurança - incluindo a antiterrorista- com Espanha durante um mês e com França durante 11 meses
Por Ignacio Cembrero
01/03/2021 - 22:59 Atualizado: 02/03/2021 - 00:10
Marrocos anunciou, esta segunda-feira à noite, que suspenderia as relações com o Governo alemão e as suas instituições públicas, mas não explicou os motivos desta decisão. O ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Bourita, divulgou uma nota na qual faz referência a "mal-entendidos profundos (...) a propósito de questões fundamentais para o Reino de Marrocos", embora não entre em detalhes. A carta, dirigida ao chefe do Governo e a todos os seus membros, ordena a "suspensão de qualquer contacto, interação ou ação de cooperação (...) com a embaixada da Alemanha em Marrocos, com os organismos de cooperação e as fundações políticas alemãs" —seja, a Friedriech Ebert ou a Konrad Adenauer, vinculadas, respetivamente, à social-democracia e à democracia-cristã alemã. O Ministério dos Negócios Estrangeiros marroquino precisa que já aplicou esta suspensão. A nota não deixa de ser curiosa, porque nela o ministro das Relações Exteriores dá ordens a alguém que, em teoria, é seu chefe, Saeddine o Othmani, que está à frente do Executivo. Bourita tem, na realidade, mais peso no Governo marroquino pela sua linha directa com o palácio real e Mohamed VI.
Rabat interrompeu já a cooperação em matéria de segurança com a Espanha em agosto de 2014, depois de a Guarda Civil ter interceptado, por engano, a embarcação em que navegava o próprio Mohamed VI rumo a Tânger, nas águas de Ceuta. Com a França, congelou as suas relações durante 11 meses, de fevereiro de 2014 a janeiro de 2015, depois de a polícia judiciária francesa ter tentado levar a julgamento Abdellatif Hammouchi, o principal responsável da Direção-Geral de Supervisão do Território (DGST, polícia secreta), que os exilados marroquinos acusavam de ter torturado. Nos círculos diplomáticos, receia-se uma crise entre Rabat e a União Europeia se, no final do ano, o Tribunal de Justiça da UE invalidar os acordos, renovados em 2019, sobre agricultura e pescas. O escritório de advogados Devers, contratado pela Frente Polisário, interpôs recurso contra estes acordos porque incluem uma extensão para o Sahara que consideram não estar em conformidade com o direito internacional.
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