sábado, 25 de fevereiro de 2023

O presidente da Argélia acusa Pedro Sánchez de cometer "um ato hóstil" e orgulha-se das "excelentes relações" com Felipe VI

 


El Independiente 24-02-2023 - Francisco Carrión | O Presidente da República Argelina, Abdelmadjid Tebboune, criticou duramente o governo de Pedro Sánchez esta sexta-feira pela sua mudança de posição sobre o conflito do Sahara Ocidental e o seu apoio ao plano de autonomia marroquino. Trata-se, denunciou, de "um acto hostil" do qual isenta Felipe VI, com o qual afirma ter "excelentes relações".

Numa entrevista aos meios de comunicação argelinos, publicada na sexta-feira, Tebboune declarou que "a Espanha deu um passo em falso" ao alinhar-se abertamente com os postulados do seu vizinho e arqui-inimigo Marrocos. "Nada mudou no decurso desta crise", advertiu, quebrando o silêncio que as autoridades argelinas decretaram sobre os laços com Espanha. Esta é a enésima confirmação de Argel de que não houve progressos no sentido de um degelo entre os dois países.

Contudo, salientou que "as relações são excelentes com o povo espanhol, o rei Felipe VI e outros actores do país". "A culpa não é do povo espanhol", disse. Esta é a primeira vez que o líder argelino menciona o monarca espanhol desde Março passado, após a viragem dos acontecimentos que levaram à chamada do embaixador argelino em Madrid para consultas e, mais tarde, ao corte das relações diplomáticas e comerciais.

Tebboune teve palavras de afeto para a Itália, agora parceiro da Argélia no sul da Europa. "A Itália é o único país que apoiou a Argélia durante a sua década negra", disse na entrevista, referindo-se à guerra civil entre forças governamentais e grupos islâmicos que deixou quase 200.000 mortos entre 1991 e 2002. "A Argélia não é revanchista, mas nunca esquece os seus amigos", assegurou. Na sua opinião, as relações hispano-argelinas foram também excelentes. Admitiu que lamentava a deterioração das mesmas.


O tratado de boa vizinhança, "congelado"

Em Julho passado, o regime de Tebboune quebrou unilateralmente o tratado de boa vizinhança e impôs um bloqueio às operações de comércio externo com Espanha, como retaliação à histórica mudança de posição de Moncloa na disputa sobre o Sahara Ocidental, a antiga colónia espanhola que, após 47 anos de ocupação marroquina, é o último território em África a ser descolonizado. "Congelámos, não cancelámos, o tratado de cooperação e de boa vizinhança com Espanha", afirmou na sexta-feira.

Na semana passada a Argélia quebrou o seu silêncio habitual para culpar Moncloa por tentar elevar a crise diplomática bilateral à esfera da União Europeia, num despacho da agência noticiosa estatal. "As pressões e gesticulações de Espanha são contraproducentes", advertiram. "Não estamos nada impressionados", acrescentaram numa mensagem dirigida ao Comissário Europeu do Comércio, Valdis Dombrovskis da Letónia, a quem o Ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol José Manuel Albares pediu em Junho que tentasse mediar a disputa em nome dos interesses europeus.

Dezenas de empresários espanhóis com interesses na Argélia têm vindo a sofrer desde Julho passado com a paralisia imposta pelas autoridades locais. Em reuniões com algumas das empresas afetadas, o governo espanhol reconheceu que não mediu as consequências da decisão relativa ao Sahara e convidou os afetados a "mudar de país" para os seus investimentos.

Segundo El Independiente, cerca de vinte empresas espanholas com sede na Argélia estão a preparar uma ação de indemnização contra o Estado espanhol pelos prejuízos causados pelo bloqueio efetivo do comércio com o país árabe desde Junho.

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