quarta-feira, 31 de julho de 2024

A França no seu labirinto - Comunicado de Imprensa da AAPSO


O Presidente francês, em plenos Jogos Olímpicos, derrotado nas últimas eleições presidenciais e com um governo de gestão, acaba de lançar a chama sobre o óleo no Magrebe. Copiou Donald Trump, que reconheceu a soberania marroquina a dias de terminar o mandato, que perdera, e adoptou o método Sánchez: uma carta para o rei de Marrocos na qual acha que a questão do Sahara Ocidental deve ser resolvida através da autonomia do território no quadro da soberania marroquina.

Emmanuel Macron tem tido uma política insegura e errática relativamente ao norte de África, ao sabor dos ventos de curto prazo. A França, incapaz de enfrentar o seu passado colonial, que tem prolongado por outros meios, agora expostos e abertamente postos em causa na África ocidental, hesita permanentemente entre vários interesses que conflituam entre si. Na visão de Paris, o Sahara Ocidental é uma vítima colateral menor. 

Vítimas são também a parte da História e do legado da França ao mundo que cinicamente o poder apresentou na abertura dos Jogos Olímpicos como continuando hoje a ser referências nacionais: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Vítima será ainda o papel da França enquanto membro permanente do Conselho de Segurança, ao renegar a Carta das Nações Unidas, todas as resoluções sobre o território não-autónomo do Sahara Ocidental, baseadas na Resolução 1514 (XV) sobre a “Concessão de Independência aos Países e Povos Coloniais” (aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas, 1960), e o Parecer do Tribunal Internacional de Justiça da ONU (1975).

O Direito Internacional é torpedeado, maltratado, invisibilizado e sujeito a interpretações carregadas de “dois pesos e duas medidas”, como se tem observado nomeadamente nos casos da Ucrânia, da Palestina e do Sahara Ocidental. Alguns povos “merecem” o exercício pleno da sua autodeterminação, outros nem tanto ou mesmo nada. Mas o Direito Internacional continua vivo, como o atestam as recentes tomadas de posição do Tribunal Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional sobre Israel e a ocupação da Palestina.

O sujeito principal deste combate, no caso do Sahara Ocidental, é e será sempre o povo saharaui. Ele é o titular da sua soberania, só ele pode decidir o que quer para o seu futuro. Por isso o referendo é a única forma de resolver um processo de descolonização inacabado, que se arrasta há cinco décadas, com prejuízo para todas as famílias saharauis e para a paz, a segurança e o desenvolvimento da região.

Assinalaram-se no passado dia 27 de julho os 50 anos sobre o reconhecimento, por parte de Portugal, do direito à autodeterminação e independência das “suas” colónias. Ao fim de anos de apoio de vários países, e da NATO, ao regime de ditadura colonial. Quando a África do Sul do apartheid , a Rodésia e o Malawi eram poderosos aliados do poder em Lisboa. Mas o povo português compreendeu enfim que “nenhum povo pode ser livre enquanto oprimir outros povos”. Este é o nosso legado.

Esta história não acabou aqui, porque o povo timorense teve de lutar mais 24 anos pela sua liberdade, e Portugal, potência administrante, esteve progressivamente, cada vez mais, ao seu lado, na política, como na diplomacia. Este é também o nosso legado. Sejamos dignos dele, atualizando-o, a favor do povo do Sahara Ocidental.

Lisboa, 30 de Julho de 2024





Associação de Amizade Portugal - Sahara Ocidental (AAPSO)

terça-feira, 30 de julho de 2024

Sahara Ocidental: Argel retira embaixador após Paris reforçar apoio a Rabat

 

A França “desrespeita a legalidade internacional, assume a causa
da negação do direito à autodeterminação do povo saharaui
e afasta-se de todos os esforços pacientes e perseverantes
desenvolvidos pelas Nações Unidas”

Argel, 30 jul 2024 (Lusa) – A Argélia decidiu hoje retirar o embaixador em Paris, “com efeitos imediatos”, em protesto contra o facto de a França ter anunciado um maior apoio ao plano de autonomia de Marrocos para o Sahara Ocidental.

O Sahara Ocidental é palco de um conflito de quase 50 anos com os independentistas da Frente Polisário, apoiados por Argel, que contestam o plano de autonomia proposto por Rabat em 2007 e exigem o cumprimento da resolução das Nações Unidas, datada de 1991, em que é exigida a realização de um referendo de autodeterminação na antiga colónia espanhola, anexada por Marrocos em 1975.

“A representação diplomática argelina em França é agora da responsabilidade de um encarregado de negócios”, declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado, denunciando uma "medida que nenhum outro governo francês antes dele se sentiu obrigado a tomar".

Numa carta ao rei Mohamed VI tornada hoje pública por Rabat, o Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que o plano marroquino “constitui agora a única base para alcançar uma solução política justa, duradoura e negociada, em conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas”.

Sem reconhecer expressamente a “marroquinidade” do Sahara Ocidental, Macron acrescentou que considerava que “o presente e o futuro” do território que a ONU considera como “não autónomo” e com grandes reservas de fosfato “se inscrevem no quadro da soberania marroquina”.


Argel: Ministério dos Negócios Estrangeiros

Ao adotar esta posição, a França “desrespeita a legalidade internacional, assume a causa da negação do direito à autodeterminação do povo saharaui e afasta-se de todos os esforços pacientes e perseverantes desenvolvidos pelas Nações Unidas”, reagiu Argel.

A Frente Polisário condenou a mudança de atitude da França como um apoio à “ocupação violenta e ilegal” do Sahara Ocidental.

A iniciativa de Paris era esperada por Marrocos, para quem esta questão é uma “causa nacional” e cujas relações com a França se esfriaram consideravelmente nos últimos anos.

“Este anúncio da República Francesa, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, constitui um desenvolvimento importante e significativo no apoio à soberania marroquina sobre o Sahara”, congratulou-se o Gabinete Real em comunicado de imprensa.

O Sahara Ocidental, antiga colónia espanhola, é controlado de facto em grande parte por Marrocos, que propõe um plano de autonomia sob a sua soberania.

No entanto, é reivindicado desde 1975 pela Polisario, que exige um referendo de autodeterminação, previsto durante um cessar-fogo, mas nunca realizado.

“A prossecução do desenvolvimento económico e social nesta região é imperativa. Congratulo-me com todos os esforços desenvolvidos por Marrocos neste sentido. A França apoiá-lo-á nesta abordagem em benefício das populações locais”, escreve o Presidente Macron na carta.

Encorajado pelo reconhecimento pela administração norte-americana de Donald Trump, no final de 2020, da sua soberania sobre o Sahara Ocidental em troca de uma aproximação a Israel, Marrocos tem desde então utilizado uma diplomacia ofensiva para conquistar outros países para as suas posições.

Em 2022, a Espanha fez uma reviravolta, abandonando a sua neutralidade e considerando a iniciativa marroquina “a base mais séria, realista e credível para a resolução do diferendo”, aquecendo assim as relações tensas com Rabat.

A Argélia, que rompeu relações com Marrocos em 2021, em parte devido a esta questão, já tinha manifestado na passada quinta-feira a sua “desaprovação” em relação à “decisão inesperada” da França, da qual disse ter sido informada alguns dias antes.

Numa alusão a Paris e Rabat, Argel denunciou “as potências coloniais, antigas e novas, [que] sabem reconhecer-se e compreender-se e estender as mãos”. A Argélia “tirará todas as consequências desta decisão francesa”, ameaçou a diplomacia argelina.

Em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP), Hasni Abidi, especialista do centro de estudos CERMAM, em Genebra, falou de “uma mudança histórica” na posição francesa, que até então se caracterizava por um “equilíbrio entre Rabat e Argel”.

Segundo Abidi, Argel preparou, sem dúvida, “uma panóplia de decisões” em reação à mudança de posição francesa, ao nível da sua representação diplomática e “com o congelamento das colaborações com Paris”, entre outras medidas.

A visita de Estado do Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, a Paris, prevista para o final de setembro, poderá também ser posta em causa, segundo o portal de notícias argelino TSA.

Segundo Abidi, a decisão francesa é um revés para Tebboune, candidato à reeleição nas eleições presidenciais de 07 de setembro, que tinha “convencido os seus pares no exército a apostar numa aproximação a Macron”, quando “afinal é Macron que está a perturbar o equilíbrio mantido durante várias décadas”.

 

domingo, 28 de julho de 2024

Guerra do Sahara Ocidental: a estratégia saharaui baseia-se no desgaste marroquino

 

"Contrariamente ao que se julga, o Exército de Libertação Saharaui tem sido ininterrupto nos seus ataques contra o muro marroquino desde 13 de novembro de 2020"

Por Salem Mohamed - ECS 27-07-2024 - Tifariti. | A independência de um país não se alcança numa qualquer sala da ONU ou outra, mas com base no que acontece no terreno. Este princípio sem restrições é apoiado por uma série de factos históricos difíceis de refutar. Desde o cessar-fogo de 1991, em três décadas de moderação e de empenho diplomático, a Frente POLISARIO apenas ganhou força teórica através de resoluções repetidas que não conduziram a nada de concreto, enquanto, por outro lado, perdeu um apoio diplomático considerável ligado sobretudo a acordos económicos nos territórios ocupados. E perante a manifesta negligência e imparcialidade macabra da ONU na realização de um referendo reconhecido e prometido há décadas, e nunca exercido pelo povo que confiou nas instituições internacionais, não há outro caminho senão intensificar a luta armada alargando o campo de batalha e reorientando o objetivo para o tecido da "economia da colonização" e das infra-estruturas críticas que sustentam a ocupação marroquina da República Saharaui e financiam a sua vil agressão contra o nosso povo.

Ao analisarmos o cenário da atual ocupação marroquina de partes da República Saharaui, identificamos as forças motrizes que condicionam o presente e são susceptíveis de moldar o futuro e influenciar o curso dos acontecimentos num conflito marcado pela pilhagem colonial; A pilhagem dos recursos naturais saharauis (pesca, fosfatos, agricultura e energias renováveis) e a abertura de novas rotas comerciais marítimas e terrestres de elevado valor estratégico (Dakhla Atlantique e El Guerguerat) constituem o núcleo essencial da presença militar marroquina e, por conseguinte, os verdadeiros factores de mudança, e a sua observação permite-nos antecipar o futuro a partir do presente.








El Guerguerat (no extremo sul do SO ocupado: passagem fronteiriça para a Mauritânia e acesso aos países que integram a CEDEAO. Um local estratégico económico para Marrocos e militar para a Frente POLISARIO













Estas explorações ilegítimas, na medida em que são elementos objectivos que servem para perpetuar a ocupação marroquina, tornam-se automaticamente objectivos legítimos da luta armada de libertação do povo saharaui. Trata-se, portanto, de gerar condições favoráveis para inviabilizar a guerra para Marrocos, bem como a insustentabilidade de manter a sua presença militar gerando custos, pondo em causa a sua economia e estabilidade interna, já afectadas pelas actuais circunstâncias políticas e económicas do regime alauíta. Esta é, sem dúvida, uma vantagem importante para a Frente POLISARIO, oferecendo um quadro ideal para sustentar a guerra de desgaste, sempre baseada na razão e assumindo a complexidade que tal tarefa exige num contexto de incerteza militar com consequências imprevistas e potencialmente desfavoráveis.

 

Drones marroquinos comprados a Israel.
Em 2022, Marrocos  fez o maior investimento militar da sua história
(4,8 mil milhões de dólares).

Geração de custos

É importante lembrar que é economicamente ineficaz para Marrocos fazer a guerra; mantém três quartos do seu exército na região que ocupa, com os correspondentes custos de transporte e manutenção, e as suas acções limitam-se a ataques esporádicos com drones, dez vezes mais caros do que o alvo atacado.

Os anos da primeira guerra, a paz com a Mauritânia e o desgaste causado a Marrocos ao longo desses dezasseis anos deixaram uma experiência operacional valiosa, especialmente para os nossos comandantes médios e superiores, que são os que conduzem as operações de hoje numa guerra assimétrica em que a acumulação de custos para o inimigo terá de surgir como a opção mais conveniente para quebrar o esquema de ocupação marroquino, cuja força militar é superior às forças armadas da RASD, embora seja importante diferenciar entre poder militar efetivo e capacidade comprovada. O potencial das forças saharauis é limitado apenas pelos meios materiais, pelo que, através da aplicação de informações tácticas, o ELPS poderá impor dissuasão e alterar as regras do jogo, atacando enclaves e locais cruciais.

Todas as guerras têm custos: custos sociais, económicos, políticos e diplomáticos, dos quais os três últimos são os mais importantes. O vencedor é, portanto, aquele que suporta mais custos durante um longo período de tempo sem afetar as suas capacidades.

Neste artigo, vamos concentrar-nos no aspeto económico, uma vez que, no caso marroquino, é aquele que sustenta os outros custos e contém o peso necessário para desequilibrar a balança a favor dos saharauis pelas razões acima mencionadas, num contexto em que a via diplomática foi paralisada. Contrariamente ao que se julga, o Exército de Libertação Saharaui tem sido ininterrupto nos seus ataques contra o muro marroquino desde 13 de novembro de 2020, controlando o curso, a intensidade e o local da guerra com armas clássicas e convencionais, e infligindo custos todos os dias. Recorde-se que Marrocos, na primeira guerra de libertação (1975-1991), quatro anos após o seu início, já começava a queixar-se do desgaste "que lhe era imposto pela Frente POLISARIO".

Da mesma forma, a ofensiva jurídica da Frente POLISARIO em defesa dos recursos naturais saharauis, que aguarda uma decisão do Tribunal Europeu no final deste ano, e que lhe é claramente favorável, afectará o comércio, a moeda e o PIB marroquinos ao perturbar a chamada "economia de colonização", nomeadamente a crise energética em que se encontra mergulhado desde que a Argélia fechou o seu gasoduto e lhe declarou guerra económica com uma estratégia de "queima lenta", esperando que Rabat se esvaia em sangue económico através da compra de GNL. E é o que está a acontecer. Ainda sem infra-estruturas para regaseificar o GNL, Marrocos foi obrigado a aceder pela primeira vez ao mercado do GNL, reabrindo para o efeito as suas duas centrais de Tahaddart e Ain Beni Mathar, mas as boas notícias foram de curta duração, já que o aumento da procura de GNL, liderado por uma Europa sedenta de energia depois de ter renunciado à energia russa, aumentou ainda mais os preços do gás e, consequentemente, trouxe mais inflação, o que afectará o acesso de Marrocos a esta fonte de energia.

O cenário é, pois, o seguinte: num contexto de corrida frenética a alternativas à energia russa, Marrocos vai começar a pagar mais pelo gás que recebe gratuitamente há 25 anos, graças à Argélia, tirando mesmo um suculento proveito dos direitos de passagem. Assim, Rabat, em apenas um ano, perdeu a sua soberania energética, ficando à mercê das implacáveis leis da oferta e da procura e de outras variáveis geopolíticas e diplomáticas que uma UE politicamente míope está a sofrer.



Minas de fosfatos de Boucraa: uma exploração de
recursos naturais saharauis ininterrupta desde 1975... 








Implicações estratégicas de El Guerguerat

Desde 2001, Marrocos olha com desconfiança para esta zona tampão por onde circulam mercadorias ilegais. Em 2005, asfaltou a estrada nas zonas saharauis ocupadas e dotou-a de um edifício aduaneiro. Em 2017, após a adesão à União Africana, tentou completar o asfaltamento e invadir mais território, mas temendo um regresso às hostilidades e procurando agradar a Guterres, acabou por retirar as suas tropas.

Três anos mais tarde, em novembro de 2020, lançou uma operação militar em violação dos acordos de cessar-fogo com a Frente POLISARIO, invadindo a área e construindo um novo muro infestado de minas, levando ao início da guerra que se seguiu, mas o que há de tão importante nesta área que Marrocos ousou quebrar resolutamente os acordos militares Nº1 e Nº2 assinados em 1991 com a ONU e a Frente POLISARIO?

Geograficamente, Marrocos está isolado da África Ocidental pelos seus dois rivais, a Argélia a leste, que mantém as suas fronteiras comuns fechadas, e a República Saharaui a sul, que mantém militarmente ocupada, pelo que não tem qualquer passagem ou ligação terrestre à região. No contexto da ocupação, El Guerguerat era estratégico para os saharauis, até 2020, porque era a única saída para o Atlântico e para a cidade fantasma de La Guera, bem como devido à sua proximidade da capital económica da Mauritânia, Nouadhibou.

Assim, a anexação ilegal por parte de Marrocos com a consequente construção de um novo muro e de bases militares em El Guerguerat tem um significado eminentemente económico, pois permite a Marrocos o tão desejado acesso ao mercado da CEDEAO, do qual já faz parte o seu grande rival, a Argélia, que partilha uma fronteira natural com a Mauritânia e possui uma via terrestre. Rabat está consciente de que o acesso ao mercado da CEDEAO só será possível através da anexação do posto de passagem ilegal de El Guerguerat, posto fronteiriço que faz a ligação com a Mauritânia através do ponto PK-55, situado no extremo sul dos territórios da República Saharaui, e que é, portanto, a única via do território que lhe permitiria comercializar os seus produtos com os países da África Ocidental e do Sahel, e assim concorrer com as rotas argelino-mauritanas como Tindouf-Zuérat e Nouakchott-Uargla.

É claro que a energia, o petróleo e o gás, bem como outras importações, são extremamente importantes para as principais indústrias da "economia de colonização" e, muito especialmente, para a manutenção do seu exército de ocupação na sua guerra de agressão contra o povo saharaui. Será que Marrocos pode, simultaneamente, manter a sua população de 36 milhões de habitantes e suportar os custos de uma guerra prolongada, bem como os milhões em subsídios que injeta nas zonas ocupadas do Sahara Ocidental à custa dos impostos do contribuinte marroquino?

Por seu lado, os países que integram o bloco comercial, liderados pela potência regional Nigéria, não vêem com bons olhos a adesão de Marrocos à CEDEAO, pois receiam que esta constitua um "cavalo de Troia" livre para a introdução de produtos europeus e norte-americanos sem passar pelas tarifas próprias do grupo comercial regional, quando muitos membros reconhecem a República Saharaui. A proposta de Rabat de aderir à CEDEAO foi descrita pelos empregadores nigerianos como "ambígua" e altamente prejudicial para os interesses económicos da Nigéria. Até à data, o pedido de adesão de Marrocos à CEDEAO continua num limbo, quatro anos após a sua candidatura.

É igualmente importante notar que o funcionamento e a livre circulação deste posto fronteiriço, produto do expansionismo pela força militar, foi possível graças à inexplicável cumplicidade das autoridades mauritanas, que, apesar de reconhecerem a República Saharaui, violam a sua integridade territorial com uma impunidade espantosa, num ato que põe em causa a sua neutralidade supostamente meramente declaratória.

 

Contexto atual da brecha ilegal de El Guerguerat

Esta é a única via terrestre que liga Marrocos, através da República Saharaui e da Mauritânia, às profundezas da África Ocidental, evitando custos importantes de transporte marítimo ao proporcionar uma via terrestre direta do porto mediterrânico de Tânger a Dakar. Rabat supera assim o seu encapsulamento geográfico de décadas e reforça a sua ocupação do Sahara Ocidental, fazendo do fosso de El Guerguerat uma condição indispensável e a razão de ser da referida rota.

Atualmente, grande parte do comércio UE-África depende do posto fronteiriço clandestino de El Guerguerat, uma vez que Marrocos é o principal parceiro comercial da UE na região do Norte de África, além de manter Nouakchott dependente da rota para as grandes exportações de produtos hortícolas, bens de primeira necessidade e equipamentos electrónicos que recebe. Na mesma linha, para afastar a Mauritânia de qualquer posição favorável à República Saharaui, ameaça continuamente invadir La Guera para construir um porto marítimo que concorra com o porto de Nouadhibou, a cidade portuária mauritana mais movimentada. Marrocos, nas suas ambições expansionistas, procura apoderar-se de uma grande parte do espaço marítimo do Atlântico oriental.

Os contínuos bombardeamentos marroquinos efectuados na fronteira norte entre a República Saharaui, a Mauritânia e a Argélia contra civis e colunas de veículos comerciais (no momento da redação deste artigo, foram contabilizados 27 ataques com drones nos últimos dois anos) revelam que o objetivo é consolidar a sua presença neste posto fronteiriço e hegemonizar a rota Tânger-Dacar, aterrorizando a zona da tríplice fronteira acima mencionada, a fim de desencorajar os passageiros e os comerciantes que utilizam as rotas concorrentes de Tindouf-Zouerat e Nouakchott-Uargla e, consequentemente, obrigá-los a tornarem-se inoperantes e impossibilitá-los de canalizar as suas mercadorias.

Recentemente, o Presidente da Mauritânia, Mohamed Ould Ghazouani, anunciou o início do último troço das obras da estrada Tidjikja-Boumdeid, que liga a Argélia a Bamako (capital do Mali) através do território mauritano e que faz a ligação com a estrada Tindouf-Zoumdeid, numa tentativa de romper com a dependência marroquina e ligar o sul ao norte do país, ultrapassando as barreiras geográficas.

Por sua vez, este último troço vem juntar-se a uma estrada de 342 quilómetros que liga a Mauritânia, o Mali e o Senegal. Este troço ajudará, pois, Nouakchott a relançar a economia do país, sobretudo porque ligará as cidades do norte e do sul, completará a ligação da rede rodoviária que se estende da cidade de Zuérat ao extremo norte, contribuirá para o desenvolvimento da produção e permitirá a complementaridade com o Magrebe através do eixo Tidjikja-Atar-Zuérat e Tindouf, mas também com África através do outro eixo Sélibabi-Bamako, o que facilitará as trocas comerciais e o transporte de mercadorias.

Espera-se que este facto ajude a Mauritânia a sair da dependência de Rabat e a tomar uma posição forte em relação ao conflito saharaui.

 

A deslocação para o Sahara Ocidental da maioria do dispositivo militar
marroquino, e o envolvimento na exploração dos seus recursos de parte
da sua cadeia de comando, tem dissuadido as FAR de qualquer tipo de envolvimento em golpes militares contra o regime...

O estado de confusão de Marrocos

Marrocos está a reclamar contra os possíveis drones que a Frente POLISARIO adquirirá, enquanto se arma com os de Israel e da Turquia, então o que é legal para Marrocos não é legal para os outros? Em outubro passado, Marrocos, através do seu representante permanente junto da ONU, Omar Hilale, ameaçou que se a Frente POLISARIO adquirisse drones e os utilizasse, invadiria o resto do território saharaui.

Uma ameaça pouco credível dadas as consequências militares e políticas que desencadearia ao ameaçar a existência do Estado saharaui, por um lado, e por outro lado, porque é simplesmente uma declaração movida pela pressão do medo do desconhecido, pois foi a própria Rabat que se queixou à ONU, no ano passado, que a Frente POLISARIO tinha efectuado 724 operações de drones contra o muro militar na região de Mahbes e Hauza, sem que na altura tenha havido "resposta militar adequada", a não ser o bombardeamento indiscriminado de civis e de comboios mercantes que atravessam a passagem de e para a Mauritânia e a Argélia.

Aquele que é reconhecido por duas resoluções da ONU como uma força de ocupação ilegal do Sahara Ocidental, cujos drones mataram cidadãos de todos os seus vizinhos, acusa de terrorismo um movimento de libertação nacional reconhecido pela ONU que exerce o seu legítimo direito à autodefesa, esquecendo o seu apoio a grupos terroristas como o DAESH, a AQIM (JNIM) e a sua relação obscura com os terroristas do 11-M de Madrid.

Aquele que defende insistentemente que a Argélia deve participar nas negociações da mesa redonda como parte do conflito devido ao seu papel inalterável no apoio ao povo saharaui, esquece que a Frente POLISARIO, sob a mesma premissa, poderia também exigir a participação da França, da Espanha ou dos EUA pelo seu apoio declarado e esforços na manutenção de uma anexação ilegal. Aquele que se queixa das despesas da Argélia no financiamento da Frente POLISARIO, definindo-as como "promoção de um conflito artificial", esquece que ele gasta cinco vezes mais só com o custo das operações militares e a manutenção de dezenas de milhares de soldados das FAR na muralha militar da região que mantém anexada, sem contar com a "diplomacia de pasta" e as operações de influência mediática.

Apesar da opacidade do regime marroquino, as estatísticas do Tesouro marroquino reflectem despesas consideráveis no Sahara Ocidental ocupado: de 1978 a 1992, Rabat gastou quase dois mil milhões de dólares nas zonas ocupadas, sendo a operação PhosBucraa responsável pela maior parte das despesas. No mesmo contexto, durante o auge da guerra (1985-1991), os números estimam um desvio de 1 milhão de dólares por dia. Este fluxo contínuo de milhões para manter uma invasão militar ilegal tem vindo a aumentar à medida que a população cresce e, embora as despesas militares tenham sido reduzidas desde o cessar-fogo de 1991, o cessar-fogo foi o ponto de partida para investimentos em infra-estruturas de rentabilidade e legalidade duvidosas.

 Novamente em 2020, com a eclosão da guerra, as despesas militares aumentaram consideravelmente; em 2021 aumentaram 30% e em 2022 fizeram o maior investimento militar da sua história (4,8 mil milhões de dólares). Esta despesa militar é completamente incompatível com o seu PIB e rendimento per capita, o que levanta a questão de saber se Marrocos se está a armar ou a ser rearmado. Em todo o caso, a corrida aos armamentos não será sustentável a longo prazo.

 

Custos, custos e mais custos

Como se pode constatar, em apenas dois anos desde o início da guerra, o mapa do Magrebe foi abalado e, em particular, a economia marroquina, pelo que vale a pena perguntar: o que será dessa economia se acrescentarmos a cessação da atividade extractiva na mina de Bucraa e o desinvestimento generalizado nas energias renováveis nos territórios ocupados por se tratar de uma zona de guerra?

Na mesma linha, conhecendo as intenções de Marrocos há anos, para a Frente POLISARIO o simples facto de ter mantido uma tensão bélica no sul do território teria dissuadido os investidores estrangeiros em busca de minerais ou o estabelecimento de rotas comerciais eficazes e seguras como El Guerguerat. Enquanto a Argélia e a Mauritânia excluem Marrocos das rotas trans-saarianas e norte-africanas para perturbar o estratagema ilegal de El Guerguerat, a RASD não toma medidas militares nesta zona desde janeiro de 2021, quando quatro mísseis terra-ar lançados pelo ELPS, a 21 de janeiro, paralisaram a atividade no posto fronteiriço ilegal e cortaram temporariamente o fornecimento de eletricidade.

É preciso notar que a via artificial e ilegal marroquina de El Guerguerat se encontra numa zona de guerra aberta a qualquer eventualidade. Se a manifestação pacífica de cidadãos saharauis que conseguiu bloquear a estrada de El Guerguerat durante 24 dias causou milhões de dólares de prejuízos a Marrocos, obrigando-o a desviar navios e camiões para o porto de Dakhla ocupado, de quanto prejuízo estaríamos a falar se a paralisação da atividade comercial e aduaneira da brecha, que se tornou de interesse vital para Rabat, fosse indefinida?

O que será desta economia se acrescentarmos a cessação da atividade extractiva na mina de Bucraa e o desinvestimento generalizado nas energias renováveis nos territórios ocupados por se tratar de uma zona de guerra, e se acrescentarmos a destruição dos nós logísticos e de abastecimento da base militar marroquina de Bir Enzaran, a maior da região sul e um verdadeiro centro de abastecimento?

Perante o impasse diplomático e a intransigência irracional do regime marroquino, só a guerra o poderá fazer voltar-se para dentro de si próprio e reorientar as suas energias para a construção do seu sonho de grandeza dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas, um sonho que não signifique tragédia para os outros, em particular para o povo saharaui, que paga um preço elevado há quatro décadas. A sua aspiração a uma relação mais estreita com a União Europeia, a ser uma potência regional no seio da União Africana, exige um grande projeto económico e social.

Fazer compreender a Marrocos - em conformidade com o espírito e o quadro da proposta de resolução da Frente Polisario de 2007 -, que só o reconhecimento e o respeito da integridade territorial, as garantias de segurança e a cooperação económica com a RASD constituem a via pacífica mais benéfica para facilitar a rutura com a sua determinação em manter o território ocupado.

 

 

sábado, 27 de julho de 2024

"A adopção por parte da França desta postura hostil e escalatória exclui-a completamente de tudo o que esteja relacionado com os esforços internacionais relacionados com a descolonização" - afirma Governo da RASD em comunicado

 

O governo saharaui confirmou num comunicado emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros que a postura crescente da França em apoio ao chamado plano de autonomia a exclui completamente de tudo relacionado com os esforços internacionais relacionados com a descolonização.

A declaração explica que o governo republicano saharaui confirma que a adopção por parte da França desta postura hostil e escalonada exclui-a completamente de tudo relacionado com os esforços internacionais relacionados com a descolonização do Sahara Ocidental, mas antes coloca-a na categoria de ocupante e torna-a uma parte indesejável para a parte saharaui, incluindo a sua participação na missão do Referendo das Nações Unidas no Sahara Ocidental (MINURSO).

 

Texto da declaração:

 

Ministério das Relações Exteriores

República Árabe Saarauí Democrática

 

COMUNICADO

O Governo da República Saharaui (RASD) condena nos termos mais fortes a afirmação relatada pelo Governo Francês da sua posição hostil em relação ao povo saharaui e ao seu direito inalienável à liberdade, independência e autodeterminação. Esta situação, que constitui uma escalada perigosa, terá consequências graves para a paz, segurança e estabilidade em toda a região.

O povo saharaui nunca esquecerá o passado colonial da França e seu envolvimento direto nas tentativas de exterminar o nosso povo e suprimir sua resistência desde o início do século XX e em meados dos anos cinquenta e setenta. A França também usou sua máquina militar, incluindo aeronaves Jaguar, para bombardear civis saharauis, e ela continua a fornecer apoio multidimensional à ocupação ilegal do Sahara Ocidental por parte de Marrocos desde 31 de outubro de 1975.

Esta posição, que é contrária aos princípios do direito internacional e às obrigações internacionais da França como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, revela o envolvimento da França na agressão em curso contra o povo saharaui. Também confirma claramente que a França é cúmplice direta e premeditada de todos os crimes associados à guerra genocida contínua travada pelo estado de ocupação marroquino contra nosso povo.

Além disso, essa posição revela mais uma vez a verdadeira face colonial da França, que se gaba de ser o “berço” da primeira declaração universal dos direitos humanos. Aqueles que realmente abraçam os direitos humanos não apoiam a ocupação de um território que aguarda ser descolonizado. Aqueles que realmente defendem a democracia e a soberania dos povos não apoiam um regime invasor, repressivo e expansionista. Aqueles que realmente buscam manter a paz e a segurança internacionais não alimentam estratégias de tensão apoiando descaradamente o expansionismo e a anexação forçada dos territórios de outros.

O Governo da República Saharaui (RASD) afirma que, ao tomar esta posição hostil e escalonada, a França excluiu-se de tudo o que se relaciona com os esforços internacionais para descolonizar o Sahara Ocidental. Isto também coloca a França no mesmo lugar que o ocupante e torna-a indesejável no que diz respeito à parte saharaui, incluindo a sua participação na Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO).

O Governo da República Saharaui (RASD) reafirma que o povo saharaui frustrará todos os desígnios do estado de ocupação marroquino e daqueles que o apoiam, como a França colonial. O povo saharaui está igualmente mais determinado do que nunca a continuar a sua luta e resistência por todos os meios legítimos, incluindo a luta armada, para defender os seus direitos imprescritíveis e não negociáveis ​​à liberdade e à independência e ao estabelecimento da soberania sobre toda a República Árabe Saharaui Democrática (RASD).

Bir Lehlou, 26 de julho de 2024

Argélia exprime a sua "profunda desaprovação" do apoio da França ao plano de autonomia de Marrocos

Macron consegue que as relações franco-argelinas
atinjam um dos pontos mais baixos e tensos de sempre...

 

Argel, 25 Jul 2024 (SPS) A Argélia exprimiu na quinta-feira a sua "profunda desaprovação" pela decisão "inesperada, inapropriada e contraproducente" da França de apoiar o plano de autonomia para o Sahara Ocidental defendido por Marrocos, afirmando que o governo argelino "tirará todas as consequências decorrentes desta decisão francesa", pela qual o governo francês "é o único responsável total e completo".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros sublinha que "a decisão foi comunicada oficialmente às autoridades argelinas pelas autoridades francesas nos últimos dias" e que "as potências coloniais, antigas e recentes, sabem reconhecer-se e compreender-se e estenderem a sua mão amiga".

De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros(MNE) Argelino, "a decisão francesa resulta claramente de um cálculo político duvidoso, de um a priori moralmente questionável e de interpretações jurídicas que nada apoiam ou justificam".

"Esta decisão francesa não contribui para criar as condições de uma resolução pacífica da questão do Sahara Ocidental, mas antes reforça o impasse criado pelo pretenso plano de autonomia marroquino, que dura há mais de dezassete anos", afirma.

Para o MNE argelino, "apesar de a comunidade internacional estar há muito convencida de que a questão do Sahara Ocidental se inscreve indubitavelmente num processo de descolonização que deve ser completado, esta decisão francesa perverte e distorce os factos ao endossar um facto colonial e ao dar um apoio injustificável à soberania contestada e contestável de Marrocos sobre o território do Sahara Ocidental".

Esta posição francesa, prossegue o comunicado, "é tanto mais inoportuna quanto emana de um membro permanente do Conselho de Segurança que é suposto agir em conformidade com as decisões deste órgão de uma forma particular e com a legalidade internacional de uma forma geral".

"Finalmente, no momento em que a boa vontade das Nações Unidas se mobiliza para dar um novo fôlego à procura de uma solução para o conflito do Sahara Ocidental, a mesma decisão francesa contraria esses esforços, cuja implantação frustra e dificulta no melhor interesse da paz, da estabilidade e da segurança na região", deplora o MNE.

O governo argelino constata que a decisão francesa "não contribui em absolutamente nada para o objetivo de paz no Sahara Ocidental, que contribui para prolongar um impasse e que justifica e ajuda a consolidar o facto consumado colonial neste território", afirma.

"O governo argelino assumirá todas as consequências decorrentes desta decisão francesa, pela qual o governo francês é o único responsável", conclui o comunicado. (SPS)

Parecer consultivo do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) sobre a Palestina "aplica-se plenamente ao Sahara Ocidental


 

Nova Iorque, 25 Jul 2024 (SPS) As conclusões do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) no seu parecer consultivo sobre as consequências jurídicas das políticas e práticas da entidade sionista nos territórios palestinianos ocupados, incluindo Jerusalém Oriental, "aplicam-se plenamente ao Sahara Ocidental", um território ocupado pela força e cujo povo está privado do exercício do seu direito à autodeterminação, que é, no entanto, uma norma peremptória do direito internacional, afirmou o representante da Frente Polisario junto da ONU e coordenador da Minurso, Sidi Mohamed Omar.

"O recente parecer consultivo do TIJ é um passo jurídico importante para a questão palestiniana porque foi emitido pelo principal órgão judicial das Nações Unidas. A sua importância reside também no facto de incluir um conjunto de conclusões jurídicas que são plenamente aplicáveis ao Sahara Ocidental, um território que também está ocupado pela força e o seu povo está privado do seu direito à autodeterminação, que é uma norma peremptória do direito internacional, tal como confirmado pelo Tribunal", sublinhou em entrevista à APS.

Segundo o representante da Frente Polisario na ONU, o recente parecer consultivo do TIJ sobre a Palestina e os anteriores pareceres jurídicos emitidos por instâncias judiciais internacionais e continentais "apoiarão os argumentos jurídicos do povo saharaui na sua luta pela conquista dos seus legítimos direitos à autodeterminação, à independência e ao exercício da soberania permanente sobre os seus recursos naturais".

O coordenador da Frente Polisario com a MINURSO (Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental) considerou também "impossível" qualquer progresso no processo de paz no Sahara Ocidental se não for exercida pressão sobre o ocupante marroquino para o obrigar a empenhar-se seriamente na operação, apesar dos esforços do enviado pessoal do secretário-geral da ONU, Staffan de Mistura, que se mostra, no entanto, determinado a sair do atual impasse.

"No seu discurso perante o Conselho de Segurança em abril passado, o enviado pessoal do Secretário-Geral da ONU para o Sahara Ocidental, Staffan de Mistura, exprimiu a sua vontade de redobrar os seus esforços para reativar o processo de paz, prosseguindo o diálogo com as duas partes, orientado pela necessidade de sair do atual impasse.

No entanto, apesar dos esforços do enviado pessoal, penso que é praticamente impossível esperar qualquer progresso no processo de paz se o Estado de ocupação marroquino não for forçado a empenhar-se de forma séria e responsável no processo, abandonando a política do 'business as usual'", sublinhou, observando que esta abordagem é "adoptada por alguns membros do Conselho de Segurança".

"Isso nunca poderá conduzir a uma paz justa e duradoura, como o demonstraram os recentes acontecimentos no Médio Oriente", acrescentou, reafirmando a disponibilidade dos saharauis em "cooperar com os esforços das Nações Unidas e da União Africana para encontrar uma solução pacífica e duradoura para o conflito entre a República saharaui e o Reino de Marrocos, em conformidade com o direito internacional e os objectivos e princípios do Ato Constitutivo da União Africana".

 

Logotipo do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ)

MINURSO incapaz de cumprir a sua missão

O embaixador Sidi Mohamed Omar deplorou igualmente a incapacidade da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO) em cumprir a sua missão, explicando esse fracasso pela "falta de vontade política do ocupante marroquino, que continua a levantar conscientemente obstáculos à organização do referendo, porque é certo que o povo saharaui optará pela independência".

A outra razão pela qual o referendo não se realizou foi que “o Conselho de Segurança, devido à influência de alguns dos seus membros permanentes, não conseguiu responder com firmeza aos obstáculos colocados por Marrocos e garantir a plena execução do mandato da MINURSO”.

“Por mais que o ocupante marroquino intensifique a sua política agressiva, e por mais alianças antigas ou novas que faça, o povo saharaui acredita na justeza da sua causa e agarra-se firmemente aos seus direitos inalienáveis, inegociáveis e imprescritíveis, nomeadamente à autodeterminação e à independência”, acrescentou.

Para o representante da Frente Polisario na ONU, a inclusão do Sahara Ocidental na lista de territórios não autónomos da ONU desde 1963 sublinha o carácter internacional da questão saharaui como uma questão de descolonização, de acordo com o capítulo onze da Carta da ONU, e o reconhecimento internacional daí resultante.

“Nesta base, o direito do povo saharaui à autodeterminação e à independência é um direito inalienável e imprescritível, e ninguém, seja quem for, pode retirá-lo ao povo saharaui, pois é um direito adquirido como resultado da luta, da resistência e dos sacrifícios do nosso povo determinado a existir livre e soberanamente na sua terra e a defender os seus direitos e aspirações nacionais por todos os meios legítimos”, concluiu. (SPS)

Brahim Ghali: "Ninguém pode obrigar o povo saharaui a renunciar aos seus direitos legítimos à liberdade e à independência"

 


24 julho 2024 (SPS) - O Presidente da República e secretário-geral da Frente POLISARIO, Brahim Ghali, afirma que "ninguém pode obrigar o povo saharaui a renunciar aos seus direitos legítimos à liberdade e à independência".

Durante o encerramento da 12.ª edição da Universidade de Verão dos Quadros Saharauis, que decorreu na Wilaya argelina de Boumerdas, Brahim Ghali afirmou que "ninguém pode obrigar o povo saharaui a renunciar aos seus direitos legítimos ou às suas terras roubadas, nem mesmo com decisões injustas ou agressivas, que supostamente reconhecem a soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental como a realizada com a ocupação sionista das terras palestinianas e árabes, apesar de serem consideradas decisões hostis que violam a Carta da ONU, as suas resoluções, assim como os princípios do direito internacional e do direito humanitário internacional".

"Estas decisões imprudentes só levarão à provocação de mais guerras e destruições, como a trágica guerra sofrida pelo povo palestiniano em Gaza, juntamente com o estado de tensão que caracteriza toda a região do Médio Oriente".

A este respeito, o Presidente da República alertou para "o perigo que Marrocos representa para a paz e a estabilidade na região do Norte de África, cujas políticas expansionistas não só afectam o território da República saharaui, mas também os seus vizinhos Argélia e Mauritânia". (SPS)

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Presidente Ramaphosa reitera solidariedade da África do Sul com o povo saharaui

 


SPS - 23/07/2024 - O Presidente da República da África do Sul, Cyril Ramaphosa, reiterou na terça-feira a firme posição de solidariedade do seu país com a luta do povo saharaui pela autodeterminação e independência.

Em discurso no Parlamento, Ramaphosa disse: "desta tribuna, expressamos a nossa solidariedade com o povo do Sahara Ocidental e da Palestina, que continuam a ser privados do seu direito à autodeterminação". (SPS)

sábado, 20 de julho de 2024

Marrocos espia com drones e câmaras de reconhecimento os saharauis nos terrirórios ocupados

 

Israel tem fornecido a Marrocos toda uma parafernália
de drones militares e de vigilância

ECS 19-07-2024 - Autores: A.H e Lehbib Abdelhay | O exército de ocupação marroquino instalou um vasto sistema de vigilância, incluindo câmaras de reconhecimento e sensores de movimento, nos territórios ocupados do Sahara Ocidental, soube o “Confidencial Saharaui” em exclusivo.

Desde o (re)início da guerra no Sahara Ocidental há três anos, a repressão do regime marroquino sobre os saharauis pelas suas forças com o objetivo de os eliminar física e ideologicamente tem vindo a aumentar. A grande vaga de represálias desencadeada nos primeiros meses da guerra, sobretudo contra jornalistas e ativistas dos direitos humanos, em particular mulheres e jovens menores, provocou protestos que foram também reprimidos e desmantelados pelas forças de ocupação marroquinas.

O cerco nos territórios ocupados é extraordinariamente intenso, a rede repressiva é implacável e atinge todos os sectores, áreas e esferas da sociedade civil saharaui que vive nas cidades de El Aaiún, Smara, Dakhla e Bojador. Estão sujeitos não só à violência física, mas também à discriminação laboral, escolar e profissional. Uma segregação que tem como critério o pensamento político de cada indivíduo e o seu estatuto de saharaui.

 

El Aaiún, a capital do Sahara Ocidental, é a cidade
mais vigiada de todo o território...

Os olhos e os ouvidos de Marrocos

A ocupação marroquina mantém o controlo das zonas ocupadas do Sahara Ocidental, não só militarizando as ruas e as grandes avenidas, mas também colocando informadores no interior dos bairros populares sob a forma de mendigos ou de guardas em parques de estacionamento, mesquitas, lojas, cafés, etc., para não falar da política de distribuição da população muito comedida que o ocupante adoptou desde a revolta de Gdeim Izik (2010 - acampamento da Dignidade, que juntou milhares de saharuis às portas da capital e que literalmente esmagado pelas forças marroquinas), que o deixou em estado de pânico.

 As suas agências, conhecidas pela sua precisão inigualável de gestão, secretismo e organização, recorreram ao estabelecimento de famílias de colonos nos bairros populares saharauis. Não se limitaram a fazer com que os blocos populacionais fossem divididos em partes iguais entre saharauis e colonos, rompendo assim com a tradicional incubadora popular dos heróis da revolta, que tomaram esses bairros como refúgio para se salvarem da perseguição e da prisão. Trata-se de um velho e novo método utilizado pela ocupação desde a sua invasão do Sahara Ocidental, em meados dos anos 70, até agora. A França aprendeu-o muito bem com a "Casbah" argelina e foi o principal conselheiro de Marrocos na ocupação criminosa que ainda mantém.

Para além do cerco demográfico imposto, a ocupação restringe a livre circulação das pessoas dentro e fora das cidades ocupadas, a ocupação impõe um outro tipo de cerco que lhe permite seguir os movimentos dos activistas políticos saharauis e de personalidades conhecidas, bem como penetrar nos seus círculos sociais, nas suas relações pessoais, vigiar a segurança e as pessoas que os visitam constantemente, chegando por vezes a vigiar o tipo de compras que fazem, os seus locais de compra, as suas fontes de rendimento, etc.

Isto é feito através da colocação de câmaras de vigilância pertencentes aos serviços secretos de ocupação marroquinos diretamente nas ruas, lojas, cafés e salões de casamento, sobretudo para impedir o hastear de bandeiras da República saharaui e para proibir a entoação de canções revolucionárias, algo para o qual o Ministério do Interior marroquino destacou os artistas saharauis e advertiu-os das consequências de executar quaisquer canções revolucionárias, ameaçando aqueles que violassem estas ordens. Foram registados vários casos de intrusão em salões de casamento durante a execução de canções revolucionárias. Um desses casos ocorreu no verão passado, quando os presentes foram agredidos, os instrumentos musicais foram partidos, a banda foi assediada e a artista Malainin Huda foi interrogada. Outros convidados presentes foram perseguidos e agredidos.

Na sequência da normalização de Marrocos com a entidade sionista e do recomeço da luta armada, Rabat fez todas as concessões e privilégios a esta última em troca de lhe fornecer apoio logístico na sua guerra contra os saharauis, tanto militar como civil.

Marrocos recebeu lotes de drones israelitas, incluindo drones suicidas e drones portadores de mísseis. Entre estes drones, recebeu drones de reconhecimento com GPS para determinar localizações e tirar fotografias aéreas, e começou de facto a utilizá-los no início de 2024.

Os serviços secretos da ocupação marroquina foram mais longe e foi-lhes confiada uma tarefa: a fotografia aérea das habitações de todos os saharauis e a determinação da sua localização geográfica, cada um segundo a zona em que opera e segundo a sua divisão administrativa. Esta tarefa tem duas vertentes, uma relacionada com a segurança e a recolha de informações, e a segunda está intimamente ligada à contagem dos saharauis em relação aos colonos que inundaram as zonas ocupadas nos últimos dez anos, alterando a realidade demográfica das cidades ocupadas, constituindo já a maioria dos seus habitantes.

Este acompanhamento diário, de todos os ângulos, com dados e imagens em tempo real, permite à ocupação controlar totalmente a vida dos saharauis e impor o controlo sobre as suas fontes de subsistência, ora para os chantagear, ora para negociar entre a opção de continuar com a fonte de subsistência e trair um filho, uma filha ou um familiar por estarem a lutar contra a presença dos marroquinos. Em ambos os casos, as consequências são suportadas pela família saharaui, quer esta perca um emprego devido ao ativismo de um dos seus membros, quer um ou vários dos seus membros sejam brutalmente torturados devido à denúncia de outro membro da família.

Esta perseguição e vigilância permanentes não se limitam à zona urbana, tendo-se alargado, nos últimos cinco anos, ao deserto aberto, aos pastos dos nómadas beduínos e saharauis, controlando de perto os seus movimentos e atividades diárias, com receio de uma surpresa de segurança, como dizem os securocratas do «makhzen», uma vez que é proibido montar mais de três tendas em conjunto. A este respeito, é de notar que também é proibido montar tendas fora de um raio de 60 km das cidades ocupadas, e que todo o tipo de ajuntamentos é estritamente proibido. Mesmo as visitas a túmulos, locais emblemáticos e celebrações em santuários são proibidas e requerem uma licença emitida pelo Ministério do Interior ocupante e devem ser assistidas pelos seus representantes. Como condição, as autoridades de ocupação exigem o hastear da bandeira marroquina durante o evento e a pronúncia de palavras que glorifiquem o seu monarca Mohamed VI.

2010: Acampamento de Gdeim Izik, o maior protesto civil no Sahara Ocidental, desde a ocupação marroquina em 1975, reuniu mais de 15 mil tendas e foi brutalmente desmantelado... 

Por fim, é de salientar que a ocupação começou a utilizar a tecnologia de reconhecimento da íris e o desenho da estrutura craniana dentro dos territórios ocupados desde o verão de 2023, ligando este procedimento ao Fundo de Segurança Social e ligando este último a qualquer documento administrativo que o indivíduo deseje extrair. Assim, exige primeiro que os saharauis obtenham o código para o recenseamento do Fundo de Segurança Social, obrigando assim todos a passar por este procedimento de segurança e a armazenar os seus dados.

O regime marroquino transformou os territórios saharauis ocupados numa espécie de vasta prisão a céu aberto, utilizando a repressão desproporcionada como instrumento de intimidação e de construção de consensos pela força da violência, infligindo espancamentos, torturas, perseguições, violações, julgamentos arbitrários, agressões e prisões domiciliárias, cortes deliberados nos serviços de eletricidade, água e telefone, entre outras violências documentadas e registadas, que constituem a espinha dorsal da política colonial marroquina de manutenção da ocupação.

França: jornalista saharaui ameaçado de morte

 

O jornalista Mohamed Radi Ellili

19 julho | Fonte: Correo Diplomatico Saharaui - O jornalista saharaui Mohamed Radi Ellili foi ameaçado de morte diante de centenas de cidadãos saharauis e marroquinos que seguiam a emissão em direto realizada por aquele profissional, que luta pela independência do Sahara Ocidental.

"Vais morrer! Estas foram as palavras proferidas por um cidadão marroquino durante a transmissão em direto no Youtube do jornalista saharaui exilado em França, Mohamed Radi Ellili. "Todos nós vamos morrer um dia. Ninguém pode escapar à morte", respondeu o defensor da independência do Sahara Ocidental, um território reconhecido como "não autónomo" pelas Nações Unidas.

A ameaça de morte foi proferida pelo cidadão marroquino diante de centenas de testemunhas que assistiam ao programa dedicado ao conflito do Sahara Ocidental. Ellili centrou o debate numa questão: "O Sahara Ocidental era marroquino antes de 1975? Uma questão muito sensível em Marrocos, onde a população é vítima da propaganda do regime sobre a antiga colónia espanhola invadida por Rabat após a retirada do colonizador espanhol.

Chocado mas determinado, e apoiado pela opinião pública saharaui, Elli foi aconselhado a apresentar queixa por ameaças de morte, enquanto jornalista e refugiado político em França, país onde os serviços secretos marroquinos atuam impunemente. Zakaria Moumni viveu uma experiência amarga neste domínio. Depois de ter sido ameaçado e agredido, o antigo campeão de boxe franco-marroquino teve de abandonar a França e exilar-se no Canadá, onde foi acolhido como refugiado político.

 

A Guerra no Sahara Ocidental de 16 de Junho a 14 de Julho

 


Os ataques levados a cabo pelo Exército de Libertação do Povo Saharaui (ELPS) prosseguiram ao longo destes 28 dias. Aqui damos conta das principais operações militares levadas a cabo pelo Exército de Libertação do Povo Saharaui (ELPS) neste período.

16 Junho - Unidades do ELPS atacaram através de um forte bombardeamento concentrado o quartel-general de um batalhão inimigo, situado no sector de Mahbes.

De acordo com o Relatório de Guerra tornado público pelo Departamento de Organização Política do Exército Popular de Libertação Saharaui, destacamentos avançados do nosso exército lançaram, um bombardeamento concentrado contra o quartel-general de um batalhão das Forças Reais Marroquinas instalado em Mahbes.

17 Junho: Unidades das forças armadas saharauis levaram a cabo uma série de ataques coordenados contra várias bases inimigas situadas nas regiões de Gararat Al-Firsik e Sabjat Tanuchad, no sector de Mahbes, causando consideráveis perdas humanas e materiais nas fileiras das forças de ocupação marroquinas.

19 junho - O Exército Popular Saharaui de Libertação (ELPS) atacou uma base inimiga na região de Alfeiyin, no sector de Farsia, no nordeste do território do Sahara Ocidental ocupado, causando perdas humanas e materiais nas fileiras das forças marroquinas de ocupação aí estacionadas.

20 junho - Unidades do Exército Popular de Libertação Saharaui (ELPS) atacaram várias bases das tropas inimigas posicionadas nas regiões de Laagd e Guerat Ould Blal, no sector de Mahbes, causando perdas humanas e materiais nas suas fileiras.

22 junho - Disparos de artilharia saharaui atingem armazéns de munições e pontos militares inimigos no sector de Mahbes, no extremo nordeste do SO ocupado, causando baixas mortais nas fileiras do exército invasor marroquino.

 A Direção Central do Comissariado Político do ELPS, reitera em comunicado que as forças saharauis “elevaram a sua presença militar ao longo do muro militar marroquino e continuam a assediar o inimigo, causando e infligindo perdas e baixas mortais e destruindo material de guerra ao exército ocupante”.

30 Junho - Unidades do ELPS bombardeiam bases inimigas na zona de Aleidyat, no sector de Guelta, na zona central e oeste do Sahara Ocidental ocupado.




01 julho - Várias posições e bases de retaguarda das forças de ocupação marroquinas no sector de Mahbes, são bombardeadas por unidades do ELPS, causando baixas e perdas materiais nas fileiras inimigas. Entre essas operações, merecem destaque os bombardeamentos contra bases da retaguarda perto da localidade de Mahbes; contra bases na região de Skeikima, na região de Laagad, e na região de Tanuchad.

Na véspera,unidades do exército saharaui haviam já devastado posições e entrincheiramentos inimigos na região de Rus Asabti, no mesmo sector de Mahbes.

02 julho - O quartel-general de um batalhão inimigo situado no sector de Mahbes, é bombardeada, resultando desse ataque consideráveis perdas humanas e materiais nas fileiras do exército marroquino de ocupação.

03 Julho - Unidades do Exército Popular de Libertação Saharaui (ELPS) atacam várias bases inimigas instaladas na região de Gararat Al-Attasa, em Mahbes, causando perdas humanas e materiais nas suas fileiras.

06 julho - A Direção Central do Comissariado Político do SPLA, informa que unidades do Exército Popular Saharaui de Libertação (ELPS) levaram a cabo um ataque contra o quartel-general da 7.ª Brigada perto da localidade ocupada de Mahbes, causando baixas mortais nas fileiras do exército invasor marroquino.

11 julho - Destacamentos avancados do ELPS decadeiam um ataque com mísseis contra as forças de ocupação marroquinas entrincheiradas na região de Laagad, no sector de Mahbes.