quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

O WSRW denuncia expansão das renováveis no Sahara Ocidental como ferramenta da ocupação marroquina

 


O Observatório dos Recursos do Sahara Ocidental - Western Sahara Resource Watch (WSRW) - publicou esta quinta-feira um novo relatório que alerta para o uso crescente de projectos de energias renováveis no Sahara Ocidental ocupado como instrumento de reforço da presença marroquina no território. Intitulado “Greenwashing Occupation“ - “Ecoblanqueo de la ocupación” - , o documento descreve em detalhe a multiplicação de parques eólicos e infraestruturas associadas – muitos liderados por multinacionais como Engie, Enel, Siemens Energy ou GE Vernova – construídos sem o consentimento do povo saharaui, exigido pelo direito internacional.

Segundo o relatório, estes projetos, apresentados por Rabat como símbolos de progresso ambiental, alimentam indústrias extrativas, novas zonas agrícolas destinadas a atrair colonos, e estão preparados para fornecer energia à rede elétrica marroquina e, futuramente, à própria União Europeia. Em 2025, Marrocos anunciou que grandes unidades de dessalinização em Casablanca e Agadir dependerão da energia eólica gerada no território ocupado. O país também procura posicionar o Sahara Ocidental como zona estratégica para a produção de hidrogénio verde.




O WSRW sublinha que esta energia “verde” reforça a dependência estrutural de Marrocos do território que ocupa, comprometendo os esforços de paz da ONU e o processo de autodeterminação do povo saharaui. Paralelamente, critica a aceitação, pela Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (CMNUCC), de relatórios marroquinos que incluem projetos realizados fora das fronteiras internacionalmente reconhecidas do país.

O relatório acusa ainda várias empresas de não procurarem o consentimento do povo saharaui, substituindo-o por consultas a “atores locais”, uma abordagem já considerada ilegal pelo Tribunal de Justiça da União Europeia. Apesar dessa jurisprudência, a UE prepara-se para apoiar projetos de energia renovável no Sahara Ocidental no âmbito de um novo acordo comercial com Marrocos, o que, segundo o WSRW, poderá traduzir-se em financiamento direto da ocupação.



O documento também aponta o crescente envolvimento de empresas espanholas: a seguradora pública CESCE deverá garantir a ligação de parques eólicos a uma dessalinizadora construída pela Acciona em Casablanca; a Cox construirá outra em Agadir; e a TSK planeia novos projetos na região. Siemens Gamesa continua a fornecer turbinas aos parques eólicos instalados no território ocupado.

O WSRW exige:

  • A retirada das empresas envolvidas em projetos energéticos no Sahara Ocidental;

  • O fim da inclusão, por Marrocos, de ações climáticas realizadas fora do seu território reconhecido;

  • A suspensão, por parte da União Europeia, de qualquer apoio financeiro ou político a projetos no território sem o consentimento prévio e expresso do povo saharaui.


Segundo a organização, desde o seu relatório anterior, em 2021, a infraestrutura renovável marroquina no Sahara Ocidental expandiu-se de forma “dramática”, agravando uma situação que considera ser “mascarada sob o rótulo da sustentabilidade”.

Baixe o Relatório AQUI

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