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domingo, 30 de janeiro de 2011
Descobertos documentos com listas de desaparecidos saharauis: uma tragédia esquecida
Mulheres, crianças e anciãos saharauis constam da lista dos desaparecidos.
Um longo documento mantido em segredo revela o destino de centenas de pessoas desaparecidas desde 1958 até 1992 no Sahara Ocidental. Nos cárceres morreram também adolescentes e crianças. Duras críticas da comunidade internacional ao Governo de Marrocos.
A lista foi divulgado para surpresa geral, talvez inclusive por erro, a través de uma organização próxima do governo de Rabat, o Conselho Real Consultivo para os Direitos Humanos (CCDH), instituição criada para averiguar das violações contra os direitos humanos e promover a reconciliação nacional.
Trata-se de uma lista detalhada, terrível, que se manteve em segredo durante décadas e estaria destinada provavelmente a permanecer clandestina para sempre, já que contém os nomes e as histórias dos desaparecidos saharauis, 352 detidos e desaparecidos entre 1958 e 1992; combatentes das "gentes do deserto" lutando pela autodeterminação e a sobrevivência de uma comunidade que vive em condições deploráveis.
"O documento da vergonha”, segundo o definiu o jornalista Malainine Lakhlal recentemente em Itália num programa de ajuda humanitária da responsabilidade do CISP (Comité Internacional para o Desenvolvimento dos Povos), na região de Emilia-Romana, a cidade e o Centro para a Educação e a Ciência de Forlì.
Há milhares de nomes na lista, 352 dos quais, como se mencionou, são saharauis. E as histórias que ele revelam contam que há também dezenas de velhos, mulheres e crianças de quem nada se sabe há mais de trinta anos.
Crianças, sim, mas também adolescentes, e também bebés com as suas mães, mortos nos cárceres e campos de concentração de Agdez Kalaat Magoun: "Duas prisões de horror”, como as define Lakhlal, secretário da União de Jornalistas e Escritores Saharauis (UPES).
A Carta fala de 115 crianças que passaram pela prisão, 14 das quais morreram atr´+as das grades.
Aziza Brahim Sid, capturado com a sua mãe em 1976 — um ano depois da "gloriosa" Marcha Verde do Rei Hassan II — morrem em pouco tempo, já que não pôde resistir ao frio e morreu de fome em apenas três ou quatro meses.
Reguia Zahou, tinha 13 anos quando os soldados atacaram a aldeia onde vivia com o seu irmão Mohamed e a sua irmã Safia. Após sete meses, a sua saúde agravou-se, ao ponto de vir a morrer na prisão. Também Safia Mohamed de quem, desde esse dia, nunca mais se chegou a saber o paradeiro.
Walid El Mahfoud Belgadi tinha só dois anos em 1977, quando foi levado para a prisão juntamente com toda a sua família. Mantiveram-no Numa cela escura da base militar de Smara. Algum tempo depois a sua mãe foi posta em liberdade, mas ele já tinha morrido há alguns meses.
Mustapha, Mohamed Abderrahman, Horma, Taleb, Brahim, Bachir: diferentes nomes, histórias todas elas terrivelmente parecidas. Crianças e adolescentes sequestrados que morreram atrás das grades sem saber porquê.
Na lista estão também nomes de pelo menos onze mulheres, treze executados pelo tribunal marcial imediatamente após a "Marcha Verde" e centenas de desaparecidos pelos quais, durante anos, as organizações não governamentais de todo o mundo reclamaram em busca de justiça. Desde 1961 (o Sahara Ocidental estava ainda sob controlo espanhol) até 1992 houve pelo menos 191 mortes na prisão. Mas existe também uma longa lista de números, fria e implacável, com os caídas no campo de batalha, os deportados, os que permaneceram por uns dias no hospital depois dos combates, mas logo desapareceram ou deixaram de viver.
A associação Right Monitoring solicitou e obteve uma tradução do relatório que deveria ter permanecido escondido da opinião pública. Agora a lista está na net: "Ao longo dos anos — afirma — Marrocos foi acusado de uso sistemático de detenção e execuções extrajudiciais, especialmente contra aqueles que se opuseram à ocupação do Sahara Ocidental.
Isso foi negado categoricamente pelas autoridades marroquinas desde os anos noventa pelo Conselho Real Consultivo para os Direitos Humanos — os quais dizem que os direitos humanos se vão respeitando gradualmente, mas, sobretudo no Sahara Ocidental, o abuso continua a ser a norma."
"O documento está traduzido em Inglês, mas em breve estará disponível em outros idiomas — afirma Malainine Lakhlal — porque queremos que todo o mundo esteja ao corrente destes crimes, na esperança de que Ocidente, desta vez, decida realmente intervir em nome de um povo que só pediu para não ser colonizado."
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