domingo, 31 de julho de 2011

Festa do trono: guerra civil no “majzen” marroquino

  
O professor constitucionalista Carlos Ruiz Miguel, da Universidade de Santiago de Compostela, reflecte no seu blog "Desde el Atlántico" sobre os últimos acontecimentos ocorridos em Marrocos, e afirma: “O regime alauita parece que atravessa um momento crítico. Não recordo momentos tão instáveis desde os anos 1971 e 1972 quando se produziram os atentados contra Hassan II, o pai de Mohamed VI de Marrocos.”

A 30 de Julho Mohamed VI celebrou a sua entronização. Não é boa a situação do seu regime. Por mais que o lobby pro-marroquino não goste, a verdade é que a situação em Marrocos é extremamente instável. A operação "constitucional" de Mohamed VI fracassou. Deixando de lado as considerações que se podem fazer sobre a fraude no referendo, é um facto que a nova "Constituição" não preencheu as expectativas do povo que reclama por mais democracia. E, neste contexto, produzem-se lutas internas pelo poder no interior do majzen marroquino que parece que chegam a extremos de tentativas de assassinato.

I. FRACASSO DA OPERAÇÃO PSEUDO-CONSTITUCIONAL...
Embora na sequência do fraudulento referendo se tenham desencadeado uma chusma de felicitações ao majzen (de que aqui já dei conta, em particular do grave erro cometido pelo Partido Popular de Espanha), o certo é que a mobilização popular não cessou.
Os meios de comunicação espanhóis guardam um suspeito silêncio sobre a questão, mas os protestos prosseguem em Marrocos. No entanto, todos aqueles membros do "lobby" que se queixavam do "desconhecimento" que há em Espanha sobre o que se passa em Marrocos não parecem preocupados, porque conhecem os protestos existentes contra o majzen.
Depois da "maciça aprovação " da nova "Constituição" não deixaram de se produzir  manifestações de protesto:

II. ...E AS LUTAS PELO PODER NO MAJZEN
Neste contexto em que, pela primeira vez, o povo perdeu o medo à tirania alauita, o nervosismo e as dissensões entre os diversos sectores do majzen atingem proporções alarmantes.

1. Guerra entre a espionagem interna e externa.
O primeiro episódio tivemo-lo na luta (que já vem de longe) entre o chefe da espionagem exterior (Yasín Mansuri) e os que continuam a mandar na espionagem interna, ainda que não ocupem neste cargos oficiais (Fuad Ali Himma e Munir Mayidi).
O atentado de Marraquexe do dia 28 de Abril de 2011 não parece alheio a esta polémica. O jornalista Rashid Niny, uns dias antes do atentado de Marraquexe publicou no seu jornal informações que questionavam o verdadeiro papel do serviço secreto interno (então controlado por Himma) nos atentados de 16 de Maio de 2003 em Casablanca.
Tudo parece indicar que a espionagem externa utilizou um jornalista da sua órbita (Rashid Niny) para, através de "oportunas" revelações, procurar abortar o eventual projecto da espionagem interna de um atentado para alterar o curso político do regime ou enviar uma "mensagem" a França.
Tudo parece dar a entender que o sector de Himma se impôs a Mansuri.

2. A espionagem interna procura liquidar o poder militar?
Neste contexto, surgem três novos acontecimentos sem dúvida preocupantes.

O primeiro é a informação publicada em Marrocos por “Le Reporter” com este título que já diz tudo: "O general Benslimán escapou a um atentado?".

O segundo é o estranho assassinato do guarda-costas pessoal de Mohamed VI. Ainda que pudesse ter havido uma motivação privada ou pessoal (era ele amante de algum homem ou mulher importante do majzen?), o assassinato parece que tem mão militar, segundo investigação do serviço secreto interno. Estamos perante um confronto entre o exército e o serviço secreto do interior?

E o terceiro é a queda do avião militar em que morreram todos os passageiros. Um desastre sobre o qual existem graves interrogações. Tal como aventou Leonardo Urrutia, a pergunta a fazer é: tratou-se de liquidar alguém? A pergunta é tanto mais pertinente, sobretudo se se atender a que, até ao dia de hoje,... não me consta que tenha sido publicada a lista de passageiros mortos... ou a lista de passageiros inicialmente prevista, para saber se houve alguém que estava previsto que viajasse no avião e à última hora não o fez...
O avião tinha partido de Dajla, a antiga Villa Cisneros. Será que era Benanni, o chefe do exército de ocupação do Sahara, ou alguém da sua «entourage» era o objecto do eventual "acidente"?

III. CONCLUSÃO
O regime alauita parece que atravessa um momento crítico. Não recordo momentos tão instáveis desde os anos 1971 e 1972, quando se produziram os atentados contra Hassan II, o pai de Mohamed VI, de Marrocos.
Dessa instabilidade acreditou-se sair com a entrega do Sahara Ocidental, facilitada pelo lobby espanhol pro-marroquino.
Não sei se alguém no lobby pro-marroquino espanhol terá agora a tentação de "dar uma mão" ao majzen, entregando Ceuta e Melilla. O certo é que o majzen está a lançar vagas de emigrantes contra estas duas cidades espanholas, o que é, indubitavelmente, uma chantagem.
A entrega do Sahara Ocidental não trouxe estabilidade a Marrocos. Apenas provocou o reforço de um regime criminoso e corrupto.
Neste momento, creio que só a cumplicidade ou a estupidez podem levar a pensar que mais “entreguismo” espanhol possa salvar o regime alauita.

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