A deslocação obedece à especial relação de Don Juan Carlos
com Mohamed VI. Segundo fontes diplomáticas «é uma vantagem que não têm outros
países e, chegado o momento, a balança inclina-se»
O Rei [de Espanha]
empreenderá amanhã [hoje, segunda-feira, 15 de julho] uma viagem a Marrocos que
tanto o Palácio da Zarzuela como os Negócios Estrangeiros qualificam de «importantíssima»
para os interesses políticos, económicos e culturais da Espanha e que se
realiza numa série de circunstâncias únicas. Por um lado, Don Juan Carlos converter-se-á
no primeiro Chefe de Estado a realizar uma visita oficial no Ramadão, gesto a que
– para além do aspeto anedótico - se lhe outorga um grande valor político.
O Monarca tinha previsto ter realizado esta viagem em março
passado, quando se lhe agravou a hérnia discal a que teve que ser operado. A visita
foi adiada e Don Juan Carlos manifestou desejo que a primeira viagem que faria
quando os médicos o permitissem seria a Marrocos. Finalmente, a sua recuperação
coincidiu com o Ramadão e foi o seu anfitrião, o Rei de Marrocos, quem insistiu
que a visita se realizasse no mês sagrado dos muçulmanos. Em círculos
diplomáticos este gesto é interpretado como uma prova de confiança.
A viagem é única também pelo elevado número de ministros que
se deslocarão a Rabat (partem 3ª feira e regressam a Madrid nessa mesma noite)
para acompanhar Don Juan Carlos na jornada com maior conteúdo político e empresarial.
a pesar de no passado dia 9 de março, terça-feira, cinco ministros marroquinos (de
30) terem apresentado a sua demissão, esta circunstancia não afetará a viagem do
Rei. Segundo Rabat, «todo o Governo está mobilizado para que a visita seja um êxito».
Além do del titular dos Negócios Estrangeiros, José Manuel García-Margallo, que
permanecerá com o Rei durante toda a visita — que se inicia segunda-feira e
termina quinta—, terça-feira juntar-se-ão os ministros do Interior, Jorge
Fernández Díaz; da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón; Fomento, Ana Pastor, e Indústria,
José Manuel Soria.
Mas o que é verdadeiramente inédito é que também acompanharão
o Rei nove dos doze ministros dos Negócios Estrangeiros que a Espanha teve
durante a democracia: Marcelino Oreja (UCD), José Pedro Pérez-Llorca (UCD), Javier
Solana (PSOE), Carlos Westendorp (PSOE), Abel Matutes (PP), Josep Piqué (PP),
Ana Palacio (PP) , Miguel Ángel Moratinos (PSOE) e Trinidad Jiménez (PSOE).
Mensagem de consenso
Com a presença destes ex-ministros, o Rei transmite a Marrocos
a mensagem de que a relação entre os dois países é fruto do consenso e não está
submetida a vais-vens políticos. Este gesto do Rei também tem como leitura no
plano nacional: a capacidade de Don Juan Carlos de unir a as distintas forças políticas
na defensa dos interesses de Espanha. Juntamento com os políticos, viajarão a
Rabat os presidentes ou conselheiros delegados de 27 importantes empresas espanholas,
como a Acciona, Abengoa, ACS, OHL, Ferrovial, Técnicas Reunidas, Talgo, Iberia,
Inditex, Telefónica, Endesa ou Indra.
“Overbooking” de empresários
Segundo fontes diplomáticas, «houve overbooking» de empresários
para realizar esta viagem e foi dada preferência aqueles que «têm grandes operações
em Marrocos ou projetos eminentes que há que apoiar». A delegação empresarial é
encabeçada pela CEOE, pela Cepyme e pelas Câmaras de Comércio.
Toda esta deslocação obedece à relação quase familiar de Don
Juan Carlos com Mohamed VI. Segundo fontes diplomáticas, «temos uma vantagem que
não têm outros países: a especial relação do Rei com a Família Real. Chegado o
momento, isso faz inclinar a balança». O certo é que Espanha conseguiu arrebatar
a França o posto de primeiro parceiro comercial de Marrocos, onde estão instaladas
800 empresas espanholas, embora sejam 20.000 as que mantêm relação com o país magrebino.
A viagem do Rei também tem como objetivo impulsionar o espanhol num país em que
o francês é a primeira língua estrangeira. Com este objetivo, acompanharão Don
Juan Carlos o diretor do Instituto Cervantes, Víctor García de la Concha, e treze
reitores de universidades.
A visita do Rei realiza-se num momento em que as relações bilaterais
são «excelentes e com vocação de continuidade». Não obstante, como o volume de relações
é muito alto também são muitas as incidências que se produzem entre ambos os países,
embora «todas se resolvam a nível de Embaixada». Neste momento, Espanha e Marrocos
estão a negociar a delimitação das águas jurisdicionais, sobre as que há discrepâncias,
com o objetivo de desenvolver prospeções petrolíferas nas Ilhas Canárias.
Don Juan Carlos chaga hoje pela tarde ao aeroporto de Rabat,
onde o estará esperando o Rei de Marrocos e nesta mesma noite ambos os monarcas
terão uma refeição privada no Palácio Dar Essalam. O Rei, que se alojará no Palácio
Real de Hóspedes, iniciará a sua visita terça-feira com a deposição de uma
coroa de flores ao Mausoléu de Mohamed V, avô do atual monarca. A partir desse momento,
terá início uma agenda de contatos políticos, económicos e culturais ao mas
alto nível.
Fonte ABC
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