segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Rei Juan Carlos viaja a Rabat com cinco ministros, nove ex-ministros e 27 empresários


 O diário espanhol ABC, em artigo assinado por Almudena Martínez-Fornés, dá-nos o retrato o mais subserviente possível, mas também muito realista, dos propósitos que levam o Rei de Espanha e a sua farta comitiva a visitar Marrocos. Sobre o ex-Sahara espanhol ou a defesa dos DDHH dos seus antigos súbditos coloniais nem uma palavra. "Businesses" parece ser a palavra que motiva e entusiasma a comitiva real espanhola. Entre os negócios 'mas sucios' poderá estar o reforço da venda de material bélico a utilizar no Sahara Ocidental...
  
A deslocação obedece à especial relação de Don Juan Carlos com Mohamed VI. Segundo fontes diplomáticas «é uma vantagem que não têm outros países e, chegado o momento, a balança inclina-se»

O Rei [de Espanha] empreenderá amanhã [hoje, segunda-feira, 15 de julho] uma viagem a Marrocos que tanto o Palácio da Zarzuela como os Negócios Estrangeiros qualificam de «importantíssima» para os interesses políticos, económicos e culturais da Espanha e que se realiza numa série de circunstâncias únicas. Por um lado, Don Juan Carlos converter-se-á no primeiro Chefe de Estado a realizar uma visita oficial no Ramadão, gesto a que – para além do aspeto anedótico - se lhe outorga um grande valor político.

O Monarca tinha previsto ter realizado esta viagem em março passado, quando se lhe agravou a hérnia discal a que teve que ser operado. A visita foi adiada e Don Juan Carlos manifestou desejo que a primeira viagem que faria quando os médicos o permitissem seria a Marrocos. Finalmente, a sua recuperação coincidiu com o Ramadão e foi o seu anfitrião, o Rei de Marrocos, quem insistiu que a visita se realizasse no mês sagrado dos muçulmanos. Em círculos diplomáticos este gesto é interpretado como uma prova de confiança.

A viagem é única também pelo elevado número de ministros que se deslocarão a Rabat (partem 3ª feira e regressam a Madrid nessa mesma noite) para acompanhar Don Juan Carlos na jornada com maior conteúdo político e empresarial. a pesar de no passado dia 9 de março, terça-feira, cinco ministros marroquinos (de 30) terem apresentado a sua demissão, esta circunstancia não afetará a viagem do Rei. Segundo Rabat, «todo o Governo está mobilizado para que a visita seja um êxito». Além do del titular dos Negócios Estrangeiros, José Manuel García-Margallo, que permanecerá com o Rei durante toda a visita — que se inicia segunda-feira e termina quinta—, terça-feira juntar-se-ão os ministros do Interior, Jorge Fernández Díaz; da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón; Fomento, Ana Pastor, e Indústria, José Manuel Soria.

Mas o que é verdadeiramente inédito é que também acompanharão o Rei nove dos doze ministros dos Negócios Estrangeiros que a Espanha teve durante a democracia: Marcelino Oreja (UCD), José Pedro Pérez-Llorca (UCD), Javier Solana (PSOE), Carlos Westendorp (PSOE), Abel Matutes (PP), Josep Piqué (PP), Ana Palacio (PP) , Miguel Ángel Moratinos (PSOE) e Trinidad Jiménez (PSOE).

Mensagem de consenso

Com a presença destes ex-ministros, o Rei transmite a Marrocos a mensagem de que a relação entre os dois países é fruto do consenso e não está submetida a vais-vens políticos. Este gesto do Rei também tem como leitura no plano nacional: a capacidade de Don Juan Carlos de unir a as distintas forças políticas na defensa dos interesses de Espanha. Juntamento com os políticos, viajarão a Rabat os presidentes ou conselheiros delegados de 27 importantes empresas espanholas, como a Acciona, Abengoa, ACS, OHL, Ferrovial, Técnicas Reunidas, Talgo, Iberia, Inditex, Telefónica, Endesa ou Indra.

“Overbooking” de empresários

Segundo fontes diplomáticas, «houve overbooking» de empresários para realizar esta viagem e foi dada preferência aqueles que «têm grandes operações em Marrocos ou projetos eminentes que há que apoiar». A delegação empresarial é encabeçada pela CEOE, pela Cepyme e pelas Câmaras de Comércio.

Toda esta deslocação obedece à relação quase familiar de Don Juan Carlos com Mohamed VI. Segundo fontes diplomáticas, «temos uma vantagem que não têm outros países: a especial relação do Rei com a Família Real. Chegado o momento, isso faz inclinar a balança». O certo é que Espanha conseguiu arrebatar a França o posto de primeiro parceiro comercial de Marrocos, onde estão instaladas 800 empresas espanholas, embora sejam 20.000 as que mantêm relação com o país magrebino. A viagem do Rei também tem como objetivo impulsionar o espanhol num país em que o francês é a primeira língua estrangeira. Com este objetivo, acompanharão Don Juan Carlos o diretor do Instituto Cervantes, Víctor García de la Concha, e treze reitores de universidades.

A visita do Rei realiza-se num momento em que as relações bilaterais são «excelentes e com vocação de continuidade». Não obstante, como o volume de relações é muito alto também são muitas as incidências que se produzem entre ambos os países, embora «todas se resolvam a nível de Embaixada». Neste momento, Espanha e Marrocos estão a negociar a delimitação das águas jurisdicionais, sobre as que há discrepâncias, com o objetivo de desenvolver prospeções petrolíferas nas Ilhas Canárias.


Don Juan Carlos chaga hoje pela tarde ao aeroporto de Rabat, onde o estará esperando o Rei de Marrocos e nesta mesma noite ambos os monarcas terão uma refeição privada no Palácio Dar Essalam. O Rei, que se alojará no Palácio Real de Hóspedes, iniciará a sua visita terça-feira com a deposição de uma coroa de flores ao Mausoléu de Mohamed V, avô do atual monarca. A partir desse momento, terá início uma agenda de contatos políticos, económicos e culturais ao mas alto nível.

Fonte ABC

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