sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Aminatou Haidar desmente que Marrocos esteja a negociar a legalização de ONGs saharauis


O Conselho de Direitos Humanos de Rabat tem a intenção de recomendar ao rei Mohamed VI que legalize algumas organizações em El Aaiún.

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) de Marrocos, órgão consultivo nomeado pelo rei Mohamed VI, tem previsto recomendar a legalização das duas principais organizações de direitos humanos integradas por saharauis independentistas em El Aaiún, capital da ex-colónia espanhola. Assim o deixaram entender alguns meios do país magrebino e o mesmo foi confirmado à agência Efe pelo secretário-geral deste organismo, Mohamed Sebbar.

«Não é verdade que a nossa ONG tenha entabulado negociações com o CNDH», como publicou o diário marroquino Ajbar Al Yaum, declara ao ABC Aminatou Haidar, a mais conhecida dos ativistas saharauis e presidente do Coletivo de Defensores de Direitos Humanos Saharauis (Codesa), uma dessas duas ONGs que poderiam ser legalizadas. «Ninguém me contactou sobre o tema» nem «segundo as minhas informações há nada oficial» ainda que «se tenha falado muito do tema» na esfera pública.

O debate sai à luz coincidindo com a chegada na noite de terça-feira de Mohamed VI a Washington, onde tem previsto um encontro com o Presidente Barack Obama. Ambos os países protagonizaram uma briga azeda, no passado mês de abril, precisamente a respeito dos direitos humanos no Sahara Ocidental.

Haidar, presa política durante vários períodos em cárceres marroquinos, mede o seu otimismo a conta-gotas e recorda que o «nosso direito é o de ser uma ONG autorizada e legal».

Tal como o Codesa, também poderia vir a receber a chancela da legalidade a Associação Saharaui de Vítimas de Violações de Direitos Humanos (ASVDH), presidida por Brahim Dahán, outro ativista e histórico preso político por lutar a favor dos direitos humanos e a independência da colonia espanhola.

Tanto o Codesa como a ASVDH levam anos a trabalhar no terreno não só a favor da realização do referendo de autodeterminação e a independência, mas denunciando os abusos que as autoridades marroquinas cometem no território que controlam desde a saída de Espanha em 1975.

O CNDH não tem poderes executivos e, portanto, não pode legalizar as organizações saharauis. Embora seja um organismo que tenha ganho estatuto e com o qual Rabat, que desde 01 de janeiro fará parte do Conselho de Direitos Humanos da ONU, está tentando adoçar a imagem do regime.

«Engano»

Haidar entende que trazer este debate, neste momento, à luz pública pode tratar-se de um "engano", uma balão de ensaio antes da chegada de Mohamed VI Marrocos aos Estados Unidos.

Estados Unidos e Marrocos protagonizaram um desencontro diplomático importante quando no passado mês de abril Washington propôs que a missão da ONU no Sahara Ocidental (Minurso) fosse dotada do mandato necessário para a vigilância dos direitos humanos, já que neste momento é a única missão de paz na ONU no mundo que não dispõe desse estatuto.

A iniciativa não viria a ser aprovada, mas Rabat, tradicional aliado dos norte-americanos, tomaram-no como uma afronta. Ambos tratam agora de que as águas voltem ao seu leito.


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