Mohamed VI, |
Mal de muitos... Se acaso serve de consolo a alguém, diga-se
que o Makhzen marroquino não engana apenas empresários espanhóis. Também engana
empresários e muito ricos, mesmo americanos. É o caso de John Paul DeJoria, empresário que estava envolvido numa operação petrolífera
em Marrocos e que resultou nume enorme fraude. DeJoria, que está tentando recuperar
o seu dinheiro, processou os seus parceiros marroquinos num tribunal do Texas
(EUA) dada a impossibilidade de o fazer em Marrocos por falta de garantias
judiciais.
I. O ESCÂNDALO DO
FALSO PETRÓLEO DE TALSINT, O MAIOR RIDÍCULO DE MOHAMED VI
A 20 de agosto de 2000, apenas um ano depois de subir ao trono,
Mohamed VI protagonizou o episódio
mais ridículo do seu reinado. Nesse dia pronunciou um discurso anunciando ao seu
povo que havia encontrado petróleo em Talsint.
Lembre-se que não foi só o incauto povo marroquino, mas
também um jornalista espanhol supostamente especialista em questões de
petróleo, que acreditou, chegando mesmo a publicar num livro surgido pouco
tempo depois que Marrocos se tinha tornado numa potência petrolífera....
ignorando a advertência que eu próprio lhe fiz para que não acreditasse na propaganda
do regime. É certo que o jornalista não se tem saído mal, alguns anos mais tarde
foi nomeado diretor de uma grande agência do governo.
É inútil tentar encontrar este mesmo discurso real no site
oficial de Marrocos.
Ele foi FEITO DESAPARECER!
Também em Marrocos há discípulos de Orwell.
II. O ESCÂNDALO
FINANCEIRO DE TALSINT E A FRAUDE AO MULTIMILIONÁRIO NORTE-AMERICANO DEJORIA
Na sociedade que ia a explorar esse suposto petróleo havia dois
milionários norte-americanos, John Paul
Dejoria (dono da "Skidmore Energy") e Michael Gustin. Ambos constituíram uma empresa chamada "Lone
Star" para esse objetivo em sociedade com marroquinos. Posteriormente, a
sociedade mudou o seu nome para "Maghreb Petroleum Exploration" (MPE)
e passou a ser controlada por Mulay
Abdellah Alaui, um primo de Mohamed VI.
A fim de avançar na alegada exploração de petróleo de Talsint
a "Lone Star" teve que contratar onerosíssimas empresas
especializadas em perfuração. Uma vez que a "Lone Star" estava
descapitalizada houve que capitalizá-la, pelo que entrou em ação um fundo com
sede no Liechtenstein, propriedade de um amigo milionário saudita da família
real marroquina (Salah Kamel). O
fundo foi chamado de "Tatu" mas, mais tarde, mudou o seu nome para Mideast
Fund for Morocco (MFM).
O problema surge quando o fundo "Tatu" encarrega a
KPMG-Marrocos de uma auditoria à "Lone Star". Nesta auditoria não figuravam
os custos que o milionário americano DeJoria tinha realizado na "Lone
Star" através da sua empresa "Skidmore".
O facto levou a que os parceiros (marroquino-sauditas)
que entraram no capital da "Lone Star" não tenham assumido os encargos
realizados pelo seu parceiro americano.
Em 2007, um periódico crítico do regime, o "As-sahifa"
publicou uma carta de um dos proprietários da "Skidmore Energy",
Michael Gustin, que afirmava ter pago uma comissão de 13 milhões de dólares a
Mohamed VI a troco da concessão de licenças de prospeção petrolíferas em Marrocos.
III. A EMPRESA NORTE-AMERICANA
"SKIDMORE ENERGY" PROCURA INOCENTEMENTE DEFENDER OS SEUS INTERESES
ANTE A "JUSTIÇA" MARROQUINA...
Os proprietários da "Skidmore energy" sentiram-se enganados
e quiseram recorrer aos tribunais.
O seu erro foi pensar que o podiam fazer junto dos tribunais
"marroquinos".
Em 2002 iniciaram um processo ante o que consideravam como
"justiça" marroquina. O processo foi concluído em 2009 com a condenação
dos demandantes (DeJoria e Gustin). A 31 de dezembro de 2009, o tribunal de
Comércio de Rabat condenou ambos a pagar 122 milhões de dólares, a título de
perdas e juros, às empresas "Maghreb Petroleum Exploration" (MPE, ex
-Lone Star) e "Mideast Fund for Morocco" (MFM, ex-Tatu) que, como se disse
antes, são controladas, respetivamente, pelo príncipe Mulay Abdellah Alaui e
pelo xeque saudita Salah Kamel.
IV. ... MAS UMA VEZ
CONHECIDA A SENTENÇA, APRESENTA AÇÃO JUDICIAL NOS TRIBUNAIS DOS ESTADOS UNIDOS
ALEGANDO QUE EM MARROCOS NÃO EXISTE ESTADO DE DIREITO
Como informa o "Maghreb Confidentiel" no seu número
1082 o ex-patrão da "Skidmore Energy", o milionário norte-americano
John Paul DeJoria tenta, desde junho de 2013, convencer o tribunal federal do
Texas que declare "nula e inaplicável" a sentença de condenação do Tribunal
de Comércio de Rabat.
DeJoria é defendido pelos escritórios de advogados "Minton,
Burton, Bassett & Collins" e "Baker & McKenzie",
John-Paul DeJoria. Por sua vez, os réus são defendidos por Azeddine Kabbaj (marroquino, também advogado da ABN AMRO, Sheraton
e Méridien em Casablanca) e por Abed
Awad (sócio de Awad & Khoury em New Jersey).
O prejudicado, DeJoria, articula a sua defesa em três eixos
que convertem este processo numa autêntica causa contra o sistema judicial
marroquino.
Em primeiro lugar, questiona a competência da justiça
marroquina.
Em segundo lugar, denuncia um grave infração das formas
processuais já que, nem o início do processo no ano de 2002 nem a conclusão do
mesmo, em finais de 2009, DeJoria foi notificado na forma devida, como em
qualquer Estado de Direito.
E, em terceiro lugar, declara a falta de imparcialidade da
"justiça" marroquina desde que resultou implicado no processo um parente
de Mohamed VI. Neste sentido, a defesa de DeJoria apresentou um documento de uma
importância fundamental. Segundo publicou o Maghreb
Confidentiel, no seu número 1087, DeJoria requereu em 2005 os serviços de um
advogado francês, Bernard Dessaix, para o defender no seu processo judicial em Marrocos.
No entanto, o advogado francês recusou defender DeJoria com
argumentos que são verdadeiramente devastadores. Segundo o Maghreb Confidentiel
(traduzo):
DeJoria apresentou cartas do advogado parisiense Bernard Dessaix, a
quem contactou em 2005 para que o defendesse em Marrocos. Este declinou,
respondendo que seria "perigoso" para DeJoria iniciar um processo que
implique um primo do rei, e que nenhum advogado estrangeiro poderia "por em
questão a palavra de um descendente do profeta" sem correr riscos.
Gustin, o sócio de DeJoria na "Skidmore energy", foi
um dos convidados do jantar que Bill Clinton ofereceu a Mohamed VI na Casa Branca.
Poderá ter pensado que isso blindaria os negócios em Marrocos. Equivocou-se.
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