quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Escândalo: a cúpula militar espanhola reúne em Rabat com um processado por genocídio

Almirante Fernando García Sánchez
[Chefe de Estado Maior da Defesa]

 Cinismo, falta de sentido de oportunidade, ausência de inteligência ou cumplicidade? É difícil saber. O facto é que a cúpula militar espanhola reuniu-se em Rabat com um dos altos militares marroquinos acusado de genocídio no mesmo dia em que os peritos confirmaram na Audiência Nacional que vários espanhóis, que de acordo com Marrocos viviam em El Aaiun ocupado, na realidade jaziam numa vala comum desde 1976, no deserto do saharaui.

I. O ALMIRANTE FERNANDO GARCÍA SÁNCHEZ E A CÚPULA MILITAR ESPANHOLA REÚNEM-SE EM RABAT COM O CRIMINOSO HOSNI BENSLIMÁN...
Ontem, 12 de fevereiro, o almirante Fernando García Sánchez [Chefe de Estado Maior da Defesa]  chegou a Rabat encabeçando  uma delegação militar espanhola.
A notícia, inexistente na imprensa espanhola, foi divulgada pela sinistra agência de informação do Majzen (MAP), divertindo-se, talvez, com a humilhação dos visitantes...
No despacho da MAP afirma-se que o almirante Fernando García Sánchez e a delegação militar espanhola tiveram um encontro com dois importantes membros do Majzen: o general Bennani e o general Benslimán.
O general Abdelaziz Bennani, chefe do Exército de ocupação do Sahara Ocidental, acusado de estar implicado na corrupção e exploração ilegal dos recursos pesqueiros do Sahara Ocidental ocupado e, segundo um dos telegramas revelados por Wikileaks, de quem os próprios Estados Unidos suspeitam que possa ter cumplicidades com o tráfico de drogas no Sahara.
Por seu lado, o general Hosni Benslimán tem uma trajetória especialmente tétrica e é um dos imputados pela Audiência Nacional no “Procedimiento Abreviado” 362/2007.

 
Os Generais marroquinos Abdelaziz Bennanni e Hosni Benslimán 

I. ... O MESMO DIA QUE OS PERITOS CERTIFICAM QUE OS SAHARAUIS QUE, SEGUNDO RABAT, VIVIAM EM EL AAIÚN TINHAM SIDO ASSASSINADOS E ENTERRADOS EM FOSSAS COMUNS.
Ontem foram chamados a depor ante o juiz de Instrução da Audiência Nacional os peritos que, recentemente, descobriram várias fossas comuns com os cadáveres de CIVIS de origem saharaui, e de nacionalidade espanhola, que foram assassinados pelo Exército marroquino por ocasião da invasão do Sahara Ocidental, em 1976.
Os peritos eram os doutores Francisco Etxeberría (o forense que identificou os ossos das crianças assassinadas pelo parricida do caso Bretón) e Carlos Beristain.
Segundo informou a agência EFE e o diário El País os peritos identificaram claramente que várias das vítimas eram cidadãos espanhóis no momento de serem cobardemente assassinados.

III. CINISMO, AUSÊNCIA DE INTELIGÊNCIA ESPANHOLA, FALTA DE OPORTUNIDADE, CUMPLICIDADE?
É difícil encontrar explicação para o facto absolutamente lamentável de que a cúpula militar espanhola vá visitar um criminoso investigado por assassinar espanhóis no mesmo dia em que se confirma a nacionalidade das vítimas.
A invasão do Sahara Ocidental, administrado por Espanha, e o assassinato dos nativos saharauis, que tinham nacionalidade espanhola foi, sem qualquer tipo de dúvidas, uma ação de inimizade para com a Espanha.
Pode-se argumentar que há algum tipo de "interesse" em manter uma relação com uma potência inimiga. Mas mesmo nessa cínica possibilidade há que ter sentido de oportunidade para que a gestão desse alegado "interesse" não degenere em humilhação ou cumplicidade, como parece ter sido o aqui caso. Porque se os serviços de inteligência espanhóis não sabiam, embora a informação tivesse sido anunciada publicamente dias atrás que ia ser apresentada á Audiência Nacional esta prova pericial, é algo que constitui uma falha muito séria. E se a informação era conhecida, então a questão é realmente pior.

Alguém deverá responder por isto.

Autor: Carlos Ruiz Miguel, prof. de Direito Constitucional na Universidade de Santiago de Compostela

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