Bilal Ag Acherif, secretário-geral do Movimento Nacional
para
a Libertação do Azawad (MNLA), recebido pelo rei Mohamed VI de Marrocos
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Tunísia, Líbia, Mali, todos contam com a ajuda da Argélia
para acabar com a ameaça terrorista. Delegações dos três países sucedem-se em
Argel para buscar apoio militar e económico. Esta realidade conta bastante no que
poderá vir a ser o desfecho do conflito no Sahara Ocidental.
Para manter o controlo sobre o Sahara Ocidental, Marrocos tenta
a todo custo evidenciar um poder à altura da Argélia. Mas Rabat não tem nem os meios
económicos nem militares. Marrocos não tem também fronteiras com todos esses
países para poder vender o seu apoio. O País de Mohamed VI só pode confiar nas
suas mentiras, enganos e tergiversações.
Neste contexto, Rabat tenta impor uma presença ilusória no Mali,
em vésperas da visita de uma delegação do Conselho de Segurança a Bamako
realizada em conjunto com a França e o Chade para tentar reanimar o processo de
paz, a fim de encontrar uma solução para a situação no norte do país.
A visita dos líderes tuaregues do MNLA à capital marroquina visa
dar Marrocos o lugar de que carece para igualar a Argélia e, assim, impor as
suas ambições coloniais no Sahara Ocidental.
Mali: riscos de jogo
entre Marrocos e o MNLA
Marrocos está muito interessado no dossiê Mali, quando o prossegue
trabalho de mediação da Argélia no apoio a Bamako na procura de uma normalização
no norte, reduto da rebelião tuaregue.
Sexta – feira, 31 de janeiro, o rei de Marrocos, Mohammed
VI, recebeu uma delegação do Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA)
movimento rebelde no norte do Mali. Durante esta entrevista, Mohammed VI pediu À
delegação do MNLA a "permanecer aberto ao diálogo político" no país.
Por seu lado, a delegação do MNLA reafirmou a sua
disponibilidade e empenho para uma solução política duradoura para o conflito que
opõe o Azawad ao Governo do Mali, acrescentou a fonte. O MNLA, afirma um comunicado
divulgado após a audiência que lhe foi concedida pelo monarca marroquino,
decidiu empenhar-se numa "diplomacia ativa junto de todos os Estados amantes
da paz e da estabilidade” na região.
A iniciativa do Marrocos de entrar em contato com os
rebeldes do MNLA é uma ação enganosamente diplomática mas completamente normal
de um país que não esconde sua ambição de poder ser «ator» na resolução da
crise no norte do Mali. Ela, no entanto, levanta questões e perguntas, pelo
menos duas quanto ao significado desta iniciativa. Qual poderá ser o seu sentido
político e diplomático, quando as relações com a Argélia conhecem há vários
meses uma tensão recorrente e cuja nova expressão poderá ser uma competição
geopolítica no imenso e altamente sensível território do Sahel.
Primeira pergunta: porque razão Rabat convida e dialoga com o
MNLA, um grupo independentista hostil ao Estado central do Mali, a quem acusou no
seu comunicado de ser uma fonte de "bloqueios" e de "impasse",
em que " perigosamente coloca o processo político em curso". Declaração
contida no seu comunicado de imprensa e que não deixa transparecer uma vontade
de apaziguamento.
A segunda questão relaciona-se com o ‘timing’ da audiência
real ao grupo rebelde Tuareg e o "porquê agora", quando a Argélia,
oficialmente apoiada pelo Presidente maliano Ibrahim Boubacar Keita desde sua
visita a Argel a 18 de janeiro último, realiza uma mediação para encontrar um
campo de convergência entre Bamako e grupos rebeldes no norte do país. Esta
questão é tanto mais pertinente quanto o MNLA, que não visitou Argel recentemente
como outros grupos rebeldes, permanece, até prova em contrário, numa posição de
distanciamento face aos esforços argelinos de mediação.
Alguns observadores vêm nas declarações e reações deste
grupo a expressão de uma atitude morna, ou mesmo hostil para com a Argélia,
provavelmente alimentada pelo facto de Argel, desde que está envolvida nos
esforços aproximação entre grupos de tuaregues do norte do Mali e Bamako, nunca
ter admitido nem querido ouvir falar de teses abertamente separatistas e ameaçadoras
da intangibilidade do território do Mali e de suas fronteiras definidas desde a
sua independência do domínio colonial francês, em 1960. Será que assistimos a
uma convergência estratégica entre Rabat e o MNLA para minar os esforços
diplomáticos argelinos, ou procurar encontrar-lhe uma alternativa? A resposta
não é fácil, na medida em que Marrocos não pode dar-se ao luxo de dar
visibilidade a um grupo em declínio de importância no norte do Mali, e ainda
por cima independentista, sem risco de ser lembrado que rejeita qualquer
diálogo com a Frente Polisario, que milita pela independência do Sahara
Ocidental.
Neste caso, a hipótese menos arriscada é a de que Marrocos,
provavelmente com o consentimento da França, cujas relações com o MNLA se
deterioraram, de acordo com alguns observadores do Mali, pretende fazer deste grupo
rebelde uma carta no jogo em que a Argélia está fortemente empenhada. A
hipótese também se aplica ao MNLA que, claramente isolado, busca o apoio de
Marrocos e de intervenientes diplomáticos regionais e internacionais que o
possam ajudar a ultrapassar um contexto onde exibe hostilidade para com a
Argélia, que parece ter muitas vantagens na mão, incluindo o apoio do chefe do
governo do Mali e seu governo eleito.
Autor : Yanis Koceyla
Fonte : Diaspora Saharaui – 03-02-2016
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