terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Marrocos encurralado no Sahara, procura fazer-se convidado para o Mali

Bilal Ag Acherif, secretário-geral do Movimento Nacional 
para a Libertação do Azawad (MNLA), recebido pelo rei Mohamed VI de Marrocos

 O mundo qualifica a Argélia como uma potência regional. Mesmo Nicolas Sarkozy o havia reconhecido publicamente. É uma realidade que vale seu peso no equilíbrio de poder no Magrebe. Em particular, desde que o Norte de África se viu atingido por essa onda de instabilidade que ameaça atravessar o Mediterrâneo para a margem norte.

Tunísia, Líbia, Mali, todos contam com a ajuda da Argélia para acabar com a ameaça terrorista. Delegações dos três países sucedem-se em Argel para buscar apoio militar e económico. Esta realidade conta bastante no que poderá vir a ser o desfecho do conflito no Sahara Ocidental.

Para manter o controlo sobre o Sahara Ocidental, Marrocos tenta a todo custo evidenciar um poder à altura da Argélia. Mas Rabat não tem nem os meios económicos nem militares. Marrocos não tem também fronteiras com todos esses países para poder vender o seu apoio. O País de Mohamed VI só pode confiar nas suas mentiras, enganos e tergiversações.

Neste contexto, Rabat tenta impor uma presença ilusória no Mali, em vésperas da visita de uma delegação do Conselho de Segurança a Bamako realizada em conjunto com a França e o Chade para tentar reanimar o processo de paz, a fim de encontrar uma solução para a situação no norte do país.

A visita dos líderes tuaregues do MNLA à capital marroquina visa dar Marrocos o lugar de que carece para igualar a Argélia e, assim, impor as suas ambições coloniais no Sahara Ocidental.

Mali: riscos de jogo entre Marrocos e o MNLA

Marrocos está muito interessado no dossiê Mali, quando o prossegue trabalho de mediação da Argélia no apoio a Bamako na procura de uma normalização no norte, reduto da rebelião tuaregue.

Sexta – feira, 31 de janeiro, o rei de Marrocos, Mohammed VI, recebeu uma delegação do Movimento Nacional de Libertação de Azawad (MNLA) movimento rebelde no norte do Mali. Durante esta entrevista, Mohammed VI pediu À delegação do MNLA a "permanecer aberto ao diálogo político" no país.


Por seu lado, a delegação do MNLA reafirmou a sua disponibilidade e empenho para uma solução política duradoura para o conflito que opõe o Azawad ao Governo do Mali, acrescentou a fonte. O MNLA, afirma um comunicado divulgado após a audiência que lhe foi concedida pelo monarca marroquino, decidiu empenhar-se numa "diplomacia ativa junto de todos os Estados amantes da paz e da estabilidade” na região.

A iniciativa do Marrocos de entrar em contato com os rebeldes do MNLA é uma ação enganosamente diplomática mas completamente normal de um país que não esconde sua ambição de poder ser «ator» na resolução da crise no norte do Mali. Ela, no entanto, levanta questões e perguntas, pelo menos duas quanto ao significado desta iniciativa. Qual poderá ser o seu sentido político e diplomático, quando as relações com a Argélia conhecem há vários meses uma tensão recorrente e cuja nova expressão poderá ser uma competição geopolítica no imenso e altamente sensível território do Sahel.

Primeira pergunta: porque razão Rabat convida e dialoga com o MNLA, um grupo independentista hostil ao Estado central do Mali, a quem acusou no seu comunicado de ser uma fonte de "bloqueios" e de "impasse", em que " perigosamente coloca o processo político em curso". Declaração contida no seu comunicado de imprensa e que não deixa transparecer uma vontade de apaziguamento.

A segunda questão relaciona-se com o ‘timing’ da audiência real ao grupo rebelde Tuareg e o "porquê agora", quando a Argélia, oficialmente apoiada pelo Presidente maliano Ibrahim Boubacar Keita desde sua visita a Argel a 18 de janeiro último, realiza uma mediação para encontrar um campo de convergência entre Bamako e grupos rebeldes no norte do país. Esta questão é tanto mais pertinente quanto o MNLA, que não visitou Argel recentemente como outros grupos rebeldes, permanece, até prova em contrário, numa posição de distanciamento face aos esforços argelinos de mediação.

Alguns observadores vêm nas declarações e reações deste grupo a expressão de uma atitude morna, ou mesmo hostil para com a Argélia, provavelmente alimentada pelo facto de Argel, desde que está envolvida nos esforços aproximação entre grupos de tuaregues do norte do Mali e Bamako, nunca ter admitido nem querido ouvir falar de teses abertamente separatistas e ameaçadoras da intangibilidade do território do Mali e de suas fronteiras definidas desde a sua independência do domínio colonial francês, em 1960. Será que assistimos a uma convergência estratégica entre Rabat e o MNLA para minar os esforços diplomáticos argelinos, ou procurar encontrar-lhe uma alternativa? A resposta não é fácil, na medida em que Marrocos não pode dar-se ao luxo de dar visibilidade a um grupo em declínio de importância no norte do Mali, e ainda por cima independentista, sem risco de ser lembrado que rejeita qualquer diálogo com a Frente Polisario, que milita pela independência do Sahara Ocidental.

Neste caso, a hipótese menos arriscada é a de que Marrocos, provavelmente com o consentimento da França, cujas relações com o MNLA se deterioraram, de acordo com alguns observadores do Mali, pretende fazer deste grupo rebelde uma carta no jogo em que a Argélia está fortemente empenhada. A hipótese também se aplica ao MNLA que, claramente isolado, busca o apoio de Marrocos e de intervenientes diplomáticos regionais e internacionais que o possam ajudar a ultrapassar um contexto onde exibe hostilidade para com a Argélia, que parece ter muitas vantagens na mão, incluindo o apoio do chefe do governo do Mali e seu governo eleito.

Autor : Yanis Koceyla

Fonte : Diaspora Saharaui – 03-02-2016

Sem comentários:

Enviar um comentário