Não dramatizam. Os
Saharauis, mulheres e homens, não fazem do divórcio um drama. Contentam-se em
organizar uma festa «de dignidade» para a mulher perante toda a família e
conhecidos a fim de que ela possa voltar a casar de cabeça levantada pela
segunda ou terceira vez.
Os saharauis nunca dramatizam com a separação de um casal. A
mulher é informada pelo seu marido, para que se prepare para deixar a sua casa
de forma permanente, especialmente se ela vive com a sogra.
De acordo com o semanário saharaui Esahra el-Hora, o homem
começa a preparar o "Amisfate" da mulher. É uma espécie de dote que
consiste numa quantia em dinheiro, camelos, ovelhas e cabras, móveis e até uma tenda
(“Jaima”). Mas se o marido vive com a família da mulher, ele apenas recupera os
seus pertences antes de sair. Após o período de "el-idda" a família da
divorciada organiza uma festa. "Esta festa não pretende, em nenhum caso,
minimizar a dignidade da mulher divorciada. Pelo contrário, pretende enfatizar o
lugar da mulher na sociedade a fim de que seja respeitada da mesma forma que a
dignidade do homem", cita o artigo na mesma revista.
A mulher põem-se bonita, vestindo a sua mais linda «melfa» (traje
saharaui tradicional), adorna-se com joias, pinta os seus os olhos com "kohl"
e as suas mãos com “henna”. Senta-se num tapete enrolado em forma de banco.
Instalada no meio da sua tenda, a sua "Jaima," a mulher está cercada pelas
suas amigas que dançam, batem palmas, cantam e entoam os seus «youyous».
Querem-lhe provar que ela pode voltar a casar-se de novo com
um homem que lhe agrade, mas não com um qualquer. Durante este período de festa
de 3 dias, o que se come de ovelhas ou camelos abatidos são geralmente despesas
pagas pelo pretendente que espera pelo fim da "iddah" para se casar
com a divorciada.
Esta fase é
denominada pelos saharauis por «el tahriche». Mas se uma mulher não
tiver ainda pretendente, são os seus irmãos e primos que se encarregam dos
custos da festa para preservar a dignidade e a reputação desta mulher que pode
voltar a casar dignamente se ela se vier a divorciar mais uma vez. «Uma mulher divorciada
mais do que uma vez é adulada pelos homens pois tem uma experiência acrescida na
gestão do seu lar», cita o artigo da revista.
Quando às causas de divórcio entre os saharauis, elas não
são diferentes das conhecidas em outras sociedades. Encontramos o mau
relacionamento entre o casal após o casamento, a diferença de mentalidades ou o
não-respeito pelo marido pelas condições estabelecidas antes do casamento
(educação, habitação, trabalho ou férias na Argélia, Mauritânia ... ). Estes
casos podem ser a causa de vários casos de divórcio nos campos de refugiados
saharauis, a pedido do homem ou da mulher não satisfeitos com a sua situação ou
condições de vida.
3 para o divórcio, 7 para
o casamento
Tradição. Se à mulher saharaui divorciada é dedicada uma festa de 3 dias, para o
seu primeiro casamento está-lhe reservada uma festa de sete dias.
A mulher saharaui recebe um dote muito especial — segundo E-Hajj
Mohamed — para ela se possa casar "tat-khayeme". O homem deve dar-lhe
o seu dote (à celibatária). São entre 25-35 objetos diferentes antes do
casamento. Por exemplo, ele deve dar-lhe 35 roupas de todos os tipos, 25 pares
de sapatos e chinelos "chengala", 25 cobertores "manta", 35
"melhfa '(véus) de todas as cores, 35 tipos de maquiagem e um conjunto de
3 malas de todas as formas, bem como joias banhadas a ouro. "Nunca se dão joias
de ouro. Mas a joias ditas "elgarenti".
O marido compra um novo “chech, Deraa, nayel e them", essas
mesmas roupas "Siyani" são compradas para serem oferecidas pela mãe
da noiva ao seu marido como um presente da parte do seu genro. Ela deve dizer:
"Este é um presente para você." O mesmo vale para o avô, que recebe o
mesmo que o seu filho. Por sua vez, a mãe e avó da noiva também têm os seus
dons. A Kheima ou “jaima” (tenda) é obrigatória. É o marido que a deve comprar.
A noiva convida as suas amigas para comer na Kheima depois
de ter morto cabras, ovelhas ou camelos, de acordo com o número de convidados
"redjline" (el-Ghachi). O homem tem seu vizir. "O seu mais
próximo amigo que cuida dele durante todo o período do casamento", diz-nos
Mohamed El-Hajj. A noiva, também, tem a sua
wazira. "Ela deve estar concentrada sobre si mesma e afastar-se dos seus
mais próximos e familiares durante todo o período da festa. É para evitar o
mau-olhado e as maldições de que pode ser vítima", diz Oum el-mouminine,
uma jovem de 19 anos que se vai casar em breve. No dia 'D', a noiva já está em
contato com o marido, sendo levada para sua casa a bordo de um carro, "el-Wetta".
Segundo um outro saharaui, uma meia centena de camelos são reunidos
para o banquete do dia seguinte, "muitos convidados afluem a casa dos
recém-casados. Os mais velhos estão vestidos com Khelkhal e melhfas brancas. “Os
camelo são abatidos, diz-nos Mohamed El-Hajj, lamentando o facto de novas
tradições serem importadas pela nossa juventude”. Trazem as tradições dos países
onde estudam (Argélia, Líbia e outros). Por exemplo, a nossa noiva deve colocar
a "chgiga", que é a melhfa ligeira dos nossos antepassados. Mas hoje ela
maquilha-se, o que era proibido no tempo dos nossos ancestrais”. A noiva, de
acordo com Fatimatou, coloca a sua melhfa preto e branco para ser vista e admirada
pelos seus convidados. A noiva convida toda a sua família a desfrutar da refeição.
Por : Souad Labri
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