O Chefe do governo Benkirane tergiversa
traçando um quadro idílico da situação do dossier do Sahara
O Chefe do governo marroquino, Abdelilah
Benkirane, pronunciou terça-feira no Parlamento o seu discurso de metade de mandato.
Ao evocar as relações externas de Marrocos, e em particular o dossier do
Sahara, Benkirane desenhou uma imagem
cor-de-rosa, onde tudo vai bem no melhor dos mundos, muito diferente da
realidade deste conflito e do estado atual das relações de Marrocos com os seus
principais parceiros estrangeiros.
Benkirane começou por traçar um
quadro bem negro da situação do dossier Sahara no plano internacional antes da
sua investidura do seu governo, em virtude dos acontecimentos de Gdim Izik, que
teriam dado oportunidade à Frente Polisario de instrumentalizar a questão dos
direitos humanos para embaraçar Marrocos e nível internacional.
Mas após ter exposto estes problemas,
Benkirane traçou um balanço quase perfeito da situação atual no Sahara, insinuando
que o mérito cabe ao seu governo na mudança utópica da situação. Benkirane afirma
que Marrocos está agora numa posição confortável, que os grandes países do mundo
são favoráveis à solução de autonomia e que a visita do Rei Mohamed VI aos EUA
teve um êxito retumbante. Por último, ele apelou prossecução dos esforços à
escala internacional para contrariar os planos da Frente Polisario.
Contudo, um olhar sobre a situação atual
dá uma imagem bem menos cor-de-rosa, já que Marrocos se encontra numa posição
delicada e difícil face à comunidade internacional. Se se excluir o caso de
certos países que retiraram (ou congelaram) o seu reconhecimento da autoproclamada
«República Árabe Saharaui Democrática» como o Panamá ou o Paraguai, os desenvolvimentos
do dossier estão longe de ser animadores, segundo os analistas marroquinos, incluindo
os mais próximos do poder. O próprio rei fez soar a campainha de alarme no seu discurso
de 11 de outubro último, ao afirmar que a situação é difícil e que nada está ganho.
Nove meses depois, Benkirane adota um
discurso anestesiante, como se ele tivesse descoberto de repente soluções mágicas
para o conflito, a favor de Marrocos. Ora, durante os dois anos e meio que
decorreram desde que Benkirane está à frente do governo, o dossier do Sahara foi
marcado pelos seguintes factos:
O recuo do apoio das Nações Unidas à solução
da autonomia. O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, sublinhou no seu último
relatório ao Conselho de Segurança a necessidade de rever a fórmula das negociações
no próximo ano e de procurar uma solução baseada unicamente na «autodeterminação».
O recuo é percetível também ao nível das resoluções das Nações Unidas.
O recrudescimento de tomada de posições
de instituições internacionais, entre as quais a União Europeia com o seu
Parlamento e a Comissão, que apoiam a autodeterminação em vez da autonomia,
embora privilegiando uma solução política acordada entre as partes.
- As concessões concedidas pelo
governo Benkirane, inclusive afetando a soberania de Marrocos sobre o Sahara.
Assim, quando da assinatura da Convenção sobre a pesca em julho do ano passado,
Rabat concordou que a União Europeia controle uma parte dos recursos alocados
para o Sahara e concordou que o acordo possa ser denunciado no caso de violações
no Sahara (o Sahara excluído do resto de Marrocos). Nunca nenhum governo
marroquino, no passado, aceitou essas condições que afetam a soberania de
Marrocos sobre o Sahara.
-A sucessão de relatórios de
organizações internacionais de direitos humanos, incluindo as Nações Unidas,
que enfatizam as múltiplas violações dos direitos humanos no Sahara,
considerando que a era Benkirane conheceu um aumento dessas violações.
- A proliferação de resoluções de parlamentos
estrangeiros que apelam aos seus governos o reconhecimento da chamada República
Saharaui, aumentando assim a pressão sobre Marrocos. Este fenómeno não diz
respeito apenas a alguns países da África e da América Latina, mas a países que
estão no centro da Europa, como aconteceu com a Suécia, a Itália e a
infiltração da Polisario na Grã-Bretanha.
O Rei Mohamed VI reconheceu no seu
discurso de 11 de outubro último as sérias dificuldades que conhece o dossier
do Sahara. Nove meses depois, o chefe de governo não tem a coragem de falar
sobre a realidade da situação, contenta-se em pintar um quadro idílico. Por que
razão adota ele esta a política de avestruz?
Fonte : Alifpost – publicação marroquina
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