quinta-feira, 10 de julho de 2014

Marrocos : idílica situação do dossier do Sahara



O Chefe do governo Benkirane tergiversa traçando um quadro idílico da situação do dossier do Sahara

O Chefe do governo marroquino, Abdelilah Benkirane, pronunciou terça-feira no Parlamento o seu discurso de metade de mandato. Ao evocar as relações externas de Marrocos, e em particular o dossier do Sahara,  Benkirane desenhou uma imagem cor-de-rosa, onde tudo vai bem no melhor dos mundos, muito diferente da realidade deste conflito e do estado atual das relações de Marrocos com os seus principais parceiros estrangeiros.

Benkirane começou por traçar um quadro bem negro da situação do dossier Sahara no plano internacional antes da sua investidura do seu governo, em virtude dos acontecimentos de Gdim Izik, que teriam dado oportunidade à Frente Polisario de instrumentalizar a questão dos direitos humanos para embaraçar Marrocos e nível internacional.

Mas após ter exposto estes problemas, Benkirane traçou um balanço quase perfeito da situação atual no Sahara, insinuando que o mérito cabe ao seu governo na mudança utópica da situação. Benkirane afirma que Marrocos está agora numa posição confortável, que os grandes países do mundo são favoráveis à solução de autonomia e que a visita do Rei Mohamed VI aos EUA teve um êxito retumbante. Por último, ele apelou prossecução dos esforços à escala internacional para contrariar os planos da Frente Polisario.

Contudo, um olhar sobre a situação atual dá uma imagem bem menos cor-de-rosa, já que Marrocos se encontra numa posição delicada e difícil face à comunidade internacional. Se se excluir o caso de certos países que retiraram (ou congelaram) o seu reconhecimento da autoproclamada «República Árabe Saharaui Democrática» como o Panamá ou o Paraguai, os desenvolvimentos do dossier estão longe de ser animadores, segundo os analistas marroquinos, incluindo os mais próximos do poder. O próprio rei fez soar a campainha de alarme no seu discurso de 11 de outubro último, ao afirmar que a situação é difícil e que nada está ganho.

Nove meses depois, Benkirane adota um discurso anestesiante, como se ele tivesse descoberto de repente soluções mágicas para o conflito, a favor de Marrocos. Ora, durante os dois anos e meio que decorreram desde que Benkirane está à frente do governo, o dossier do Sahara foi marcado pelos seguintes factos:

O recuo do apoio das Nações Unidas à solução da autonomia. O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, sublinhou no seu último relatório ao Conselho de Segurança a necessidade de rever a fórmula das negociações no próximo ano e de procurar uma solução baseada unicamente na «autodeterminação». O recuo é percetível também ao nível das resoluções das Nações Unidas.

O recrudescimento de tomada de posições de instituições internacionais, entre as quais a União Europeia com o seu Parlamento e a Comissão, que apoiam a autodeterminação em vez da autonomia, embora privilegiando uma solução política acordada entre as partes.

- As concessões concedidas pelo governo Benkirane, inclusive afetando a soberania de Marrocos sobre o Sahara. Assim, quando da assinatura da Convenção sobre a pesca em julho do ano passado, Rabat concordou que a União Europeia controle uma parte dos recursos alocados para o Sahara e concordou que o acordo possa ser denunciado no caso de violações no Sahara (o Sahara excluído do resto de Marrocos). Nunca nenhum governo marroquino, no passado, aceitou essas condições que afetam a soberania de Marrocos sobre o Sahara.

-A sucessão de relatórios de organizações internacionais de direitos humanos, incluindo as Nações Unidas, que enfatizam as múltiplas violações dos direitos humanos no Sahara, considerando que a era Benkirane conheceu um aumento dessas violações.

- A proliferação de resoluções de parlamentos estrangeiros que apelam aos seus governos o reconhecimento da chamada República Saharaui, aumentando assim a pressão sobre Marrocos. Este fenómeno não diz respeito apenas a alguns países da África e da América Latina, mas a países que estão no centro da Europa, como aconteceu com a Suécia, a Itália e a infiltração da Polisario na Grã-Bretanha.

O Rei Mohamed VI reconheceu no seu discurso de 11 de outubro último as sérias dificuldades que conhece o dossier do Sahara. Nove meses depois, o chefe de governo não tem a coragem de falar sobre a realidade da situação, contenta-se em pintar um quadro idílico. Por que razão adota ele esta a política de avestruz?


Fonte : Alifpost – publicação marroquina

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