Mahyuba Mohamed Hamdidaf |
A história da jovem saharaui Mahyuba
é um exemplo do confronto entre a tradição e a modernidade, entre o amor-possessivo
arreigado da família de sangue e a liberdade de uma jovem brilhante que tem
umas encantadoras asas para voar…
É difícil mudar mentalidades. Muitas
vezes, os processos revolucionários de libertação nacional irrompem com todo o
seu vigor e bandeiras de utopia, mas a mudança de mentalidades nem sempre chega
a todos, educados em práticas ancestrais que se perdem na memória dos tempos.
A Frente Polisario, constituída a 10
de maio de 1973 na sua esmagadora maioria por jovens saharauis, veio abalar
também concepções, modos de vida, mentalidades…40 anos passados sobre a sua
fundação tudo o que preconizava e defendia foi conseguido? Não. Mas seria idílico
que isso ocorresse, numa sociedade em que no tempo colonial espanhol fenómenos
como a escravatura ainda existiam e eram, até, prática corrente…
Eis como o jornal EL MUNDO conta a
sua história:
"A retenção de Mahyuba Mohamed Hamdidaf
nos acampamentos saharauis de Tindouf (Argélia) chegou ao seu fim. Mahyuba, de
nacionalidade espanhola, saiu esta terça-feira do acampamento de El Aaiun e encontra-se
a salvo no consulado de Espanha em Argel, segundo confirmaram ao EL MUNDO fontes
próximas da sua família de acolhimento. Está previsto que hoje mesmo viaje para
Espanha.
A jovem de 24 anos estava retida
contra sua vontade desde mediados de agosto, obrigada por seus pais biológicos
a permanecer nos acampamentos. Retiraram-lhe o seu passaporte espanhol e
proibiram-na de voltar à sua vida na Europa, onde trabalhava há um ano numa prestigiada
fundação de Londres.
Numa entrevista a este periódico há
uma semana, Mahyuba pedia para ser livre: "Quero decidir por mim mesma. Sou
uma mulher de 24 anos; não me formei para estar na cozinha. ¡Quero
a minha liberdade!".
Desde há semanas, o Ministério dos
Negócios Estrangeiros [de Espanha] mediava com a Frente Polisario e a família
biológica da jovem para que Mahyuba fosse libertada. A organização Human Rights
Watch (HRW) também denunciou o seu confinamento forçado em Tindouf. Familiares e
amigos de Hamdidaf em Espanha criaram uma plataforma para denunciar a sua situação
e exigir o seu direito a decidir.
Mahyuba chegou pela primeira vez a
Espanha em 1999, dentro do programa “Vacaciones en Paz”, através do qual centenas
de famílias espanholas acolhem durante o verão crianças saharauis. Em 2002, foi
ratificado o seu acolhimento permanente no seio de uma família da localidade
valenciana de Genovés.
Em 2012, a jovem obteve a
nacionalidade espanhola. Licenciada em Filologia Árabe pela Universidade de
Alicante, seus professores qualificaram Hamdidaf de "aluna brilhante".
Agora, poderá recuperar a vida e a sua prometedora carreira."
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