segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Declaração de boicote ao II Fórum Mundial de Direitos Humanos em Marraquexe (Marrocos) por parte das Associações e Comité Saharauis de Defesa dos Direitos Humanos





Um grupo de associações e comités de direitos humanos saharauis apresentaram, com data de 5 de novembro de 2014, um pedido de participação à comissão organizadora do II Fórum Mundial dos Direitos Humano, que se realizará em Marraquexe de 27 a 30 de novembro, com o objetivo de participar nos diferentes grupos de trabalhos com temáticas diversas sobre os direitos humanos.

O referido pedido foi enviado dentro dos prazos previstos, através do contato estabelecido pela comissão organizadora, contact@whrforum.org e por e-mails dos dois coordenadores da comissão, Sr. Kamal Lehbib e Sr. Hamouda Soubhi. Após uma semana de apresentação do pedido, e sem que tenham recebido qualquer resposta, as associações e comités saharauis enviaram comunicados à opinião pública nos dias 12 e 13 de novembro, reiterando o seu interesse e direito em participar no II Fórum Mundial dos Direitos Humanos.

A 18 de novembro, algumas destas entidades receberam uma nota idêntica, genérica e confusa, por parte do email pessoal do Sr. Hamouda Soubhi, referindo que a participação tinha sido aceite. As referidas entidades foram:

Colectivo de Defensores saharauis a los Derechos Humanos CODESA;
Asociación Saharaui de Victimas de Graves Violaciones a los
Derechos Humanos Cometidas por el Estado Marroquí ASVDH;
Comité Saharaui de Apoyo del Plan de Arreglo y para la Protección a los Recursos Naturales en el Sahara Occidental CSPRON;
Comité de Seguimiento de las Victimas Saharauis de las Cárceles de Agdez, Galet Maguna y el Aaiún CCDVSKAL.

Nenhuma das demais entidades, recebeu resposta, o que as obrigou a enviar mensagens recordatórias à direção da comissão organizadora. Foram elas:

Comité de Familiares de Secuestrados Saharauis en Paradero Desconocido (CFDS);
Comité de Familiares de Fallecidos en las Cárceles de Agdez, Galet Maguna y El-Aaiún (CDFM);
Foro Futuro de la Mujer Saharaui (FAFESA);
Comité de Familias de Presos Políticos saharauis. Grupo de Gdeim Izik.

Seguidamente, após terem recebido a resposta do Sr. Hamouda Soubha, as entidades saharauis responderam dias 18 e 19 de novembro respectivamente, reiterando a sua disponibilidade para uma participação positiva e ativa no evento mundial sobre os direitos humanos, ao mesmo tempo que solicitavam resposta a uma série de observações num prazo de 48 horas.

As ditas observações foram.

1. A nível da forma:
Dirigir a resposta e convite a cada uma das associações de forma expressa e não de forma genérica tal como figura na resposta inicial de, a “vossa associação”.
2. A nível de conteúdo:
Responder a cada associação sobre as propostas que faziam sobre a participação nos grupos de trabalho com temáticas determinadas.
Aumentar o número de participantes por cada entidade saharaui de 3, 7 a 10 membros, a fim de poderem participar em melhores condições nas diferentes atividades do Fórum Mundial.

Com base no anterior,

As associações e comités saharauis de direitos humanos, convictas do caráter universal dos direitos humanos; tomando em consideração a nossa correspondência com a comissão organizadora dentro dos prazos e formas previstos, a fim de garantir a nossa participação; tendo em conta que nenhuma das entidades recebeu até à data de hoje, resposta alguma, nem positiva nem negativa, sobre as observações expressas na correspondência dos dias 18 e 19 de novembro de 2014; tomando em consideração que às associações e comités saharauis é negado o seu direito de se organizarem; constituírem e registarem como entidades, e não receberam qualquer informação sobre o II Fórum Mundial sobre Direitos Humanos; considerando que a conduta da Comissão organizadora do II Fórum de Direitos Humanos, expressa o posicionamento oficial do Estado marroquino que persiste nas violações sistemáticas aos direitos humanos num contexto de bloqueio informativo, policial e militar imposto ao território do Sahara Ocidental; tendo em conta, que a exclusão das associações saharauis de participar no II Fórum Mundial dos Direitos Humanos é provocada pelo último discurso do monarca marroquino de 06 de novembro de 2014, no qual acusou todos os que defendem o direito do povo saharaui à autodeterminação de traidores, aludindo à posição das associações no Sahara Ocidental;

As associações e comités pro direitos humanos saharauis declaram:

Boicotar a II edição do Fórum Mundial dos Direitos Humanos previsto para se realizar em Marraquexe.

Exigir ao Estado marroquino que assuma a sincera vontade política para acabar com uma trajetória de violações sistemáticas cometidas em Marrocos e no Sahara Ocidental e abster-se, de projetar no exterior o contrário, no âmbito de supostas reformas que provaram o seu fracasso, à luz do férreo bloqueio imposto sobre os direitos de livre expressão, manifestação pacífica, constituição de associações e persistência de todas as violações aos direitos civis, políticos, sociais, culturais e económicos, assumidos pelo Estado marroquino nos seus compromissos internacionais.

Apelar às Nações Unidas, ao Conselho das Nações Unidas para os Direitos Humanos e demais instituições participantes neste evento a:

Tomar em consideração o manifesto de boicote a este evento por parte das associações e comité saharauis de defesa dos direitos humanos.



Pressionar o Estado marroquino para:

Respeitar os seus compromissos assumidos internacionalmente, em especial os emanados do exame periódico global por países, celebrado em 2012, assim como as resoluções 2099/2013 e 2152/2014 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o Sahara Ocidental.

Respeitar o direito do povo saharaui à autodeterminação e o direito de manifestação pacífica e o de criação de associações no Sahara Ocidental.

Criação de um instrumento internacional para a vigilância, respeito e monitorização dos direitos humanos no Sahara Ocidental.

Garantir o direito do povo saharaui a desfrutar dos seus recursos naturais e de pesca; e pôr fim ao seu constante e ilegal saqueio por parte do Estado marroquino,

Pôr em prática a legislação concernente à proibição de julgamento de civis por tribunais militares.

Reiterar a nossa demanda à:

Libertação imediata e sem condições de todos os defensores dos direitos humanos e de todos os presos políticos saharauis e marroquinos encarcerados em Marrocos e no Sahara Ocidental.

Esclarecimento do paradeiro dos desaparecidos saharauis; entrega dos cadáveres aos familiares daqueles que faleceram em cárceres secretos, assim como esclarecer o contexto em que forem perpetuadas as graves violações aos direitos humanos por parte do Estado marroquino.

Ressarcir os danos morais, físicos e materiais às vítimas saharauis e aos seus familiares.

Corresponder às exigências desencadeadas pelos saharauis vítimas de graves violações dos direitos humanos; interrogando e processando os responsáveis.

Subscrito, na cidade de El Aaiún, Sahara Ocidental.

24 de novembro de 2014.

Firmantes:
  • Colectivo saharauis de defensores a los Derechos Humanos CODESA.
  • Asociación Saharaui de victimas de Graves violaciones a los derechos Humanos Cometidas por el Estado Marroquí ASVDH.
  • Comité saharaui de defensa al Plan de Arreglo y para la Protección de los Recursos Naturales del Sahara Occidental CSPRON.
  • Comité encargado de seguimiento de expediente de victimas saharauis de Galet Maguna, Agdez y El Aaiún CCDVSKAL.
  • Comité de Familiares de Secuestrados Saharauis en Paradero Desconocido CFDS.
  • Comité de familiares de Mártires en Agdez, Galet Maguna y El Aaiún CDFMAML.
  • Foro Futuro de la Mujer Saharaui FAFESA.
  • Comité de Familiares de Presos políticos Saharauis. Grupo de Gdaim Izik CFPPS.


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