- “Os saharauis irão para a guerra se a diplomacia falhar”
- Abdelaziz denuncia que "Marrocos procura que fracassem os esforços da ONU"
EL PAIS
- Patricia R. Blanco Madrid 14 NOV 2014
Os
saharauis levam décadas à espera de um referendo de autodeterminação. Sobretudo
desde 29 de abril de 1991, quando a ONU estabeleceu a MINURSO [Missão das
Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental], uma missão especial para a
consulta no Sahara Ocidental — ocupado por Marrocos—, e deu a “sua palavra de
honra” de que o realizaria um ano depois. Mas já “perdemos a paciência”, segundo
afirmou ontem Mohamed Abdelaziz (Marraquexe, 1947), o secretário-geral da
Frente Polisario, que luta pela independência do Sahara. Especialmente após
ouvir o último discurso do rei marroquino, Mohamed VI, no passado dia 6, por
ocasião do 39º aniversário da Marcha Verde (a invasão marroquina do Sahara então
espanhol). “Marrocos vai permanecer no seu Sahara e o Sahara no seu Marrocos até
ao fim da existência”, afirmou.
Pergunta. Mohamed VI acaba de assegurar
que o único que pode oferecer ao Sahara é mais autonomia. Estão esgotadas as vias
da negociação?
Resposta.
É uma prova de que Marrocos sabe que fracassou ante a vontade dos saharauis de
seguir lutando pela sua independência.
P. Abril de 2015 é o prazo que a ONU deu
para pôr fim à MINURSO. Se fracassa a negociação com Marrocos, que irá fazer a Frente
Polisario?
R.
Os saharauis começam a perder a paciência. O povo saharaui pressiona-nos e pede-nos
que retomemos o caminho da luta armada imediatamente.
P. A Frente Polisario está disposta a retomar
as armas?
R. Quero
deixar absolutamente claro que não queremos chegar até esse ponto. Preferimos a
diplomacia para resolver este conflito. O que está claro é que quem está
empurrando para a guerra é Marrocos. Tenta fracassar os esforços da ONU. Desde
o ano passado, ameaça retirar a MINURSO do Sahara Ocidental. Se isso acontecer,
Marrocos imporá imediatamente uma guerra, porque a Polisario e o povo saharaui
não vão ficar de braços cruzados. Os saharauis retomarão a guerra. Ver-nos-emos
obrigados a utilizar a luta armada, um direito reconhecido aos povos oprimidos.
Não o desejamos, mas se a diplomacia falhar, não temos outra opção.
P. Estão-se a preparar para a luta
armada?
R. Em
1975 [ano da Marcha Verde] não estávamos preparados de modo nenhum para uma guerra
que Marrocos nos impôs. Mas se Marrocos repete, assumiremos a nossa responsabilidade.
P. Rabat anunciou que continuará a
procurar petróleo nas águas situadas em frente ao Sahara. Tomarão alguma
medida?
R. É
um ato ilegal, porque Marrocos é uma força ocupante e não pode explorar os
nossos recursos naturais. Recorremos ao Tribunal de Justiça de Luxemburgo e
pedimos aos Governos e às empresas que não colaborem com Rabat.
P. Acha que a Al Qaeda do Magreb Islâmico
continua a ser uma ameaça para o Sahara?
R. A
situação no Sahel é crítica mas estamos a fazer um grande esforço por afastar a
nossa população do terrorismo.
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