segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Mohamed Abdelaziz | Secretário-geral da Frente POLISARIO fala ao EL PAIS

  


  • “Os saharauis irão para a guerra se a diplomacia falhar”
  • Abdelaziz denuncia que "Marrocos procura que fracassem os esforços da ONU"


EL PAIS  - Patricia R. Blanco Madrid 14 NOV 2014


Os saharauis levam décadas à espera de um referendo de autodeterminação. Sobretudo desde 29 de abril de 1991, quando a ONU estabeleceu a MINURSO [Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental], uma missão especial para a consulta no Sahara Ocidental — ocupado por Marrocos—, e deu a “sua palavra de honra” de que o realizaria um ano depois. Mas já “perdemos a paciência”, segundo afirmou ontem Mohamed Abdelaziz (Marraquexe, 1947), o secretário-geral da Frente Polisario, que luta pela independência do Sahara. Especialmente após ouvir o último discurso do rei marroquino, Mohamed VI, no passado dia 6, por ocasião do 39º aniversário da Marcha Verde (a invasão marroquina do Sahara então espanhol). “Marrocos vai permanecer no seu Sahara e o Sahara no seu Marrocos até ao fim da existência”, afirmou.

Pergunta. Mohamed VI acaba de assegurar que o único que pode oferecer ao Sahara é mais autonomia. Estão esgotadas as vias da negociação?

Resposta. É uma prova de que Marrocos sabe que fracassou ante a vontade dos saharauis de seguir lutando pela sua independência.

P. Abril de 2015 é o prazo que a ONU deu para pôr fim à MINURSO. Se fracassa a negociação com Marrocos, que irá fazer a Frente Polisario?

R. Os saharauis começam a perder a paciência. O povo saharaui pressiona-nos e pede-nos que retomemos o caminho da luta armada imediatamente.

P. A Frente Polisario está disposta a retomar as armas?

R. Quero deixar absolutamente claro que não queremos chegar até esse ponto. Preferimos a diplomacia para resolver este conflito. O que está claro é que quem está empurrando para a guerra é Marrocos. Tenta fracassar os esforços da ONU. Desde o ano passado, ameaça retirar a MINURSO do Sahara Ocidental. Se isso acontecer, Marrocos imporá imediatamente uma guerra, porque a Polisario e o povo saharaui não vão ficar de braços cruzados. Os saharauis retomarão a guerra. Ver-nos-emos obrigados a utilizar a luta armada, um direito reconhecido aos povos oprimidos. Não o desejamos, mas se a diplomacia falhar, não temos outra opção.

P. Estão-se a preparar para a luta armada?

R. Em 1975 [ano da Marcha Verde] não estávamos preparados de modo nenhum para uma guerra que Marrocos nos impôs. Mas se Marrocos repete, assumiremos a nossa responsabilidade.

P. Rabat anunciou que continuará a procurar petróleo nas águas situadas em frente ao Sahara. Tomarão alguma medida?

R. É um ato ilegal, porque Marrocos é uma força ocupante e não pode explorar os nossos recursos naturais. Recorremos ao Tribunal de Justiça de Luxemburgo e pedimos aos Governos e às empresas que não colaborem com Rabat.

P. Acha que a Al Qaeda do Magreb Islâmico continua a ser uma ameaça para o Sahara?


R. A situação no Sahel é crítica mas estamos a fazer um grande esforço por afastar a nossa população do terrorismo.

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