Entrevista a
Mariam Salek Hmada, ministra de Educação do Sahara Ocidental
O primeiro
problema educativo com que a República Árabe Saharaui Democrática se defrontou
quando Espanha abandonou as suas terras e estas foram ocupadas por Marrocos, em
1975, foi que 95% dos seus habitantes não sabiam ler nem escrever. Quase quatro
décadas depois, o Ministério da Educação do Sahara Ocidental conseguiu que todas
as crianças em idade escolar frequentem o ensino, afirma a ministra, Mariam
Salek Hmada.
Qual é agora a situação do ensino nos acampamentos
de Tindouf?
É boa, tendo
em conta que vivemos no deserto mais inóspito do planeta, com 50 graus à sombra
no verão, que as nossas escolas de adobe muitas vezes ruem devido às condições meteorológicas
e que carecemos de material básico, como cadernos ou lápis. Ainda assim, reduzimos
o analfabetismo para 5% da população, contamos com um professorado bem formado e
cada vez em maior número e também com um mais diverso número de centros
educativos distribuídos pelos acampamentos de refugiados.
O seu Ministério recebe apoio de Espanha em
material escolar?
A nível oficial,
não muito, mas recebemos sim do povo espanhol, que é sempre generoso. No entanto,
a ajuda baixou nos últimos anos devido à crise.
Temos ouvido que tem crescido o número de crianças
saharauis escolarizadas em Espanha através das famílias de acolhimento do
programa ‘Vacaciones en paz’…
É o programa
‘Madraça’, que tem por condição que as crianças sejam acompanhadas por um professor
saharaui que lhes ministra o ensino do árabe e da cultura saharaui.
Em Espanha há uma grande exigência de que o
ensino seja bilingue…
No Sahara, os
alunos estudam quatro línguas: árabe, que é a língua nativa; espanhol, que nos
une às nossas raízes históricas; francês, porque muitos estudos superiores são
feitos na Argélia; e inglês, o idioma internacional. Acredite que não é fácil para
crianças de 10 anos.
Teme que, vivendo numa zona tão inóspita e que
limita muito os seus horizontes, os estudantes possam cair nas garras do
integrismo?
É difícil
que o povo saharaui caia no integrismo porque, graças à cultura beduína, somos
muito mais abertos que noutros países islâmicos. Aqui a mulher tem muito maior
liberdade e educamos as nossas crianças na diversidade, abrimos-lhes a mente a
outras gentes e a outras culturas.
Fonte: La
Rioja / Por Marcelino Izquierdo
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