sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

«A cultura beduína torna difícil que os saharauis possam cair no integrismo»




Entrevista a Mariam Salek Hmada, ministra de Educação do Sahara Ocidental

O primeiro problema educativo com que a República Árabe Saharaui Democrática se defrontou quando Espanha abandonou as suas terras e estas foram ocupadas por Marrocos, em 1975, foi que 95% dos seus habitantes não sabiam ler nem escrever. Quase quatro décadas depois, o Ministério da Educação do Sahara Ocidental conseguiu que todas as crianças em idade escolar frequentem o ensino, afirma a ministra, Mariam Salek Hmada.

Qual é agora a situação do ensino nos acampamentos de Tindouf?

É boa, tendo em conta que vivemos no deserto mais inóspito do planeta, com 50 graus à sombra no verão, que as nossas escolas de adobe muitas vezes ruem devido às condições meteorológicas e que carecemos de material básico, como cadernos ou lápis. Ainda assim, reduzimos o analfabetismo para 5% da população, contamos com um professorado bem formado e cada vez em maior número e também com um mais diverso número de centros educativos distribuídos pelos acampamentos de refugiados.



O seu Ministério recebe apoio de Espanha em material escolar?

A nível oficial, não muito, mas recebemos sim do povo espanhol, que é sempre generoso. No entanto, a ajuda baixou nos últimos anos devido à crise.

Temos ouvido que tem crescido o número de crianças saharauis escolarizadas em Espanha através das famílias de acolhimento do programa ‘Vacaciones en paz’…

É o programa ‘Madraça’, que tem por condição que as crianças sejam acompanhadas por um professor saharaui que lhes ministra o ensino do árabe e da cultura saharaui.

Em Espanha há uma grande exigência de que o ensino seja bilingue…

No Sahara, os alunos estudam quatro línguas: árabe, que é a língua nativa; espanhol, que nos une às nossas raízes históricas; francês, porque muitos estudos superiores são feitos na Argélia; e inglês, o idioma internacional. Acredite que não é fácil para crianças de 10 anos.

Teme que, vivendo numa zona tão inóspita e que limita muito os seus horizontes, os estudantes possam cair nas garras do integrismo?

É difícil que o povo saharaui caia no integrismo porque, graças à cultura beduína, somos muito mais abertos que noutros países islâmicos. Aqui a mulher tem muito maior liberdade e educamos as nossas crianças na diversidade, abrimos-lhes a mente a outras gentes e a outras culturas.

Fonte: La Rioja / Por Marcelino Izquierdo


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