Em
alocução proferida numa sessão de solidariedade com os presos políticos e de opinião,
organizada pela Associação de Defesa dos Direitos Humanos há alguns dias em Marrocos,
o autor do livro “Notre Ami le Roi”, Gilles Perrault, afirmou que os presos políticos
estão na primeira linha face à repressão que o Makhzen utiliza, desde sempre,
contra todo aquele que ouse levantar a voz contra o rei.
«Os
presos políticos estão na parte mais difícil dessa frente. Eles são vítimas da
repressão. O pior é o sentimento de solidão. E saber que há quem se preocupe
com eles, que se interessa por eles e que os defende, mesmo estando longe, é
fundamental para os presos e para as suas famílias », afirmou o autor. Enquanto
membro da campanha de apadrinhamento dos presos políticos em Marrocos, o
escritor francês insistiu na necessidade de prosseguir e ampliar esta campanha pois
o combate não terminou.
Temos
de prosseguir esta campanha e levá-la por diante, e se possível expandi-la
porque a luta continua ", disse, lamentando ver apagar-se a esperança suscitada
pela entronização de Mohamed VI após a morte de Hassan II. «Que desilusões após
a morte de Hassan II. As esperanças que suscitara a chegada do seu filho. É
verdade que não há a repressão de outrora, o inferno hassaniano ; os desaparecimentos,
a tortura à escala industrial, a morte. É verdade que já não é isso, mas não é
a democracia ! Há ainda repressão, e o número de presos políticos não cessa de aumentar.»
Citando
a frase tirada da célebre obra Le guépard : «É preciso que algo mude para que
tudo fique na mesma», Gilles Perrault afirmou que em Marrocos, «quiseram dar a
impressão que tudo ia mudar para que no fundo nada mudasse». Para o escritor, é
preciso continuar o combate e não desesperar, pois um dia, tudo acabará por «rachar
e ceder». «Marrocos é uma caldeira com tensões sociais. Um fosso que não pára
de se aprofundar entre os muito ricos que são cada vez mais ricos e os pobres
que nunca foram tão pobres. Isto não pode continuar por muito mais tempo», assegurou,
questionando-se sobre de que serve uma Constituição quando o poder é detido por
um punhado de homens.
Perrault
incitou os cidadãos, em particular os franceses, a serem solidários, pois, segundo
ele, a França «tem muito que se arrepender e a reprovar neste perpetuação de um
regime inaceitável em Marrocos ». Lamentou que, em França, já não haja «diferença»
entre os governos de direita e os governos de esquerda. «Que as pessoas de
direita digam o nosso amigo o rei, não é de estranhar, e direi mesmo que é do
seu interesse; mas que governos de esquerda digam quase a mesma coisa e não se
insurjam contra as violações e as agressões aos direitos humanos em Marrocos, isso
não é aceitável», denunciou.
Durante
muito tempo proibido de entrar em Marrocos por ter denunciado as torturas praticadas
pelo rei Hassan II, Gilles Perrault conclui com uma ponta de ironia ao declarar:
« Hassan II não teria tido a coragem de organizar um fórum sobre os
direitos humanos em Marraquexe. Isso, ele não teria feito!»
Mohamed El-Ghazi – Algérie Patriotique
(*) Gilles
Perrault é um advogado, escritor, jornalista e historiador francês
que geralmente aborda temas políticos da relação do ocidente com outras regiões
e culturas. Entre as muitas obras que escreveu, destaque para “L'Orchestre Rouge”
(“A Orquestra Vermelha”, Fayard, 1967) sobre a história da espionagem soviética
na Europa durante a II Guerra Mundial.
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