Desde Felipe Gonzalez, o apoio dos dirigentes do PSOE ao regime de Mohamed VI na questão do Sahara tem atentado aquilo que são os sentimentos da base do partido... |
Artigo
do jornalista do EL MUNDO, Ignacio Cembrero, no seu blog OrillaSur.
O ex-chefe
do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, foi o convidado de destaque no
II Fórum Mundial sobre Direitos Humanos, que concluiu este fim-de-semana em
Marraquexe. Pronunciou um discurso na cerimónia de abertura, logo após o
ministro marroquino da Justiça, Mustafa Ramid, que leu um discurso em nome do
rei Mohamed VI.
Zapatero
elogiou as medidas anunciadas pelo monarca e sublinhou que "não há
conceito mais importante na história que os direitos humanos". Logo em
seguida deu uma visão geral dos locais onde ocorrem abusos. Mencionou "os estudantes
desaparecidos no México", "as mulheres sequestradas na Nigéria e no
Iraque", os "discriminados devido à sua orientação sexual" e os
"jornalistas mortos pelos fundamentalistas" do Próximo Oriente.
As
autoridades marroquinas tentaram que o fórum servisse de escaparate dos seus
avanços em matéria de direitos e liberdades, mas a operação não foi
inteiramente conseguida. Lideradas pela Associação
Marroquina de Direitos Humanos (AMDH), a mais poderosa do mundo árabe neste
campo, meia dúzia de ONGs marroquinas boicotaram o fórum marroquino.
A
AMDH tem motivos para estar descontente, apesar da sua ex-presidente ter, em
2013, sido galardoada com o prémio Direitos Humanos das Nações Unidas. Desde o
início do verão, o Ministério do Interior proibiu quase sempre verbalmente,
cerca de 60 das suas atividades.
Além
disso, as associações saharauis de direitos humanos relacionadas com o
independentismo não foram convidadas para Marraquexe, apesar, por exemplo, do CODESA,
que dirige a famosa ativista Aminetou Haidar, ter solicitado a sua participação.
Todas
as principais ONGs internacionais de direitos humanos foram, em vésperas do
fórum, muito críticas das autoridades marroquinas. A Amnistia Internacional,
por exemplo, disse em comunicado que, "pela primeira vez desde 1993, (...)
tentaram impedir as suas atividades" no país.
Mesmo
a mais cautelosa de todas, a Federação Internacional de Direitos Humanos,
emitiu um severo relatório sobre a situação em Marrocos. Lembrou que não só a
tortura persiste, como pelo o facto de a denunciar perante os juízes uma jovem de
Tanger, Wafaa
Charaf, está cumprindo uma sentença de dois anos de prisão.
Omissões
no discurso
Devia,
nestas circunstâncias, Zapatero ter ido a Marraquexe como convidado de destaque?
Mais do que a sua presença, talvez seja o seu discurso que mais chama a atenção.
Falou sobre os jornalistas assassinados na Síria, mas não mencionou os que em
Marrocos foram ou estão na prisão ou os órgãos de comunicação encerrados como,
em 2013, o diário digital Lakome.
O ex-chefe
do governo espanhol expressou solidariedade com o discriminados por sua
orientação sexual, mas não lembrou que
há gays presos em Marrocos e que no código
penal marroquino a homossexualidade é um crime punível com pena de seis meses a
três anos de prisão e multa.
O
silêncio de Zapatero sobre Marrocos não surpreende. Insere-se numa longa trajetória.
Em janeiro de 2005, o Conselho de Ministros espanhol concedeu, por exemplo, a
Grã-Cruz da Ordem de Isabel a Católica aos generais Hamidu Laanigri, então
diretor da polícia secreta (DST) e Hosni Bensliman, comandante da Guarda Civil
.
Ambos
figuram destacados numa lista elaborada pela AMDH com os nomes dos alegados responsáveis
dos abusos cometidos durante os chamados "anos de chumbo"
(1956-1990). Desde 2007, um juiz instrutor francês reclama a presença de Bensliman
no âmbito da investigação sobre o sequestro e assassinato, em 1965 em Paris, do
opositor marroquino Mehdi Ben Barka. Bensliman nunca atendeu às convocatórias do
magistrado.
Na primavera
desse mesmo ano o PSOE guardou também silêncio ante a repressão de uma de
tantas revoltas dos saharauis independentistas, enquanto, alguns dos seus correligionários
europeus, como o Partido Socialista francês, as condenaram…
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