quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Maior conserveira galega vende ativos no Sahara Ocidental ocupado



A primeira conserveira galega venda a empresa Damsa, com fábrica em El Aaiún, a qual fornecia a rede de supermercados Mercadona

A principal conserveira galega abandona um dos seus projetos mais polémicos. Jealsa-Rianxeira decidiu vender a totalidade do capital que controlava na Damsa, uma fábrica instalada no Sahara Ocidental, dedicada ao processamento de sardinha em conserva destinada a marca branca para as redes distribuição, principalmente a Mercadona.

A fábrica de El Aaiún foi, durante anos, duramente criticada por diversas personalidades por explorar os recursos naturais do Sahara à margem das recomendações Nações Unidas.

Jesús Alonso Fernandez, presidente do grupo conserveiro

Jealsa sempre considerou a Damsa uma filial marroquina, apesar de estar sedeada em território ocupado. A companhia presidida por Jesús Alonso assinou a venda da Damsa no passado mês de fevereiro, sem que se conhecesse o valor da transação e o comprador final, reforçando a discrição com que ele conduziu a gestão da subsidiária nos últimos anos. A empresa galega com sede em Bodión (Boiro) diz no seu relatório de contas que "procedeu à venda da totalidade da participação da filial marroquina Damsa SA procedendo à sua retirada do consolidado do Grupo a partir de fevereiro" este ano.

Controlo total

A Jealsa entrou no Sahara pela mão de uma importante personalidade marroquina que participou como acionista no projeto. Até ao ano passado, o grupo conserveiro galego controlava 55% do capital da Damsa, e Jesús Manuel Alonso Escurís, filho do presidente da multinacional, ocupava o primeiro posto executivo na filial.

Uns meses antes da venda, concretamente a 19 de setembro de 2013, o grupo galego decidiu adquirir os 100% da Damsa. Segundo explicam os administradores da Jealsa, a companhia comprou 90.000 ações da sociedade por um montante 1,7 milhões de euros, mediante a capitalização de créditos concedidos à firma Oro Fish Maroc, num total de 866.518 euros, "e desembolsando em efetivo o montante restante", explicam. Com esta aquisição, a participação do grupo galego passou de 55% para os 100%.



Duras críticas

Diversas organizações e vozes conhecedoras da situação do Sahara denunciaram repetidamente a situação da Damsa. Foi o caso de Carlos Ruiz Miguel, catedrático de Direito Constitucional da Universidade de Santiago. Em sua opinião, os grupos espanhóis, referindo-se à Jealsa e à Mercadona, são protagonistas e cúmplices pela "exploração do pescado do Sahara Ocidental, em contravenção das resoluções das Nações Unidas, e fazendo ouvidos moucos às denúncias que vários defensores dos direitos dos saharauis vêm fazendo, pedindo que se ponha fim ao espólio das riquezas que são do povo saharaui".


Carlos Ruiz Miguel refere que, na sua imensa maioria, os trabalhadores da Damsa eram colonos marroquinos. "Os saharauis, ou seja, aqueles que as Nações Unidas reconhecerem como saharauis no seu censo, apenas são uma pequeníssima parte", explica el catedrático de la Universidade de Santiago.


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