segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Os campos de refugiados de Tindouf provocam a demissão do governo da Andaluzia




É uma novidade nos anais da política em Espanha. Os campos de refugiados saharauis de Tindouf terão provocado a demissão do governo da Andaluzia, uma região autónoma espanhola, e a convocação de eleições antecipadas.

No início do ano, a presidente da Junta da Andaluzia (governo local) Susana Diaz, membro do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que desde há muito tempo de «socialista» e sobretudo de «operário» tem apenas o nome, aproveitou o pretexto de um projeto de viagem do seu vice-presidente Diego Valderas, membro da coligação Izquierda Unida (Esquerda Unida), aos campos de refugiados de Tindouf, para afirmar que essa «viagem é inoportuna» e que iria irritar fortemente as autoridades marroquinas.

Terá pedido em privado ao seu aliado governamental para renunciar a essa viagem.

Resposta pública de Valderas:  »Não deverá haver reticências do PSOE e se as houver eu não as aceitarei».

Diego Valderas, da IU, vice presidente da Junta da Andaluzia

Finalmente, Susana Diaz, que visitou Marrocos no passado mês de setembro e que foi recebida com grandes pompa com «bolinhos» e chá de menta pelo rei Mohamed VI, retomou as queixas contra a IU, um partido que se tornou «radical», segundo ela, e que já não asseguraria a estabilidade do governo, para anunciar a dissolução do parlamente local e a realização de eleições para o próximo dia 22 de março.

Com efeito, se a próxima visita de Valderas enquanto vice-presidente da Andaluzia aos campos de refugiados de Tindouf irá seguramente abalar duas ou três pessoas na nomenclatura do poder em Marrocos (francamente, quem conhece Susana Diaz e Diego Valderas em Marrocos?), a verdadeira razão desta ruptura é muito política e tem a ver com a carreira pessoal da ‘Madame’ presidente.

Pablo Iglesias

Na perspetiva de eleições gerais em Espanha, a ambiciosa Susana Diaz quer-se colocar em boa posição para se tornar um dia a patroa do PSOE e porque não a presidente do governo espanhol. E que melhor maneira de ter sucesso do que provocar eleições regionais imediatamente. Pois o grande perigo da classe política tradicional espanhola hoje é o partido Podemos, a nova formação política de esquerda dirigida pelo muito mediático Pablo Iglesias que, segundo todas as sondagens, vai ganhar as próximas eleições gerais. Ora, na Andaluzia, o Podemos ainda não se constituiu como força alternativa como o fez por toda a Espanha e estas eleições arriscam a apanhar o novo partido desprevenido.

Uma pequena vitória eleitoral de Susana Diaz nestas eleições regionais, quando as eleições gerais arriscam-se em se transformar numa vitória do Podemos, fariam desta dirigente regional uma opção nacional para vir a dirigir a oposição a Madrid. É tão claro como água.

Com o que, mais uma vez, os campos dos pobres refugiados de Tindouf são uma miserável desculpa para aqueles que fazem carreira através da desgraça dos outros.


Fonte: Demain Online (site independente marroquino)

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