É
uma novidade nos anais da política em Espanha. Os campos de refugiados saharauis
de Tindouf terão provocado a demissão do governo da Andaluzia, uma região autónoma
espanhola, e a convocação de eleições antecipadas.
No
início do ano, a presidente da Junta da Andaluzia (governo local) Susana Diaz,
membro do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que desde há muito tempo
de «socialista» e sobretudo de «operário» tem apenas o nome, aproveitou o
pretexto de um projeto de viagem do seu vice-presidente Diego Valderas, membro
da coligação Izquierda Unida (Esquerda Unida), aos campos de refugiados de
Tindouf, para afirmar que essa «viagem é inoportuna» e que iria irritar fortemente
as autoridades marroquinas.
Terá
pedido em privado ao seu aliado governamental para renunciar a essa viagem.
Resposta
pública de Valderas: »Não deverá haver
reticências do PSOE e se as houver eu não as aceitarei».
Diego Valderas, da IU, vice presidente da Junta da Andaluzia |
Finalmente,
Susana Diaz, que visitou Marrocos no passado mês de setembro e que foi recebida
com grandes pompa com «bolinhos» e chá de menta pelo rei Mohamed VI, retomou as
queixas contra a IU, um partido que se tornou «radical», segundo ela, e que já não
asseguraria a estabilidade do governo, para anunciar a dissolução do parlamente
local e a realização de eleições para o próximo dia 22 de março.
Com
efeito, se a próxima visita de Valderas enquanto vice-presidente da Andaluzia
aos campos de refugiados de Tindouf irá seguramente abalar duas ou três pessoas
na nomenclatura do poder em Marrocos (francamente, quem conhece Susana Diaz e
Diego Valderas em Marrocos?), a verdadeira razão desta ruptura é muito política
e tem a ver com a carreira pessoal da ‘Madame’ presidente.
Pablo Iglesias |
Na
perspetiva de eleições gerais em Espanha, a ambiciosa Susana Diaz quer-se
colocar em boa posição para se tornar um dia a patroa do PSOE e porque não a
presidente do governo espanhol. E que melhor maneira de ter sucesso do que provocar
eleições regionais imediatamente. Pois o grande perigo da classe política tradicional
espanhola hoje é o partido Podemos, a nova formação política de esquerda dirigida
pelo muito mediático Pablo Iglesias que, segundo todas as sondagens, vai ganhar
as próximas eleições gerais. Ora, na Andaluzia, o Podemos ainda não se
constituiu como força alternativa como o fez por toda a Espanha e estas
eleições arriscam a apanhar o novo partido desprevenido.
Uma
pequena vitória eleitoral de Susana Diaz nestas eleições regionais, quando as
eleições gerais arriscam-se em se transformar numa vitória do Podemos, fariam
desta dirigente regional uma opção nacional para vir a dirigir a oposição a Madrid.
É tão claro como água.
Com
o que, mais uma vez, os campos dos pobres refugiados de Tindouf são uma miserável
desculpa para aqueles que fazem carreira através da desgraça dos outros.
Fonte:
Demain Online (site independente marroquino)
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