O encontro de segunda-feira entre Ban Ki-moon e o ministro marroquino de Negócios Estrangeirosfoi considerado "glacial" pela imprensa marroquina... |
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, decidiu fazer marcha
atrás nos seus planos de viajar a Marrocos após as últimas medidas anunciadas pelo
Governo de Rabat, ações que, segundo afirmaram hoje as Nações Unidas,
dificultarão as atividades da sua missão no Sahara Ocidental.
“Atualmente não está planeada uma viagem do secretário-geral
a Marrocos”, afirmou aos jornalistas o porta-voz de Ban, Stéphane Dujarric, que
em finais de fevereiro havia adiantado a intenção do diplomata sul-coreano de
visitar o país para dar seguimento à sua recente viagem aos acampamentos de
refugiados saharauis.
Dujarric deu a entender que a decisão foi tomada após o tenso
encontro que mantiveram esta segunda-feira Ban e o ministro marroquino dos Negócios
Estrangeiros, Salahedín Mezuar.
“Obviamente creio que todos podem ler o tom do encontro de
segunda-feira. Creio que o comunicado (divulgado pela ONU após o encontro) era
bastante claro nesse sentido e não há planos de viajar por parte do secretário-geral”,
afirmou o porta-voz questionado sobre o assunto.
Um dia depois do referido encontro, Marrocos anunciou
oficialmente uma redução unilateral das suas contribuições à missão da ONU no Sahara
Ocidental (MINURSO – Missão para a realização do Referendo no Sahara Ocidental)
e ameaçou retirar as suas tropas deslocadas no âmbito de outras operações das
Nações Unidas.
A ONU afirmou hoje que está a analisar o “potencial
impacto” dessas ações e a estudar “medidas de mitigação”.
Dujarric afirmou que a redução da componente civil da missão
no Sahara Ocidental anunciada por Marrocos “afetaria as operações da MINURSO e
dificultaria a capacidade da missão para implementar o seu mandato”.
Rabat disse também que prevê cortar o seu financiamento “voluntário”
à missão, que segundo informou o porta-voz da ONU rondo os 3 milhões de
dólares, dedicados principalmente à provisão de alimentos e alojamento para o
seu pessoal.
A medida teria, assegurou, “um efeito imediato nas obrigações
financeiras da missão”.
Fora da MINURSO, Marrocos contribui para as missões da ONU
com 2.321 militares repartidos pelas operações na Costa do Marfim, República
Democrática do Congo e República Centro-Africana.
“Se tudo isso se confirmar obviamente lamentaríamos a
decisão de Marrocos”, disse Dujarric, que confiou que as duas partes sejam capazes
de reconduzir a situação.
“Gostaríamos de ser capazes de avançar numa atmosfera mais
positiva”, referiu o porta-voz, que assegurou que a ONU continua em contacto com
as autoridades marroquinas e mantem ao corrente os membros do Conselho de Segurança.
Simultaneamente, deixou claro que Ban vai manter a sua
postura sobre o Sahara Ocidental e a necessidade de negociações e confiou que o
processo político siga por diante.
“A gente do Sahara Ocidental merece um processo político,
merece uma luz ao fundo do túnel”, disse.
A tensão entre o Governo marroquino e o chefe da ONU estalou
abertamente na sequência da recente viagem que este efetuou à zona do Sahara Ocidental,
muito criticada por Rabat.
Marrocos qualificou de “insultuosas” as palavras e gestos
do diplomata durante a sua visita e reagiu com inusual dureza, sobretudo pelo uso
da palavra “ocupação”.
No passado domingo, Rabat foi cenário de uma grande
manifestação contra o secretário-geral da ONU, a que assistiram pelo menos sete
ministros do Governo.
O encontro entre Ban e Mezuar na passada segunda-feira não
melhorou a situação, depois de Ban ter expressado ao chefe da diplomacia
marroquina a sua “indignação” por esses protestos, algo que foi qualificado pelo
Governo como “um novo ultraje ao povo marroquino”.
Fonte: W Radio /
EFE
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