A ONU defendeu hoje a neutralidade do seu secretário-geral,
Ban Ki-moon, no conflito do Sahara Ocidental, em resposta às duras críticas lançadas
contra ele pelo Governo de Marrocos após a sua recente visita à região.
“Desde logo, o secretário-geral acredita que ele e as
Nações Unidas são partes neutrais nesta questão", afirmou o porta-voz
Farhan Haq questionado sobre o tema numa conferência de imprensa.
Haq sublinhou que o diplomata sul-coreano “tem feito todo
o possível para resolver a situação no Sahara Ocidental” e defendeu que a intenção
da sua viagem era “chamar a atenção, uma vez mais, para a necessidade de conseguir
uma solução” do conflito.
“Queria assegurar-se que, no
último ano do seu mandato, este assunto continua firmemente na agenda
internacional. E está contactando todas as partes com uma atitude neutral”, afirmou
o porta-voz.
A ONU respondeu desta forma ao
comunicado emitido esta terça-feira pelo Executivo marroquino, em que acusou Ban
de afastar-se da “neutralidade, da objetividade e da imparcialidade” e de
“violar as garantias dadas a Marrocos”.
Rabat protestou energicamente
pelo uso por parte do chefe das Nações Unidas da palavra “ocupação” para se referir
à presença marroquina no território saharaui durante a sua viagem à zona.
O Governo marroquino disse sentir
“grande estupefação com os deslizes verbais, os factos consumados e os gestos
injustificados de complacência do secretário-geral durante a sua visita a Tindouf
e Argel”.
Para Rabat, Ban “deixou-se instrumentalizar
dando crédito às falaciosas pretensões da outra parte (a Frente Polisario), e
assim “cedeu à chantagem” dessas partes, “violando os compromissos e garantias
dadas a Marrocos”.
Usar a palavra “ocupação”
por parte de Ban ki-moon foi não só um “deslize semântico sem fundamento
jurídico”; como é “um insulto ao Governo e ao povo marroquino” que “atenta
contra a própria credibilidade do Secretariado-Geral da ONU”, pelo que só se “pode
esperar que se trate de um lapsus”, refere o comunicado.
No seu recente périplo pela região,
Ban não passou por Marrocos alegando incompatibilidades de agenda com o rei
Mohamed VI, ainda que segundo órgãos de comunicação social marroquinos tenham
afirmado que isso se deveu à recusa de
Rabat, que se opõe aos intentos da ONU de relançar negociações sobre a ex-colónia
espanhola.
A ONU, que esta semana
anunciou uma visita este mês a Marrocos do enviado pessoal do SG para o Sahara
Ocidental, Christopher Ross, afirmou que o secretário-geral tem a intenção de
ele próprio o fazer mais à frente.
Questionado hoje a este
respeito, Haq assegurou que essa viaje continua a ser alvo de negociações e que
a ONU se mantem e manterá em contacto com as autoridades marroquinas.
Ban apresentará em princípios
de Abril ao Conselho de Segurança o seu relatório anual sobre a situação do Sahara
Ocidental, o qual é aguardado com expectativa após o apelo que fez no passado
mês de novembro a que sejam retomadas as negociações após anos de bloqueio.
Frente à autoproclamada
República Árabe Saharaui Democrática (RASD), Rabat recusa qualquer opção que não
seja a autonomia, o que impede a menor aproximação à Frente Polisario, que
exige o referendo de autodeterminação acordado no plano de paz auspiciado pelas
Nações Unidas.
Fonte: Terra / EFE
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