Fonte: LUSA
A tensão aumentou hoje no Saara Ocidental, a cinco
dias da histórica visita aos territórios libertados do secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, com o assassinato de um pastor junto ao muro de separação erguido
por Marrocos.
O incidente, que não foi totalmente esclarecido, está
a ser considerado pelos saarauis a violação mais grave do cessar-fogo acordado
em 1991 entre o reino da dinastia dos alauitas, a atual família real de
Marrocos, e a Frente Polisário, que permitiu o atual processo negocial mediado
pela ONU.
Segundo responsáveis
saarauis, a vítima é um dos muitos pastores nómadas que vivem nesta zona, e que
se aproximou do muro para recolher alguns animais e foi atingido a tiro por
soldados marroquinos estacionados na zona ocupada, e sem que tenha sido
registada qualquer provocação.
A agência noticiosa
marroquina MAP limitou-se a referir que o incidente ocorreu na noite de sábado
na zona de Gueltat Zemur, e que o homem, que efetuava "movimentos
suspeitos e persistentes", recebeu um disparo de aviso que lhe custou a
vida.
A versão marroquina
acrescenta, no entanto, que junto ao cadáver foram também encontrados sem vida
os corpos de quatro camelos, e que a missão da ONU no Saara (Minurso), também
responsável pela vigilância e controlo do cessar-fogo, foi alertada de imediato.
A Minurso não reagiu ao
acidente, considerado por grupos saarauis de defesa dos direitos humanos como
uma manobra de Marrocos para forçar o recomeço da guerra e impedir a visita de
Ban aos campos de refugiados e a Bir Lehlu, na zona libertada.
"É um acidente muito
grave, é a primeira vez que se verifica uma violação tão grave do cessar-fogo,
que existe desde 1991. Assassinaram um civil na zona desmilitarizada sem que
existisse provocação", declarou à agência noticiosa Efe no campo de
refugiados de Rabuni o ativista saaraui Abdelsalam Omar.
"É um caso que nos
preocupa e perante o qual Marrocos assume toda a responsabilidade das
consequências", sublinhou o ativista, presidente da Associação de
familiares de presos e desaparecidos sarauis (AFRAPEDESA).
Na sexta-feira, Ban Ki-moon
desloca-se à Argélia para visitar designadamente os campos de refugiados
saarauis na região de Tindouf.
"Mais tarde mas ainda
este ano, haverá uma segunda parte [da visita] em que o secretário-geral da ONU
irá a Rabat e a El Aiun", a principal localidade do Saara ocidental e onde
está instalado o quartel-general da missão da ONU (Minurso).
Esta é a primeira visita de
Ban à região consagrada ao conflito no Saara ocidental, uma ex-colónia
espanhola controlada por Marrocos.
Desde 1992 que a ONU tenta
organizar um referendo sobre a autodeterminação deste território, disputado
entre Rabat e os independentistas da Frente Polisário, apoiados pela Argélia.
A deslocação também coincide
com as celebrações que a Polisário está a organizar nos campos de refugiados
saarauis em Tindouf, em território argelino, para assinalar os 40 anos da
proclamação da República Árabe Saaraui Democrática (RASD).
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