sábado, 17 de dezembro de 2016

Entrevista a Mohamed Kheddad, coordenador saharaui junto da MINURSO: «Guterres está bem colocado para encontrar uma solução definitiva para a nossa causa»


Mohamed Kheddad

Mohamed Kheddad, coordenador saharaui junto da MINURSO, deu uma entrevista  à jornalista do Meriem Kaci, do diário argelino Reporters.

Que apreciação faz da evolução do dossiê saharaui durante os últimos dez anos na ONU?

Mohammed Kheddad : Houve um recuo no seio da ONU em relação à nossa nobre e justa causa. Com efeito, desde 2012, não tiveram lugar quaisquer rondas de negociações entre as partes em conflito, Marrocos e a Frente Polisario. Também o Enviado Pessoal de Ban Ki-moon, Christopher Ross, foi impedido por diversas vezes de visitar a região e particularmente o Sahara Ocidental. Em Março passado, a componente civil e política da MINURSO foi expulsa de El Aaiún pelas forças marroquinas sem que tenha havido, infelizmente, uma reação da parte das Nações Unidas.

Imputa esse recuo a Ban Ki-moon ?
Não. Não posso afirmar que Ban Ki-moon esteja por detrás desse recuo e da agressão à causa saharaui. No entanto, estou convencido que que ele poderia ter feito mais a favor da nossa causa. O Secretário-Geral da ONU tinha razão quando qualificou Marrocos de força ocupante, porque é um facto e uma realidade que ninguém pode negar. Infelizmente, o Conselho de Segurança não foi a jogo e não defendeu o Secretário-Geral da ONU, nem a MINURSO que tem por principal missão a organização de um referendo de autodeterminação. Eu imputo a responsabilidade desse recuo à França, membro do Conselho de Segurança da ONU, que tomou como refém a questão saharaui. Esse país é responsável pelo statu quo no Sahara Ocidental, pois impede qualquer perspectiva de solução do conflito no território ocupado desde há quarenta anos por Marrocos, bloqueando toda a perspectiva de paz, e que pode degenerar numa situação gravíssima. No momento em que lhe falo, as forças saharauis e marroquinas estão separadas por menos de 120 metros na região tampão de Guerguerat, e isso com pleno conhecimento das Nações Unidas. A ONU continua sem reagir para encontrar uma solução para um conflito de descolonização e que continua inscrito na agenda dessa organização.

Que pensa da designação de António Guterres para a chefia da ONU ?

Guterres é um bom conhecedor do dossiê saharaui, não apenas porque ele esteve na chefia do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados e visitou também os campos de refugiados, mas também – e eu sublinho-o – porque ele foi um profundo conhecedor de um problema semelhante ao nosso que foi o caso de Timor-Leste e que ele resolveu. Guterres é o artesão da descolonização de Timor-Leste. Ele jogou um papel primordial na União Europeia e na ONU para resolver esse problema. Era um pouco tarde, mas ele acabou mesmo assim por assumir a responsabilidade da potência colonial portuguesa que colonizou esse país desde 1596 e que viria a ser anexa pela Indonésia em 1975. Guterres é conhecido dos Saharauis. Ele tem qualidade e atributos pessoais que o colocam em melhor posição para contribuir a encontrar uma solução justa e definitiva para o conflito do Sahara Ocidental. Brahim Ghali felicitou-o pela sua nomeação e temos esperança que a sua brilhante eleição contribuirá para encontrar uma solução justa e equitativa para questão saharaui, em conformidade com as resoluções da ONU e a legitimidade internacional.

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