Mohamed Salem Ould-Salek |
A Frente Polisario, o movimento de libertação saharaui, instou na sexta-feira a ONU, a UE e a União Africana (UA) a pressionar Marrocos a deixar de utilizar a imigração ilegal para a Europa a fim de obter o reconhecimento da sua soberania sobre o Sahara Ocidental.
"Instamos urgentemente a ONU, a UA e a UE a impor a Rabat a obrigação de virar a página sobre a agressão, o consumo de drogas, a imigração ilegal e abandonar o uso vergonhoso do terrorismo jihadista", segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Árabe Saharaui Democrática.
Esta é a primeira reação oficial saharaui à crise no enclave espanhol de Ceuta, após o afluxo, desde segunda-feira, de mais de 8.000 migrantes do vizinho Marrocos, tirando partido de uma abertura de controlos fronteiriços do lado marroquino.
O pano de fundo desta onda de migração é a forte tensão diplomática entre Madrid e Rabat, que não diminuiu desde a chegada em Espanha, no mês passado, de Brahim Ghali, o líder da Frente Polisario, para aí ser tratado.
Marrocos, que se apresenta como um parceiro essencial na luta contra a migração ilegal, espera que a UE, tal como o ex-Presidente dos EUA Donald Trump, reconheça a sua soberania sobre o Sahara Ocidental.
"A agressividade de Rabat contra Espanha, em particular, é a consequência imediata da rejeição pela comunidade internacional da soberania de Marrocos sobre o Sahara Ocidental", afirma o comunicado de imprensa saharaui.
"Marrocos confiou, por erro político, em certos países membros da União Europeia para apoiar a declaração de Trump".
Mas "esta declaração (...) não poderia durar porque (é) contrária à legalidade internacional", considera o chefe da diplomacia saharaui que apela "às Nações Unidas, à União Africana e à União Europeia a intensificarem os seus esforços para pôr fim à ocupação ilegal marroquina de partes do território da República saharaui".
A Espanha, a antiga potência colonial do Sahara Ocidental, advertiu Marrocos de que a sua posição não mudará na questão deste vasto território desértico cujo estatuto permanece indefinido.
"A Espanha continua firmemente apegada a uma solução política que deve ser encontrada no quadro das Nações Unidas", disse quarta-feira o ministra dos Negócios Estrangeiros espanhol Arancha Gonzalez Laya.
A Frente Polisario apela à organização de um referendo sobre autodeterminação planeado pela ONU, mas constantemente adiado desde a assinatura em 1991 de um cessar-fogo após 16 anos de conflito. Marrocos, que ocupa três quartos da antiga colónia espanhola, oferece autonomia sob a sua soberania.
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