terça-feira, 18 de outubro de 2022

Enviado Pessoal do SG da ONU reconhece ante o Conselho de Segurança que Marrocos o impediu de visitar o Sahara Ocidental ocupado

Staffan De Mistura

Nova Iorque (ECS) - O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu ontem, à porta fechada para discutir o conflito no Sahara Ocidental, dez dias antes de expirar o mandato da missão da ONU para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSE). Este encontro acontece também após a carta enviada pelo secretário-geral da Frente Polisário, Brahim Ghali, na qual criticava a inação da organização internacional.

Staffan De Mistura, enviado do SG da ONU para o Sahara Ocidental, falou perante o mais alto órgão decisório da ONU para os países com assento permanente e não-permanente naquela estrutura sobre os resultados de seu trabalho após um ano no cargo.

Terminada a reunião, De Mistura dirigiu-se aos jornalistas apenas para informar que "esta missão é única" em relação às anteriores e que lamenta não poder fazer comentários porque não é hora de "diplomacia pública", mas sim da discreta, segundo relatou a EFE.

A sessão do Conselho de Segurança da ONU sobre o Sahara Ocidental também é de particular importância pois é a última reunião de consulta a ser realizada este mês antes da prorrogação da MINURSO.

Embora tenham sido feitas consultas sobre a MINURSO, deve-se notar que esta missão não é funcional; não realizou o referendo, nem protege os civis saharauis e nem mantém o cessar-fogo, apesar disso é renovada todos os anos, tornando-se na realidade um obstáculo ao avanço já vacilante dos canais diplomáticos. Espera-se que o Conselho de Segurança da ONU exorte Marrocos e a Frente POLISARIO a retornar à mesa de negociações e interromper as hostilidades e a escalada militar que não foi interrompida desde 13 de novembro de 2020.

Segundo a EFE, De Mistura reconheceu abertamente que não pôde visitar o território do Sahara Ocidental - apesar de ter feito duas viagens à região - devido a uma decisão do governo marroquino, que o informou que "não seria possível que ele se reunisse com representantes da sociedade civil e organizações de mulheres", como ele havia solicitado, por isso "decidiu não prosseguir" com essa visita.

Segundo a mesma fonte, De Mistura apresentou ao Conselho de Segurança outra queixa sobre a atitude de Rabat quando aponta, nesse mesmo relatório, que "o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos não pôde realizar nenhuma visita ao Sahara Occidental pelo sétimo ano consecutivo, apesar de vários pedidos."

No dia 27 de outubro, o Conselho deverá votar uma nova prorrogação de um ano para a MINURSO, na qual não são esperadas surpresas ou vetos. O secretário-geral pediu a Marrocos e à Frente Polisario que retomem o processo de negociação "com a mente aberta" e "desistam de estabelecer condições prévias para o processo político", uma alusão à intransigência de Marrocos - que se recusa a discutir outra coisa que não seja o seu plano de autonomia - e a Frente Polisário, que exige um referendo com opção de independência.

Brahim Ghali, SG da Frente Polisario, lamentou na passada sexta-feira o último relatório do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres. "Guterres mantém um 'silêncio cúmplice e injustificável' sobre as violações de Marrocos, incluindo a violação do cessar-fogo", denunciou, alertando que não há espaço para negociações se a "impunidade" não terminar.

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