sábado, 29 de julho de 2023

Representante da Frente POLISARIO no Brasil participou no 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes

59.º Congresso da UNE

O representante da Frente POLISARIO no Brasil, Ahmed Muley Aali participou do 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes que aconteceu entre os dias 12 e 16 de julho de 2023 na capital carioca, Brasília com cerca de 24.000 delegados de todo o país.

O representante saharaui foi recebido, juntamente com as delegações estrangeiras, pela Dra. Amanda Carolina Harumy Oliveira, membro da direção do evento.




Durante o seu discurso, saudou os delegados do congresso e transmitiu-lhes as saudações dos estudantes saharauis, actualizando-os sobre a situação da luta saharaui.

À margem do evento, o delegado da POLISARIO no Brasil falou com os delegados do Chile, Colômbia, República Dominicana, Venezuela, Costa Rica, membros da OCLAE.

quarta-feira, 26 de julho de 2023




A juventude saharauí é diversificada, ativa e empenhada na luta pela autodeterminação do seu povo.

Milhares de jovens no e do Sahara Ocidental sofrem uma privação total de direitos humanos em flagrante violação do direito internacional.

A ocupação obrigou gerações de saharauís a enfrentar a repressão, a deslocação prolongada, o exílio e a exclusão.

Veja o link AQUI


terça-feira, 25 de julho de 2023

Carta do Representante da Frente POLISARIO nas Nações Unidas e Coordenador com a MINURSO ao Presidente do Conselho de Segurança


24 Julho, 2023

 

S.E. Dame Barbara Woodward

Embaixadora e Representante Permanente do Reino Unido junto das Nações Unidas Presidente do Conselho de Segurança

Nova Iorque, 24 de julho de 2023

 

Vossa Excelência,

Escrevo para expressar a Vossa Excelência, Senhora Presidente, e aos membros do Conselho de Segurança a nossa mais forte condenação do crime hediondo perpetrado com intenção direta pelo Estado ocupante de Marrocos contra o ativista dos direitos humanos saharaui, jornalista e ex-prisioneiro de consciência, Sr. Rashid Ahmed Mahmoud Slama, também conhecido como Rashid Sghayer, na cidade ocupada de Dakhla no início de 17 de julho de 2023.

De acordo com um comunicado emitido pelo Ministério saharaui das Cidades Ocupadas e Comunidades no Estrangeiro a 23 de julho de 2023, Rashid Sghayer foi alvo de uma tentativa de assassinato premeditado por três colonos marroquinos armados com armas brancas perto da sua casa na cidade ocupada de Dakhla. Foi gravemente ferido no rosto e na mão e teve de ser transferido com urgência para o hospital da cidade ocupada de El Aaiún (aviso: imagens gráficas da vítima estão anexadas abaixo).

 

Rashid Sghayer

Rashid Sghayer tem estado ativamente envolvido no ativismo pelos direitos humanos no Sahara Ocidental ocupado. Participou em muitos protestos e manifestações pacíficas exigindo a autodeterminação e a independência do povo saharaui e condenando as violações dos direitos humanos no Sahara Ocidental Ocupado, incluindo o seu célebre discurso perante uma assembleia pública para exigir a revelação do paradeiro de Habib Aghreishi, que continua desaparecido. É também um bloguista ativo em várias plataformas das redes sociais.

Como o Presidente da República Saharaui (RASD) e Secretário-Geral da Frente POLISARIO, Brahim Ghali, alertou na sua última carta dirigida ao Secretário-Geral da ONU em 17 de julho de 2023 e em cartas anteriores, o Estado ocupante de Marrocos continua a perpetrar violações flagrantes e sistemáticas dos direitos humanos contra ativistas e defensores dos direitos humanos, jornalistas e blogueiros que estão sendo submetidos a todos os tipos de violência física e psicológica por causa de seu ativismo pacífico e defesa pública do direito de seu povo à autodeterminação e independência.

A Frente POLISARIO tem sublinhado repetidamente que o Estado ocupante de Marrocos não teria continuado a oprimir e aterrorizar os civis saharauis e os activistas e defensores dos direitos humanos no Sahara Ocidental Ocupado e a violar, com total impunidade, as regras do direito internacional e do direito internacional humanitário, se não fosse a complacência e o silêncio injustificável das Nações Unidas e da comunidade internacional em relação à situação no Território.

O ataque bárbaro e retaliatório perpetrado contra Rashid Sghayer por colonos e bandidos marroquinos pagos e planeado pelos serviços de inteligência marroquinos é mais um episódio do mesmo padrão sistemático de crimes hediondos cometidos pelos serviços de segurança do Estado ocupante de Marrocos contra civis saharauis e ativistas dos direitos humanos no Sahara Ocidental Ocupado. O Conselho de Segurança não pode dar-se ao luxo de continuar a ter uma visão complacente de tais atrocidades.

Portanto, a Frente POLISARIO mais uma vez apela urgentemente às Nações Unidas para que operacionalizem a sua responsabilidade internacional, legal e moral para com o povo do Sahara Ocidental, particularmente os civis saharauis que vivem nos Territórios sob a ocupação ilegal marroquina, e para que ponham em prática as medidas necessárias para garantir a proteção da sua integridade física e moral.

A operacionalização da responsabilidade internacional também deve incluir o estabelecimento de um mecanismo independente e permanente da ONU para a proteção dos direitos políticos, económicos, sociais e culturais do povo saharaui, incluindo o seu direito à soberania permanente sobre os seus recursos naturais, e relatórios in situ e regulares sobre a situação no Território aos órgãos relevantes das Nações Unidas.

Como a Frente POLISARIO tem alertado em várias ocasiões, a persistência do Estado ocupante de Marrocos nos seus crimes hediondos e violações flagrantes dos direitos humanos contra civis saharauis e activistas e defensores dos direitos humanos corrói ainda mais a confiança no processo de paz liderado pela ONU no Sahara Ocidental e a credibilidade das próprias Nações Unidas, prejudica seriamente as perspectivas de relançamento do processo paralisado e dificulta os esforços do Enviado Pessoal do Secretário-Geral para o Sahara Ocidental.

A este respeito, a Frente POLISARIO reafirma que nenhum processo de paz credível e sério será possível enquanto o Estado ocupante de Marrocos persistir, com total impunidade, na sua guerra de terror e retaliação no Sahara Ocidental Ocupado, bem como nas suas tentativas de impor à força um facto consumado no Território, à vista das Nações Unidas e da sua Missão no terreno.

Ficaria muito grato se Vossa Excelência levasse a presente carta ao conhecimento dos membros do Conselho de Segurança.


(assinado)

Dr. Sidi M. Omar Embaixador

Representante da Frente POLISARIO junto das Nações Unidas

Coordenador com a MINURSO

 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

A saharaui Tesh Sidi eleita para as Cortes de Espanha



Pela primeira vez desde o fim do franquismo, as Cortes - o parlamento de Espanha - vão ter um(a) deputado (a) saharaui. Tesh Sidi, nasceu nos campos de refugiados saharauis de Tindouf no extremo sudoeste da Argélia. e foi eleita na 3.ª posição da lista do Sumar por Madrid. O partido elegeu 6 deputados por aquela circunscrição nas eleições legislativas realizadas ontem 23-J.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Task Force da EUCOCO reuniu em Madrid

 


A Task Force da Coordenação dos Comités Europeus de Apoio ao Povo Saharaui reuniu-se em Madrid no dia 19 de julho, na presença de delegados de Espanha, França, Bélgica, Argélia, Alemanha, Portugal e de uma delegação da Frente Polisario dirigida por Omar Mansour.

Depois de ter analisado a evolução da causa saharaui no seio das principais instituições internacionais, nomeadamente a ONU, a União Africana e a União Europeia, a Task Force denuncia o posicionamento de certos Estados a favor da proposta de autonomia única marroquina. É urgente que prossigam as negociações iniciadas sob os auspícios das Nações Unidas para a concretização do direito inalienável à autodeterminação do povo saharaui, o fim da ocupação marroquina e da pilhagem dos recursos naturais do Sahara Ocidental e a libertação de todos os presos políticos detidos nas prisões marroquinas. O Grupo de Trabalho denuncia os acordos de Abraão entre Marrocos e Israel, que permitem à entidade sionista apoiar a guerra de Marrocos contra a Frente Polisario e contribuir para a pilhagem dos recursos naturais saharauis.

 


A Task Force congratulou-se com o êxito da conferência sobre geminação realizada em Bolonha no início de julho. Registou os preparativos para o 47.º EUCOCOCO, a realizar em Toledo no próximo mês de dezembro, e definiu os temas e objectivos. Agradeceu ao Comité de Solidariedade de Toledo e ao CEAS por acolherem e organizarem a 47ª EUCOCOCO. Apoia a mobilização da sociedade civil e a sua participação nos preparativos. A Task Force foi informada dos preparativos de duas grandes conferências internacionais que, em 2024, reunirão os grupos interparlamentares "paz para o povo saharaui" e o fórum de juristas internacionais para a defesa dos direitos inalienáveis do povo saharaui à sua independência.

Por último, o Grupo de Trabalho definiu o seu programa que visa, por um lado, exercer pressão sobre as instituições europeias, contrariando as actividades de lobbying marroquinas e instando-as a respeitar os acórdãos pertinentes do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias e, por outro lado, preparar as delegações que se deslocarão à 4.ª Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, no próximo mês de outubro.

A Task Force reunir-se-á novamente em Paris, em setembro.

Bruxelas, em 20 de julho de 2023.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Caso Pegasus: Espanha encerra provisoriamente a sua investigação

 
O juiz responsável pelo caso da pirataria informática dos telefones de quatro ministros justifica a sua decisão com a "absoluta" falta de cooperação de Israel.

 

Le Monde, 14 de Julho 2023, p. 3 . Artigo de Damien Leloup (à Paris) e Sandrine Morel

 

Um arquivamento provisório, mas com fortes probabilidades de se tornar definitivo: na segunda-feira, 10 de julho, o juiz José Luis Calama, responsável pelo processo relativo à espionagem de quatro ministros do Governo espanhol pelo software espião Pegasus, decidiu arquivar provisoriamente a investigação. Num comunicado de imprensa, explicou que tinha tomado esta decisão devido à "absoluta falta de cooperação judicial por parte de Israel".

Em maio de 2022, os serviços de segurança espanhóis anunciaram que tinham descoberto vestígios de tentativas de infeção pelo Pegasus nos telemóveis de quatro ministros do governo de Pedro Sanchez. Os serviços secretos espanhóis conseguiram confirmar que dois terminais particularmente sensíveis tinham sido infectados pelo poderoso spyware da empresa israelita NSO Group: os telemóveis oficiais de Pedro Sanchez e da sua ministra da Defesa, Margarita Robles. Segundo o diário El Pais, os piratas informáticos extraíram 2,6 gigabits de dados do telemóvel de José Manuel Sanchez e 9 megabits do da sua ministra.

Estas revelações levaram a que o caso fosse remetido para um juiz da Audiência Nacional, o tribunal competente para os casos de terrorismo ou de ameaças à segurança do Estado. Mas, após mais de um ano de processo, a investigação está parada. O juiz Calama queria interrogar os directores do Grupo NSO, a empresa israelita que comercializa o Pegasus, e tinha pedido a colaboração das autoridades israelitas para os obrigar a comparecer. As autoridades israelitas "não responderam à carta rogatória" e "provavelmente nunca responderão", escreve o juiz, que considera que as análises técnicas efectuadas pelos serviços secretos espanhóis não permitem identificar os autores da pirataria informática.

Em meados de junho, o Parlamento Europeu adoptou o relatório da sua comissão de inquérito sobre o Pegasus e o spyware, lançada após as revelações do Le Monde e dos seus parceiros no consórcio Forbidden Stories, no verão de 2021. Nas suas recomendações, o relatório insta a Espanha a realizar uma investigação aprofundada sobre a pirataria informática do seu governo. Este pedido foi fortemente criticado pela imprensa marroquina, com os serviços secretos do país a surgirem como os principais suspeitos.

 

Braço-de-ferro com Marrocos

Na altura em que as infecções foram detectadas pelos serviços espanhóis, a Espanha estava envolvida num braço de ferro diplomático com Marrocos. Em 20 de maio de 2021, Rabat afrouxou os controlos na fronteira com o enclave de Ceuta, permitindo a entrada ilegal de mais de 8000 imigrantes em Espanha. Na altura, Robles descreveu este afluxo repentino como "um ataque às fronteiras de Espanha, mas também às fronteiras da União Europeia". Rabat nega ter comprado ou utilizado o Pegasus, apesar de as provas técnicas apontarem para Marrocos em dezenas de casos documentados de pirataria informática em França ou Marrocos, incluindo tentativas nos telefones de Emmanuel Macron e de vários ministros franceses.

Em Espanha, o Pegasus é também um assunto particularmente sensível: o Estado espanhol não só foi vítima do software, como também foi seu cliente. Há um ano, o Governo admitiu que os seus serviços secretos tinham efetivamente utilizado o Pegasus para vigiar os activistas catalães pró-independência. O escândalo levou à queda do diretor do Centro Nacional de Informações, Paz Esteban, e levou o Governo de Sanchez a anunciar uma reforma dos serviços de informações.

No momento em que a Espanha se prepara para realizar eleições legislativas antecipadas a 23 de julho, o caso Pegasus esteve em destaque no debate eleitoral de segunda-feira à noite entre Pedro Sanchez e o seu rival, o candidato do Partido Popular e favorito às eleições, Alberto Nunez Feijoo. Numa altura em que os dois homens discutiam a mudança de posição da Espanha em relação ao Sahara Ocidental, Feijoo levantou dúvidas sobre as razões da suspensão da investigação: "O que se passou com a Pegasus e com o seu telemóvel? Que informações obtiveram sobre si e, o que é mais importante para mim, que informações sobre Espanha? O juiz arquivou o processo porque o senhor não colaborou. Esta é uma questão particularmente sensível em Espanha. Para além de ser vítima do software, o Estado espanhol era também um cliente. O que é que negociou com Marrocos?", perguntou ao chefe de governo cessante, sugerindo a existência de um pacto secreto com Rabat. Em 2022, Madrid alinhou com o plano de autonomia marroquino, considerando-o a forma "mais credível" de resolver a questão saharauí, para pôr fim à crise diplomática entre os dois países.

A declaração do magistrado justifica o arquivamento do processo sem implicar o Governo espanhol. Mas as críticas do candidato conservador não são surpreendentes nem novas. De facto, como salienta o juiz, é possível utilizar os "canais diplomáticos" para pressionar Israel a respeitar os tratados internacionais de cooperação jurídica. No entanto, o Governo não fez qualquer tentativa de explorar esta via, nem prestou grande atenção ao caso depois de ter reconhecido que os telefones tinham sido infectados.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

De acordo com Rabat, Israel reconhece "a soberania de Marrocos sobre o Sahara Ocidental".

Mohamed VI e Netanyahu


Marrocos tem vindo a pressionar a nação hebraica desde que reataram relações em 10 de dezembro de 2020, pelo que esta decisão, que coincide com a suspensão do acordo de pesca UE-Marrocos, é muito importante para Rabat.

Agências 17-07-2017 - Marrocos acaba de anunciar que o Estado de Israel acaba de reconhecer a sua soberania sobre o território ocupado do Sahara Ocidental. O rei de Marrocos, Mohamed VI, recebeu uma carta do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na qual este reconhece "a soberania de Rabat sobre o território ocupado da antiga colónia espanhola do Sahara Ocidental".

Na carta, o primeiro-ministro israelita assegura ainda que a decisão, tomada uma semana antes das eleições legislativas em Espanha, será "refletida em todos os actos e documentos pertinentes do governo de Israel".

Na carta, Netanyahu, segundo Rabat, afirma ainda que a decisão será "transmitida à ONU, às organizações regionais e internacionais de que Israel é membro, assim como a todos os países com os quais Israel mantém relações diplomáticas".

Na sua carta ao soberano alauita, o primeiro-pinistro israelita informa que Israel está a examinar positivamente "a abertura de um Consulado na cidade de Dakhla" [segunda maior cidade do Sahara Ocidental ocupado, no sul do território] , como parte da implementação desta decisão de Estado.

Os Estados Unidos foram o primeiro país a tomar esta decisão, em dezembro de 2017, que rompeu com décadas de consenso internacional sobre a Cidade Santa, cuja parte oriental é ocupada por Israel desde 1967 e reivindicada pelos palestinianos como capital do seu Estado.

A data do «anúncio» não foi escolhida ao acaso - a 17 de Julho - data em que o Protocolo do Acordo sobre Pescas assinado entre a União Europeia (UE) e o Reino de Marrocos não voltará a ver a luz do dia no mesmo formato. O Tribunal Geral da UE confirmou a sua ilegalidade, em Setembro de 2021, pelo facto de incluir o território não-autónomo do Sahara Ocidental, sobre o qual nem a UE, nem Marrocos, têm qualquer jurisdição. Segundo o Tribunal, é ao povo saharaui que cabe gerir os seus recursos naturais, e a Frente POLISARIO é legalmente o seu representante. Aguarda-se e aguarda a Comissão da UE que o Tribunal de Justiça da União Europeia divulgue a sua sentença final após o recurso interposto pela Comissão. A decisão do TJUE será agora definitiva e sem recurso.


Embaixada de Marrocos em Jerusalém?

Após a divulgação pelo monarca marroquino da carta do primeiro-ministro israelita (parece que agora a diplomacia em Marrocos se faz sempre por «alegadas» cartas, à margem das instituições internas e de países terceiros...) será agora de esperar a abertura das respectivas embaixadas. Marrocos junta-se assim aos EUA, que ali mantém a sua representação diplomática desde que a administração do anterior presidente Donald Trump o impôs, e a países como a Guatemala, Honduras e Kosovo, já que a generalidade dos países se recusou a seguir o passo dado por Trump e a própria Austrália reverteu a sua decisão.

A maioria dos países, incluindo Portugal, mantém as suas embaixadas em Telavive.

Presume-se, também, que Mohamed VI continuará a desempenhar o papel de Presidente do Comité Al-Quds (O ‘Sagrado’, o nome árabe para Jerusalém).

Marrocos expulsa da universidade pública o professor, historiador e conhecido dissidente Maati Monjib


Maati Monjib

Madrid (ECS). 17-07-2023 - O historiador marroquino e defensor dos direitos humanos Maati Monjib anunciou na quinta-feira que tinha sido suspenso da sua universidade, qualificando a medida de "ilegal" com o objetivo de "intimidar" os professores críticos do regime de Mohamed VI, noticiou o diário L'Orient-Le Joure.Rei do Marrocos anuncia reconhecimento israelense do Saara Ocidental

Maati Monjib, de 61 anos, disse aos jornalistas que tinha iniciado uma greve de fome de três dias na quarta-feira para protestar contra a decisão. O professor foi notificado a 1 de março da sua suspensão "até nova ordem" da sua cátedra no Instituto de Estudos Africanos (IEA) em Rabat. Esta suspensão é acompanhada pelo não pagamento do seu salário", acrescentou.

Tratam-se de "decisões ilegais e de uma forma de assustar e aterrorizar a comunidade docente ou os funcionários públicos" que exprimem posições críticas em relação ao poder, lamenta o historiador. Esta suspensão é motivada "pelo processo judicial contra mim e pela minha condenação há dois anos, mas é um pretexto", disse Monjib à AFP.

O defensor dos direitos humanos foi condenado em primeira instância, no início de 2021, a um ano de prisão por "fraude" e "atentado contra a segurança do Estado", no final de um julgamento em 2015. Uma nova audiência de recurso está marcada para 11 de maio de 2023.

 

Todos os motivos servem de perseguição: se não é fraude, é atentado ao Corão...

Na segunda-feira, 3 de julho, - escreve a publicação Maroc Hebdo - o Conselho Local de Oulémas (líderes religiosos), do município marroquino de Skhirat-Témara, denunciou "a publicação por um indivíduo de Marrocos (referindo-se ao historiador Maati Monjib) de declarações que afirmam que a queima do Alcorão Sagrado, que teve lugar num país estrangeiro, é um ato que não deve suscitar indignação e não constitui um crime, desde que não seja acompanhado de homicídio".

Estas afirmações, prossegue o comunicado de imprensa, também "vão contra o consenso internacional de que o caminho para a paz passa necessariamente pelo respeito pelos valores sagrados das religiões", bem como contra a razão, "porque nenhuma mente com bom senso vê qualquer sentido em ofender um único indivíduo, a fortiori quando se trata de prejudicar milhões de pessoas".

Trata-se de uma "manifestação de inimizade contra a nação marroquina, que guarda no seu coração o Alcorão Sagrado", sublinha o Conselho, afirmando que "este discurso absurdo e irresponsável alimenta o ódio e incita à violência e ao terrorismo".

Por seu lado, Maati Monjib nega as acusações feitas pelo Conselho Local de Ulemás e afirma nunca ter defendido a queima do Corão na Suécia.

Numa mensagem publicada no Twitter, o historiador marroquino afirmou que se tratava de "uma perigosa campanha de incitamento ao ódio por parte dos meios de comunicação social ligados aos serviços secretos". Confirmo que tudo isto é uma mentira difundida pelos meios de comunicação social", continuou, reiterando a sua condenação do "ato odioso perpetrado por um extremista na Suécia".

 

 

Palmela solidária com o povo Saharaui na luta pela independência

Da direita para a esquerda: Omar Mih, representante da F. Polisario, Álvaro Amaro, presidente da Câmara Municipal de Palmela, a ativista saharaui Mina Baali, a vereadora da CM de Palmela, Fernanda Pésinho e António Baptista da Silva, em representação da AAPSO
 

O Município de Palmela promoveu, a 15 de julho, no Auditório Municipal de Pinhal Novo - Rui Guerreiro uma Ação de Solidariedade com o Povo do Sahara Ocidental, que pretendeu sensibilizar a comunidade para a urgência da sua autodeterminação, liberdade e paz. A Ação contou com a participação da Ativista Saharaui Mina Baali e do representante da Frente Polisário em Portugal, Omar Mih, que elogiaram o Município por tomar esta iniciativa e pelo apoio a esta causa.

«O que estamos a fazer hoje é um ato de cultura, liberdade e solidariedade», sublinhou o Presidente da Câmara Municipal, Álvaro Balseiro Amaro, lembrando que «estas questões precisam de ter outra amplitude». Palmela, lembrou, é um «território intercultural» e, com esta iniciativa, pretende-se «fazer sentir a estes povos que ainda estão a lutar pela autodeterminação que Palmela está profundamente empenhada com estas causas».




Esta Ação enquadra-se no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 16 - Paz, Justiça e Instituições Eficazes e surge na sequência da moção sobre esta causa aprovada em janeiro, uma «moção coerente, concreta e ponderada, que mereceu a aprovação de todas as forças partidárias» representadas no Executivo municipal, lembrou o Presidente. «Há que continuar a refletir sobre estas matérias. Contem connosco e oxalá tenhamos outros momentos para conhecer melhor a cultura do povo Saharaui», apelou.

A ativista Mina Baali, que tem sido vítima das violações dos direitos sociais, políticos e económicos vividos por este povo desde a ocupação por Marrocos em 1975, partilhou o seu testemunho e confessou sentir-se «honrada» pela oportunidade de estar em Palmela, enquanto embaixadora das zonas ocupadas no exterior. «Fui vítima dessas violações e de desaparecimento forçado aos 16 anos», contou, realçando que o que já viveu é «só um modelo do que sofre o povo Saharaui».

 

Mina Baali lamenta que não haja «nenhum tipo de pressão da comunidade internacional sobre Marrocos» e defende que a «solução deve ser por via pacífica». Por isso, aproveitou a ocasião para deixar um «apelo à sociedade civil para que siga com este apoio solidário e pressione Marrocos».

O Representante da Frente POLISARIO (Frente Popular para a Libertação de Saguia El-Hamra e Rio de Oro) em Portugal, Omar Mih, agradeceu ao Município por este «gesto excelentemente realizado». «Portugal e as suas instituições podem ajudar-nos a resolver pacificamente o conflito», acredita, expressando o desejo de que Palmela seja «o primeiro Município a fazer um pacto de amizade e irmandade com os sarahauis».

 


Visite a Exposição de Fotografia “Cinco Olhares sobre o Sahara Ocidental”

Durante a Ação, foi inaugurada a Exposição de Fotografia “Cinco Olhares sobre o Sahara Ocidental”, da Fundação José Saramago, que pode ser visitada até 31 de julho. A mostra apresenta 25 fotografias de Helena Costa, José Frade, Reinaldo Rodrigues, Inês Seixas e José Baguinho, feitas nos campos de refugiadas/os do Sahara entre 1995 e 2009, e integra a campanha “Uma Biblioteca no Deserto”, iniciativa da FJS e de um conjunto de outras entidades.

Para além da Exposição, pode também apreciar o Painel Alusivo ao Sahara Ocidental e à Luta do Povo Saharaui pela Independência, que foi pintado durante a iniciativa pelo Ateliê El Warcha com a Associação Juvenil Os INdiferentes, de Pinhal Novo, no âmbito do Projeto People & Planet.

O programa incluiu ainda a projeção do Filme “Insumisas - Mujeres en Lucha en él Sáhara Occidental”, do Instituto de Estudios sobre Desarrolo y Cooperación Internacionale, e a iniciativa “Um Chá no Deserto”, de recriação do Ritual do Chá do Sahara Ocidental, servido com Fogaças de Palmela.

A Ação de Solidariedade contou com o apoio da Associação de Amizade Portugal - Sahara Ocidental, Fundação José Saramago e Instituto Marquês de Vale Flôr (Projeto People & Planet).

(Texto do Comunicado de Imprensa da Câmara Municipal de Palmela)

domingo, 16 de julho de 2023

Fim do Acordo de Pescas UE-Marrocos: o início de uma nova era

 COMUNICADO DE IMPRENSA

 


Fim do Acordo de Pescas UE-Marrocos:

o início de uma nova era

 

Ao expirar, a 17 de Julho, o Protocolo do Acordo sobre Pescas assinado entre a União Europeia (UE) e o Reino de Marrocos, é praticamente certo que ele não voltará a ver a luz do dia no mesmo formato. O Tribunal Geral da UE confirmou a sua ilegalidade, em Setembro de 2021, pelo facto de incluir o território não-autónomo do Sahara Ocidental, sobre o qual nem a UE, nem Marrocos, têm qualquer jurisdição. Segundo o Tribunal, é ao povo saharaui que cabe gerir os seus recursos naturais, e a Frente POLISARIO é legalmente o seu representante.

O movimento de libertação saharaui apresentou ao Tribunal da UE a sua primeira queixa, contra a Comissão Europeia, há mais de 10 anos (Novembro 2012), nesse caso pela entrada em vigor do Acordo sobre produtos agrícolas. Um ano depois (Dezembro 2013) o Parlamento Europeu votou a favor de um novo Protocolo relativo às Pescas e a Frente POLISARIO recorreu novamente ao Tribunal europeu (Março 2014). As sentenças dos Tribunais europeus de 2015, 2018 e 2021 foram todas no mesmo sentido: os citados Acordos são ilegais. A Comissão e o Conselho da UE recorreram sempre, mas agora espera-se, até ao final deste ano, a sentença final, que já não admite recurso, sobre estes dois Acordos e nada indica que as suas conclusões sejam diferentes das anteriores.

Cada veredicto tem tornado mais claro o que está em causa: em 2018 o Tribunal explicitou que são considerados recursos saharauis tanto o território, quanto as suas águas e o respectivo espaço aéreo, e em 2021 esclareceu que a exploração destes recursos necessita do consentimento do povo saharaui e que este é representado pela Frente POLISARIO, à qual reconheceu personalidade jurídica.

Um antecedente ilustra esta posição: o Acordo sobre Aviação assinado em 2006 entre a UE e Marrocos foi legalmente contestado pela Frente POLISARIO em 2018 e, nesse ano, o Tribunal de Justiça da UE declarou que o mesmo não se aplicava ao Sahara Ocidental. Em 2020, um documento da Comissão Europeia clarificou que o espaço aéreo do Sahara Ocidental não fazia parte de nenhum acordo europeu sobre aviação e que não havia intenções de o negociar.

Chegou ao fim a ilusão, na União Europeia, de que se pode ludibriar indefinida e impunemente o Direito Internacional. Foi preciso mais do que uma década de trabalho árduo e persistente. Agora impõe-se que Estados e empresas deixem de comprar ao poder ocupante, Marrocos, fosfatos, pescado, produtos agrícolas e energias renováveis, entre outros bens produzidos no Sahara Ocidental. O interlocutor será a Frente POLISARIO.

É também o momento, a oportunidade, para os Estados-membro da UE assumirem que é fundamental resolver a questão do Sahara Ocidental, dando ao povo saharaui a possibilidade de se exprimir livremente sobre o seu futuro, através de um referendo justo e credível, supervisionado pela ONU.

Portugal pode, deve, e tem todas as condições para ter um papel activo neste processo. A sociedade portuguesa, que tanto vibrou com a autodeterminação do povo timorense, por certo apoiará uma acção decidida a favor dos direitos do povo do Sahara Ocidental.

Lisboa, 14 de Julho de 2023

PP e PSOE vetam uma carta no Parlamento Europeu a favor do Sahara Ocidental

 

Os líderes do PSOE e do PP em campanha eleitoral


Cerca de trinta eurodeputados pedem numa carta a Gianni Infantino que não haja jogos do Campeonato do Mundo de 2030 no Sahara Ocidental ocupado.

 

Madrid (ECS) 10 julho 2023- Os eurodeputados do PP e do PSOE recusaram-se a assinar uma carta que pede ao presidente da FIFA, Giovanni Infantino, que retire o Sahara Ocidental do programa de Marrocos para acolher o Campeonato do Mundo de Futebol de 2030.

De acordo com o El Confidencial, a carta lembra a Infantino que "a realização de eventos internacionais, como jogos de futebol, em territórios ocupados pode ser contrária ao direito internacional, pois violaria as obrigações da potência ocupante de não explorar os recursos e a população do território ocupado em seu próprio benefício, conforme declarado na Quarta Convenção de Genebra de 1949 e outras regras do direito internacional humanitário".

"O Campeonato do Mundo não pode contribuir para legitimar uma ocupação ilegal", acrescenta o documento. "Caso contrário, a FIFA tornar-se-ia cúmplice desta situação", conclui.


Estádio de futebol que o ocupante Marrocos está a construir em Dakhla, no sul do Sahara Ocidental

De acordo com o jornal espanhol, entre os signatários da carta encontram-se oito eurodeputados espanhóis, Miguel Urbán (promotor da iniciativa), membro da Esquerda no Parlamento Europeu, e quatro outros do mesmo grupo parlamentar (Idoia Villanueva, María Eugenia Rodríguez Palop, Sira Rego e Manu Pineda). De acordo com a mesma fonte, Ana Miranda, do Bloque Nacionalista Galego (BNG), Javier Nart, do Ciudadanos, e Izaskun Bilbao, do Partido Nacionalista Vasco (PNV), também assinaram o documento. Cinco socialistas europeus, mas nenhum de Espanha, também o assinaram. Nenhum membro do Partido Popular Europeu, do qual o PP espanhol faz parte, assinou a carta. Marrocos está a fazer pressão para que a FIFA realize os jogos do controverso Campeonato do Mundo no Sahara Ocidental. Nos últimos meses, as autoridades de ocupação marroquinas organizaram jogos no estádio que estão a construir na cidade ocupada de Dakhla. 30 eurodeputados de cinco grupos parlamentares enviaram uma carta ao presidente da FIFA, Giovanni Infantino, na segunda-feira.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Mina Baali - uma história real, uma mulher vítima da ocupação marroquina

 

 "Conheci de perto a desaparição cruel", conta ao periódico “Brasil de Fato” Mina Baali, sequestrada por policiais marroquinos duas vezes, em 1990 e 1991. Hoje ela é uma das 42 delegadas do último Congresso da Frente Polisário, que vivem nas zonas ocupadas pelo Marrocos.

Mina Baali é filha de militantes da Frente Polisario e tinha apenas 2 anos quando aconteceu a invasão do Saara Ocidental pelo Marrocos. Aos 16 anos, foi sequestrada pela primeira vez. "Fui torturada de muitas formas. Nos primeiros 6 dias fiquei de pé, sem poder comer, nem beber nada, era obrigada a ficar caminhando dentro de uma sala, sem poder sentar ou deitar em qualquer momento", conta.

Mina também fazia parte de uma organização de jovens saarauis que promoviam ações diretas, como protestos e pichações, denunciando o colonialismo marroquino.

"Entre outras coisas tentaram queimar minhas unhas com fogo, fui sexualmente violentada, e soltaram cachorros em cima de mim para que me mordessem. Tudo isso para me obrigar a responder suas perguntas", relata.

Segundo Mina Baali, depois da pressão internacional sobre Marrocos em relação ao seu trato com os saarauis, agora o exército marroquino utiliza outros métodos, que consistem em 'fazer desaparecer' uma pessoa por um tempo curto, como dois ou três dias. Tentam colher algum tipo de informação e em seguida a abandonam em qualquer ponto distante das cidades.

Há ainda casos que eles forçam os detidos a assinar termos que sugerem crimes, como narcotráfico ou roubo, “para simular que são um regime democrático e manchar a imagem do povo saaraui que vive na zona ocupada de maneira ilegal pelo Marrocos”, conta Bali.

"Agora é comum que qualquer pessoa que diga alguma coisa contra o regime marroquino seja punido com 20 anos de prisão", complementa.

Um dos casos mais emblemáticos foi de Sultana Khaya, que passou 19 meses sob cárcere privado na sua própria casa, em Bojador, Saara Ocidental ocupado. O caso aconteceu entre 2020 e 2021. Com ajuda de sua família, Sultana pode documentar o assédio do exército marroquino, que chegou a soldar a porta da sua casa para mantê-la presa.

“Durante esse período cortaram os serviços de água e luz, militares marroquinos invadiam nossa casa, enquanto paramilitares faziam um cerco na parte de fora”, relata.

 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

PÚBLICO/OPINIÃO - Timor-Leste e Sara Ocidental: um comentário

A proposta de Marrocos para o Sara Ocidental apenas oferece como alternativas um estatuto de autonomia no quadro da soberania do Reino de Marrocos ou a permanência no Reino de Marrocos sem autonomia.

 

Rui Graça Feijó

Investigador do Centro de Estudos Sociais/Universidade de Coimbra

PÚBLICO - 9 de Julho de 2023

 

Este jornal publicou um artigo do senhor Othmane Bahnini no qual este discorre sobre a autodeterminação de Timor-Leste e o que designa por “Sara marroquino”, procurando acentuar as diferenças entre os dois casos. Diga-se desde já que, à luz da lei internacional, não existe “Sara marroquino”. Se se consultar o site da ONU sobre “territórios não autónomos”, verifica-se que logo à cabeça aparece o “Sahara Ocidental”, que entrou nesta categoria de territórios em 1963 (quando era administrado pela Espanha), e nela permanece.

É certo que a Espanha ensaiou um processo de descolonização desse território, tendo comunicado à ONU em 26 de Fevereiro de 1976 que abdicava do seu estatuto de “potência administrante” – mas essa declaração unilateral não deu lugar nem ao reconhecimento de jure da situação criada (a ocupação do território pelas forças do Reino de Marrocos e da República Islâmica da Mauritânia, que se viria a retirar em 1979), nem à imputação de estatuto de “potência administrante” a qualquer outro país. Pelo contrário: a ONU tem afirmado sucessivas vezes que assiste ao povo do Sara Ocidental o direito à autodeterminação nos termos das suas resoluções do início da década de 1960. Nesse sentido, mantém-se no terreno, desde 1991, e com mandatos anualmente renovados, a Minurso – Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sara Ocidental, sinal inequívoco que a situação actual carece de legitimidade e de uma solução em linha com o estatuído nas resoluções sobre autodeterminação.

O senhor Othmane Bahnini afirma – e correctamente – que o Reino de Marrocos “apresentou ao secretário-geral da ONU a ‘Iniciativa Marroquina para a negociação de um estatuto de autonomia para a região do Sara’. Infere-se que considera haver um claro paralelismo entre essa proposta e aquela que foi apresentada ao povo timorense em 1999. Então, fruto das negociações sob a égide do secretário-geral da ONU, Portugal (com apoio dos nacionalistas timorenses) e a Indonésia acordaram na realização de um referendo no qual o que estava em causa era a concessão de um estatuto de autonomia para Timor-Leste no seio da República Indonésia – referendo esse que se viria a realizar a 30 de Agosto de 1999.

 Só que há uma diferença fundamental.

No acordo de Nova Iorque de 5 de Maio de 1999 estipulava-se (artigo 6.º):

Se o secretário-geral apurar, com base no resultado da consulta popular e em conformidade com o presente acordo, que o enquadramento constitucional para uma autonomia especial proposto não é aceite pelo povo de Timor Leste, o Governo da Indonésia dará todos os passos necessários, em termos constitucionais, para pôr termo ao seu vínculo com Timor Leste, restaurando desse modo, nos termos da lei indonésia, o estatuto detido por Timor Leste antes de 17 de Julho de 1976, e os Governos da Indonésia e de Portugal e o secretário-geral acordarão os moldes de uma transferência pacífica e ordeira da autoridade em Timor Leste para as Nações Unidas.

Quer dizer: os timorenses tinham uma opção entre permanecer no seio da soberania indonésia desfrutando de uma “autonomia especial” ou ver reconhecido o seu direito à independência.



Ora, a proposta do Reino de Marrocos para o Sara Ocidental feita a 11 de Abril de 2007 (Documento ONU S/2007/206) é diferente. O que é oferecido é uma alternativa entre um estatuto de autonomia no quadro da soberania do Reino de Marrocos (caso o resultado do referendo aponte nesse sentido), ou a permanência no Reino de Marrocos sem estatuto de autonomia... Em qualquer dos casos, a soberania marroquina não entra na equação. Regressar ao statu quo ante – como se plasma no acordo sobre Timor-Leste – não é uma hipótese admitida pela iniciativa marroquina.


O Sara Ocidental regressar ao statu quo ante – como se plasma no acordo sobre Timor-Leste – não é uma hipótese admitida pela iniciativa marroquina


Ora, a Resolução 1541 (XV) da AG da ONU (Dezembro de 1960) contempla três possíveis saídas de uma situação de dependência colonial: a independência (“emergência como Estado soberano independente”), a “livre associação a uma nação independente”, ou a “livre integração numa nação independente” (Princípio VI). Para cada uma dessas hipóteses são estipuladas condições, sendo que para as duas últimas a resolução determina (Princípios VII, VIII e IX) que tal solução depende “de uma resolução livre e voluntária dos povos dos territórios em questão, exercida através de processos democráticos e informados”, e ainda que “resultem da vontade livremente expressa dos povos em questão, agindo com plena consciência da alteração de estatuto que tal implica, tendo os seus desejos sido expressos através de processos informados e democráticos, conduzidos de forma imparcial, e baseados no sufrágio universal de adultos”.

Parece não haver lugar a dúvidas: o processo tem de ser democrático, com base numa eleição por sufrágio universal de adultos (que é o ponto que mais polémica tem levantado no caso vertente, havendo diferentes ideias sobre quem deve pertencer ao universo de votantes). Mas tem de contemplar igualmente as diferentes hipóteses previstas na Resolução 1541 (XV), sem o que o carácter devidamente informado do processo não se verificaria, tanto mais que é sabido haver uma significativa parte da população que deseja a independência.


O processo tem de ser democrático, com base numa eleição por sufrágio universal de adultos


Porém, a proposta do Reino de Marrocos apenas considera, sob diversas modalidades, a integração do Sara Ocidental na sua soberania – o que nega frontalmente os pressupostos do exercício da autodeterminação nos termos das resoluções da ONU. Ora, antes de mais, é essa a questão que tem de ser respondida – o estatuto particular do território no seio de Marrocos é uma decorrência de um problema anterior, que pode ou não ser pertinente, dependendo da inclinação do povo do Sara Ocidental para se considerar marroquino.

Queira o Reino de Marrocos aceitar a inspiração do acordo referente a Timor-Leste e um passo de gigante será dado.

 

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Câmara Municipal de Palmela organiza ação de Solidariedade com o Povo do Sahara Ocidental


Ação de Solidariedade com o Povo do Sahara Ocidental - a última colónia em África - PINHAL NOVO - Auditório Municipal Rui Guerreiro - Dia 15 de Julho - 16h30

A exposição fotográfica ficará patente até ao dia 31 do corrente mês.

Apelamos à vossa colaboração na divulgação do evento pelos vossos contactos, pessoais e institucionais.

Vacaciones en Paz (Férias em Paz): 2.800 crianças saharauís chegam a todas as partes de Espanha


No passado mês de junho, o Conselho de Ministros aprovou a autorização do programa Vacaciones en Paz (Férias em Paz). Durante décadas, este projeto levou milhares de crianças saharauís a Espanha durante os meses de verão. Só foi interrompido durante 2020 e 2021 devido à pandemia de covid-19, bem como em 1998 devido à expetativa de um referendo sobre a autodeterminação do Sahara Ocidental, que nunca se realizou.


Este ano, de acordo com os organizadores do projeto, espera-se que 2.800 crianças saharauís cheguem a todas as partes de Espanha. O objetivo de Vacaciones en Paz é que as crianças saharauís possam passar alguns meses com famílias espanholas de acolhimento, por um lado para escapar ao calor intenso e sufocante desta época do ano nos campos de refugiados de Tindouf (Argélia).



Por outro lado, a estadia também lhes permite efetuar exames médicos de difícil acesso no seu local de residência habitual. Além disso, segundo as organizações de solidariedade, deveria servir para visualizar a causa saharaui no conjunto da sociedade. Ainda mais numa altura complicada, após a decisão do governo de Pedro Sánchez de apoiar os planos de autonomia de Marrocos para o território.

domingo, 9 de julho de 2023

Violação dos Direitos Humanos - JUNHO SAHARAUI 2023

Dia 1. - Cheikh Bamba Lefkir, 35 anos, é detido, maltratado e impedido de visitar a sua irmã Mahfouda, que se encontra cercada em sua casa, bem como Lahbib Boutenguiza, que já tinha sido raptado. Membro do comité executivo do CODESA, é agredido física e verbalmente e, durante a noite, são atiradas pedras às janelas e à porta da sua casa.

 

3. - As advogadas espanholas Inés Miranda e Lola Travieso são expulsas de El Aaiún, capital do Sahara Ocidental, onde se tinham deslocado para investigar as alegações de graves violações dos direitos humanos denunciadas por familiares de presos políticos saharauis perpetradas pelas forças de ocupação marroquinas. Acreditadas pelo Consejo General de la Abogacía Española, as advogadas foram detidos "ilegalmente" e receberam "tratamento humilhante" durante várias horas, segundo a Associação Internacional de Juristas para o Sahara Ocidental (AIJS).

Juristas para o Sahara Ocidental (IAJUWS). O presidente do governo, os ministros dos Negócios Estrangeiros e do Interior, a ministra da Igualdade, Irene Montero, e o presidente das Ilhas Canárias foram informados da deslocação. Vários relatores da ONU, assim como o secretário-geral da ONU e o Alto Comissariado para os Direitos do Homem, tiveram igualmente conhecimento da missão.


3. - O Comité para a Proteção dos Civis Saharauis do Coletivo dos Defensores dos Direitos do Homem no Sahara Ocidental (CODESA) afirma que Marrocos desencadeou uma repressão sem precedentes contra os activistas saharauis, que se vem juntar à repressão de que já são alvo por parte do aparelho civil e militar marroquino. Dezenas de activistas saharauis são submetidos a ferozes e sistemáticas campanhas racistas e repressivas em El Aaiún. Esta campanha repressiva afecta a defensora saharaui dos direitos humanos Mahfouda Bamba Lefkir, 39 anos, e a jornalista saharaui Salha Boutenguiza, 38 anos, que têm sido constantemente agredidas física e verbalmente, assim como os seus familiares. O bloguista, jornalista e militante político saharaui Yahdih Sabi, 43 anos, foi alvo de uma campanha sistemática de repressão desde a sua libertação, a 28 de maio, após dois anos de prisão, que se estendeu aos membros da sua família. Foi agredido física e verbalmente, tal como o seu irmão M'barek, 29 anos, e a sua irmã Oum ElHoussein, 32 anos, que se encontram cercados na sua casa em El Aaiún.

 

5. - Um grupo de funcionários e soldados em serviço na prisão de Kenitra, supervisionados pelo diretor do centro, inspeccionam as celas dos presos políticos saharauis do Grupo Gdeim Izik, ameaçando-os e destruindo os seus pertences. Os presos estão a cumprir penas pesadas, que vão até à prisão perpétua, na sequência do julgamento injusto a que foram sujeitos na cidade marroquina de Salé, entre 26 de dezembro de 2016 e 17 de julho de 2017, após o desmantelamento violento do acampamento de protesto organizado na região de Gdeim Izik, perto da cidade de El Aaiún ocupada. O julgamento foi condenado por várias organizações internacionais de direitos humanos, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch.

 

13. - As forças de segurança marroquinas prendem as irmãs saharauis Fatimetu, de 31 anos, e Jadiya Haidara, de 36 anos, na região de Amheiriz, a sul da cidade de Dakhla, e apresentam-nas ao Tribunal de Primeira Instância do Estado ocupante. Segundo os órgãos de comunicação social saharauis das zonas ocupadas, as autoridades marroquinas acusam falsamente as duas mulheres de terem agredido um suposto funcionário da sua administração, o que é desmentido pela família das mulheres e por outras testemunhas, que afirmam ter sido o funcionário marroquino a agredir a ativista Fátima Haidara quando esta tentava manifestar-se pacificamente contra a entrega de casas a colonos marroquinos, motivo pelo qual Fátima Haidar foi agredida no mês passado e sofreu ferimentos na cabeça. As autoridades marroquinas não apresentam provas das suas acusações. Recentemente, as autoridades marroquinas prenderam cinco mulheres saharauis na cidade de Smara quando estas se manifestavam para exigir os seus direitos, protesto que foi brutalmente reprimido.

 

23. - O Coletivo dos Defensores Saha-rauis dos Direitos do Homem no Sahara Ocidental (CODESA-SO) apela à criação de um mecanismo internacional de proteção dos civis saharauis na parte ocupada do Sahara Ocidental face à crescente repressão e às graves violações dos direitos humanos por parte das forças de ocupação marroquinas. Considera necessário alargar o círculo de solidariedade com os presos políticos saharauis através de iniciativas a favor da sua libertação e da mobilização para denunciar as graves violações e a repressão desencadeada por Marrocos nas cidades ocupadas, onde dispersa os protestos pacíficos, restringe as actividades das organizações saharauis de defesa dos direitos humanos e intensifica a repressão contra os ativistas saharauis e as suas famílias com rusgas às suas casas.