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Hassan Zerouali, ativista saharaui |
O jornal 'Público' [de Espanha] entrevista em Dakhla ativistas saharauis que vivem sob a ocupação e a repressão marroquinas no Sahara Ocidental.
Jose Carmona - Público - Dakhla (Sahara Ocidental) - 01/02/2025 | Não se preocupem, não podem entrar aqui”, promete um dos saharauis. A sua convicção é imprópria de quem vive numa ditadura. Enquanto se instala, um colega pega no telemóvel e regista, da janela, o que se passa na rua. O sol escurece à medida que a polícia se aglomera na praça.
As forças policiais marroquinas cercam a casa de Hassan Zerouali, ativista saharaui e residente em Dakhla, cidade ocupada por Marrocos, enquanto este é entrevistado pelo Público. O rapaz, de olhos tristes, já passou por todas as dificuldades e não tem medo de falar. Nascido em 2002 numa cidade colonizada por Marrocos desde os anos 70, Hassan sofre constantes detenções e é marginalizado pelo sistema por defender que Dakhla, tal como todo o Sahara Ocidental, pertence à República Árabe Saharaui Democrática.
“A partir daqui, comunico com a Frente Polisario. Vejo muita violência com os marroquinos, perseguem-nos por todo o lado”, diz do sofá da sua casa. A sala, com uma estética marcadamente saharaui, tem paredes cor-de-rosa. Antes de começar, o jovem tira a bandeira saharaui de um canto escondido e pendura-a na parede. Aos olhos estrangeiros, parece irrelevante; neste ambiente, é um ato revolucionário.
A última vez que fme sequestraram foi em janeiro”, conta em hassania, enquanto um amigo de língua espanhola faz de tradutor simultâneo. “Raptaram-me por ser militante da Frente Polisario e denunciar o que está a acontecer, mas também por desenhar a bandeira saharaui na rua”, explica Hassan ao Público. O rapaz, com a cara franzina, mostra os vídeos em que grafitou a bandeira do povo saharaui nas ruas do seu bairro. Isso custou-lhe uma detenção, um espancamento e a análise do seu telemóvel. Só foi libertado às cinco da manhã.
Manipulação a partir das escolas
A liberdade de pensamento é perseguida nos territórios ocupados e Dakhla não é exceção, embora Marrocos tente encobrir a falta de direitos humanos com turistas e praias tranquilas. A ditadura quer transformar Dakhla numa estância de férias e fazer com que todos olhem para o outro lado, independentemente da ocupação militar. “A colonização marroquina persegue todos os que exercem qualquer atividade no Sahara e proíbe-nos de falar sobre o assunto”, denuncia Hassan.
O que mais magoa os saharauis não é a dor física. O rapaz minimiza os espancamentos, porque o seu mal-estar vem à tona quando lhe é atribuído o rótulo de marroquino. É essa a sua ferida. Na escola, ensinam-nos desde muito cedo”, conta sobre a sua infância, ”que o Sahara pertence a Marrocos. Na escola ensinam-nos uma falsa história”, explica durante a entrevista.
Mas a falta de liberdades não se limita à educação. Hassan, tal como um grupo de ativistas saharauis, foi raptado e mantido numa esquadra da polícia durante sete horas, no mesmo dia em que o enviado da ONU para o Sara Ocidental, Staffan de Mistura, chegou a Dakhla. O intérprete aproveita e, por vezes, complementa a história com a sua experiência pessoal. “Hassan e o meu irmão foram raptados no dia em que o enviado da ONU chegou. Foram raptados quando a ONU nos veio visitar. Iam falar com ele e ele foi raptado durante sete horas. Torturaram-no e quando Mistura se foi embora, libertaram-nos”, explica o intérprete de Hassan, que ajuda a completar as escassas explicações do ativista.
A classificação do marroquino como colono tem também efeitos diretos na qualidade de vida. Hassan foi despedido do seu trabalho numa das docas do porto de Dakhla: “Fui despedido por ser saharaui, pelos meus pensamentos”, diz com a sua voz calma, lenta e desinteressada. “É impossível para um saharaui encontrar trabalho, é preciso ser um saharaui convencido de que o Sahara é Marrocos”, acrescenta o amigo e tradutor que, por vezes, assume o controlo da conversa.
A conversa está a chegar ao fim, mas Hassan quer deixar uma mensagem aos europeus que passam férias na sua cidade.
-Os turistas têm de saber que Marrocos está a fazer uma aposta. Trazem-nos para cá e levam-nos de volta sem que eles saibam o que se está a passar aqui.
Expulsão de Dakhla
Poucos minutos após o fim da conversa, o Público e o CEAS Sahara ( Coordenadora de Associações Solidárias com o Sahara em Espanha) são retirados da casa de Hassan pelas forças policiais marroquinas. Poucas horas depois, foram metidos num avião para Agadir e oficialmente expulsos da cidade de Dakhla.
Jose Carmona
Redactor de temas no «Público», é jornalista e historiador. Foi editor-chefe da secção Sociedade da edição espanhola da Infobae e cobriu notícias no Sahara.
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