domingo, 2 de novembro de 2025

Três meses de guerra de desgaste no Sahara Ocidental (agosto a outubro de 2025)


O Exército de Libertação do Povo Saharaui (ELPS) manteve, entre agosto e outubro de 2025, uma intensa campanha militar contra as forças marroquinas no Sahara Ocidental, com mais de 30 ataques registados em diferentes frentes. A ofensiva, concentrada ao longo do chamado “muro da vergonha” — a barreira de 2.700 quilómetros construída por Marrocos na década de 1980 — confirma a continuidade da guerra de desgaste iniciada em novembro de 2020, após o colapso do cessar-fogo mediado pela ONU.


Ofensiva contínuada

Os ataques saharauis, registados sobretudo nos setores de Mahbes, Guelta, Hauza, Smara, Farsía e Amgala – norte, nordeste e centro do Sahara Ocidental ocupado, visaram bases de artilharia, centros logísticos e comandos de batalhão do exército marroquino. Segundo comunicados do Estado-Maior do ELPS, as operações provocaram invariavelmente “perdas humanas e materiais significativas” entre as tropas de ocupação — números que não são confirmados de forma independente, já que a MINURSO, missão da ONU no terreno, limita-se a monitorizar os confrontos sem verificar baixas.


O «muro da vergonha», com 2.720 km de extensão.
Divide um território nacional e todo um povo...

Agosto: artilharia e mobilidade

Durante agosto, as forças saharauis realizaram nove ataques, com destaque para bombardeamentos em Mahbes, Hauza e Farsía. O comando marroquino em Grarat Alhatàsa foi atingido, e várias posições em Amgala e Guelta foram alvo de fogo concentrado de artilharia.

Setembro: foco no nordeste

Em setembro, a ofensiva intensificou-se com dez operações, a maioria nas regiões de Farsía e Guelta, incluindo ataques simultâneos a bases logísticas e postos fortificados. As ações mais significativas ocorreram a 23 e 24 de setembro, com bombardeamentos sucessivos em Gararat Achadida e Alfeiyin, na região de Farsía, no noirdeste do território do SO ocupado.


Outubro: ataques coordenados

O mês de outubro foi o mais ativo do trimestre, com pelo menos 12 ataques. As operações envolveram ações coordenadas de artilharia pesada e mobilidade tática, sobretudo nos sectores de Guelta e Mahbes, regiões de elevado valor estratégico. Entre os dias 16 e 31 de outubro, o ELPS atacou comandos de batalhão, sedes de artilharia e quartéis de retaguarda, incluindo um bombardeamento de grande escala em Gleib Alach (Amgala).




Guerra prolongada

Cinco anos após o fim do cessar-fogo de 1991, o conflito no Sahara Ocidental mantém-se numa fase de baixa intensidade, mas contínua, sem perspetivas de mediação eficaz.

Enquanto o Marrocos consolida o controlo das principais cidades a oeste do muro, a Frente Polisario afirma continuar a “lutar até à autodeterminação” do povo saharaui, denunciando o bloqueio político e a “inércia da ONU”.

Em três meses de combates, o Sahara Ocidental permanece o mesmo campo minado diplomático e militar de sempre — uma guerra silenciosa, sem fronteiras claras nem fim à vista. A resolução do Conselho de Segurança aprovada no dia 31 de outubro corre o risco de vir ainda deitar mais petróleo para a fogueira da guerra no Sahara Ocidental e conduzir a um aumento da tensão em toda aquela região do Norte de África.

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