quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Marrocos acusado de abusos graves contra jovens detidos após protestos, denuncia “The Guardian”



Marrocos está a ser acusado de detenções arbitrárias e abusos graves por parte das forças de segurança contra centenas de jovens manifestantes, num contexto de forte contestação social e a poucos dias do início da Taça das Nações Africanas, segundo uma investigação publicada pelo jornal The Guardian.

De acordo com relatos recolhidos pelo jornal britânico junto de famílias, advogados e organizações de direitos humanos, centenas de manifestantes da chamada “Geração Z 212” – referência ao indicativo telefónico do país – permanecem detidos após protestos ocorridos no final de setembro e início de outubro, os maiores desde a Primavera Árabe de 2011. As manifestações tiveram como principal motivação o subfinanciamento dos sistemas de saúde e educação.

Organizações como a Associação Marroquina de Direitos Humanos (AMDH), a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch denunciam espancamentos, maus-tratos, detenções sem mandado e julgamentos com graves falhas processuais. Segundo a Amnistia Internacional, mais de 2.400 pessoas estão a ser processadas em ligação aos protestos, incluindo participantes em manifestações pacíficas acusados de violência.

Famílias relataram ao The Guardian que jovens foram agredidos durante a detenção e em esquadras, privados de comida e água durante horas e pressionados a assinar declarações. Uma mãe afirmou que o filho, de 18 anos, perdeu dentes após espancamentos e voltou a ser agredido por se recusar a assinar documentos policiais. Há também denúncias de assédio sexual e insultos de cariz sexista contra manifestantes mulheres.

A situação agravou-se após um protesto na localidade de Lqliâa, perto de Agadir, onde três manifestantes morreram alegadamente após disparos das forças de segurança e pelo menos 14 ficaram feridos, incluindo crianças. As autoridades alegam que os manifestantes tentaram invadir uma esquadra.

Segundo a AMDH, dezenas de jovens já foram condenados a penas que chegam aos 15 anos de prisão, com relatos de ausência de advogados nas audiências, investigações insuficientes e violação do princípio da presunção de inocência.

Centenas de pessoas, incluindo menores, continuam detidas.

A Human Rights Watch considera que a repressão visou “enviar uma mensagem clara de intolerância à dissidência”. Apesar de o Governo marroquino ter anunciado reforços no investimento em saúde e educação após os protestos, organizações de direitos humanos afirmam que o clima de medo persiste, travando novas mobilizações.

Contactadas pelo The Guardian, as autoridades marroquinas rejeitam as acusações, garantindo que todas as detenções e julgamentos respeitaram as garantias legais e que não houve violações processuais.

As denúncias surgem num momento particularmente sensível para Marrocos, que se prepara para receber um dos maiores eventos desportivos do continente africano, enquanto enfrenta críticas internas por alegadamente priorizar projetos de prestígio internacional em detrimento de serviços públicos essenciais, num país marcado por desigualdades sociais e recentes tragédias associadas a cheias mortais.

Fonte: The Guardian

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