domingo, 4 de novembro de 2012

Imãs ao serviço de Sua Majestade…

Mesquita el El Aaiún

O regime marroquino está com os nervos em pé com o terramoto provocado pela visita de Christopher Ross ao Sahara Ocidental. Só isso explica que ontem decidissem recorrer aos imãs, aproveitando o facto de ser sexta-feira (dia de oração para os muçulmanos), para neutralizar o ambiente de ebulição que se vive na antiga província espanhola com um sermão em louvor da Marcha Verde, como um ato patriótico e glorioso. Mas cura foi pior que a doença porque a maioria dos fiéis saharauis abandonaram os locais religiosos em sinal de protesto.

O recurso aos imãs reflete as preocupações do regime marroquino ante as manifestações que a população saharaui tem improvisado ​​para deixar claro ao Enviado Pessoal do Secretário-geral da ONU para o Sahara Ocidental o seu compromisso com o direito à autodeterminação.

 Apesar do silêncio mantido sobre a inclusão de El Aaiún na viagem de Ross através da região, que não foi tornado público até quase ao último momento, os protestos anti-marroquinos dos saharauis deixaram em evidência o discurso anexionista marroquino. A agressão a Aminetou Haidar, a ativista dos direitos humanos com quem Ross quis falar, é mais uma prova do nervosismo marroquino.

"Não é a primeira vez que os ímãs — que nas mesquitas marroquinas são nomeados pelo Ministério do Interior marroquino —, usaram as mesquitas no Sahara ocupado para lançar discursos políticos em favor dos interesses anexionistas do Makhzen e insultar os saharauis dos campos de refugiados da Frente Polisario ", explicou ontem Hmad Hammad, vice-presidente da associação CODAPSO (Comité de Apoio à Autodeterminação do Povo do Sahara Ocidental), que se encontra Madrid. "Mas assim como foi muito comum este tipo de práticas após a invasão da Marcha Verde e na década de oitenta, desde os anos noventa que haviam renunciado a esta estratégia. A grande novidade, porém, é que os saharauis abandonem de forma maciça as orações de sexta-feira. "Com isso, diz o dirigente da CODAPSO, os saharauis lembram ao Makhzen que as mesquitas não devem ser usadas para fazer política e muito menos para exaltar uma agressão de muçulmanos contra muçulmanos que vai contra a sua religião”.

Ana Camacho/Salambuha Bubacar lecuara (2/11/2012)

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