Mesquita el El Aaiún |
O regime marroquino está com os nervos em pé com o terramoto
provocado pela visita de Christopher Ross ao Sahara Ocidental. Só isso explica que
ontem decidissem recorrer aos imãs, aproveitando o facto de ser sexta-feira (dia
de oração para os muçulmanos), para neutralizar o ambiente de ebulição que se
vive na antiga província espanhola com um sermão em louvor da Marcha Verde,
como um ato patriótico e glorioso. Mas cura foi pior que a doença porque a
maioria dos fiéis saharauis abandonaram os locais religiosos em sinal de protesto.
O recurso aos imãs reflete as preocupações do regime
marroquino ante as manifestações que a população saharaui tem improvisado para deixar claro ao Enviado Pessoal do Secretário-geral da ONU para
o Sahara Ocidental o seu compromisso com o direito à autodeterminação.
Apesar do silêncio mantido
sobre a inclusão de El Aaiún na viagem de Ross através da região, que não foi
tornado público até quase ao último momento, os protestos anti-marroquinos dos
saharauis deixaram em evidência o discurso anexionista marroquino. A agressão a
Aminetou Haidar, a ativista dos direitos humanos com quem Ross quis falar, é
mais uma prova do nervosismo marroquino.
"Não é a primeira vez que os ímãs — que nas mesquitas
marroquinas são nomeados pelo Ministério do Interior marroquino —, usaram as
mesquitas no Sahara ocupado para lançar discursos políticos em favor dos
interesses anexionistas do Makhzen e insultar os saharauis dos campos de
refugiados da Frente Polisario ", explicou ontem Hmad Hammad,
vice-presidente da associação CODAPSO (Comité de Apoio à Autodeterminação do Povo
do Sahara Ocidental), que se encontra Madrid. "Mas assim como foi muito
comum este tipo de práticas após a invasão da Marcha Verde e na década de
oitenta, desde os anos noventa que haviam renunciado a esta estratégia. A
grande novidade, porém, é que os saharauis abandonem de forma maciça as orações
de sexta-feira. "Com isso, diz o dirigente da CODAPSO, os saharauis lembram
ao Makhzen que as mesquitas não devem ser usadas para fazer política e muito menos
para exaltar uma agressão de muçulmanos contra muçulmanos que vai contra a sua
religião”.
Ana Camacho/Salambuha Bubacar lecuara
(2/11/2012)
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