quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Papa Francisco nomeia novo prefeito apostólico para o Sahara Ocidental


O Papa Francisco nomeou segunda-feira, dia de São João, Frei Mario León Dorado como novo prefeito apostólico do Sahara Ocidental. O Padre León exercia as funções de administrador apostólico do Sahara Ocidental desde junho de 2009 depois do venerável Frei Acacio Valbuena Rodríguez (+4-5-2011) ter cessado o seu ministério a 25 de fevereiro de 2009, após ter substituído o Padre Félix Erviti Barcelona, prefeito durante quarenta anos, desde 1954 a 1994). O Padre Erviti, pouco conhecido, foi no entanto um dos homens mais importantes na história do Sahara Ocidental. A sua vida, própria de uma novela ou de fita de cinema, espera ainda que alguém escreva a sua história. A tarefa da prefeitura apostólica do Sahara Ocidental não é nada fácil devido à situação de ocupação da maior parte do território que é onde se encontram as igrejas que foram erigidas pelos espanhóis.

Igreja da cidade de El Aaiún

I. HISTÓRIA DA PREFEITURA APOSTÓLICA DO SAHARA OCIDENTAL
Há boa informação na internet para fazer a história da prefeitura do Sahara Ocidental (ver especialmente o altamente documentado e essencial trabalho e informações em espanhol e aqui e ali informações em Inglês). Claro que a presença católica no território é muito pequena, o que pode explicar que os livros de história do Sahara Ocidental geralmente omitam qualquer referência a esta instituição. Mas a sua importância qualitativa é, sem dúvida, superior à quantitativa.

O Papa Pio XII, erigiu a "Prefeitura Apostólica do Sahara Espanhol e Ifni" a 05 de julho de 1954, unindo dois territórios para a formação da nova prefeitura que haviam pertencido ao Vicariato Apostólico de Marrocos e da Argélia.

Após a cedência de Ifni a Marrocos por parte de Espanha em 1969, a 02 de maio de 1970, a instituição mudou seu nome para " Prefeitura Apostólica do Sahara Ocidental". Naquela época, ainda ainda havia muitos espanhóis, e a instituição contava com vários milhares de católicos e cinco paróquias.

Após o abandono por Espanha do Sahara Ocidental e a ocupação do território por Marrocos e Mauritânia, a prefeitura passou a designar-se por "Prefeitura Apostólica do Sahara Ocidental". O abandono espanhol significou um brusco declínio no número de católicos por dois motivos.

Primeiro, porque a maioria dos espanhóis foram forçados a abandonar o território. E, depois, porque Marrocos tem uma legislação que persegue penalmente a conversão dos muçulmanos ao cristianismo (embora ao que parece essa legislação não se aplique ao próprio Mohamed VI), o que torna muito difícil a vida aos saharauis (que os há) convertidos ao Cristianismo.

Igreja restaurada da Praia de El Aaiún

II. UMA PREFEITURA PERSEGUIDA PELA OCUPAÇÃO MARROQUINA
A "Prefeitura Apostólica do Sahara Ocidental" é eclesiasticamente independente de Marrocos. Depende diretamente da Santa Sé.
Neste momento conta com duas paróquias abertas, a de El Aaiún e a de Villa Cisneros-Dakhla em dois edifícios de importante valor histórico-artístico. Além disso, conseguiu recuperar recentemente outra bela igreja, a do porto de El Aaiún.
É digna de menção a história das Igrejas do porto de El Aaiún e de Nossa Senhora de Carmen, de Villa Cisneros.

1. A Igreja do porto de El Aaiún
Em 1966, o padre Rafael Álvarez construiu a igreja da praia de El Aaiún, distinta de situada na cidade de El Aaiún. No entanto, após a invasão marroquina do Sahara Ocidental através da chamada "Marcha Verde", uma família de invasores instalou-se na sacristia e na residência anexa à capela. Após 30 anos de “ocupação”, conseguiu-se que a Igreja recuperasse este templo. A família deixou o imóvel num estado lamentável pois no recinto criavam-se cabras, galinhas e outros animais. Depois de frei León ter recuperado as chaves da igreja a 3 de outubro de 2012 houve que realizar um restauro completo.


Mohamed Fadel Semlali, deficiente motor, muçulmano
e guardião da Igreja de Dakha- Villa Cisneros

2. A Igreja de Nossa Senhora de Carmen de Villa Cisneros.
Um edifício que Marrocos tentou destruir (como conseguiu destruir uma peça importante do património histórico-artístico, o "Forte" de Villa Cisneros, ante a indiferença da ministra da cultura Calvo Poyato, do Governo de Rodríguez Zapatero) e que está sendo guardado por um saharaui muçulmano, Mohamed Fadel Semlali, conhecido como Bouh, que apesar de estar numa cadeira de rodas (é Presidente da Associação de Incapacitados de Dakhla), defende e assegura EXEMPLARMENTE a herança espanhola e católica do Sahara Ocidental dando uma impressionante lição de tolerância e de respeito. Recomendo ver o seu testemunho (em hassania, mas com legendas em espanhol). "Bouh", que viva numa cadeira de rodas, sofreu inclusive tentativas de agressão por parte das forças de ocupação marroquinas devido à sua perseverança na defesa dessa parte importante do património que é a Igreja de Villa Cisneros.

Muita sorte, na sua difícil tarefa, Frei Mario León Dorado.

Artigo de Carlos Ruiz Miguel, prof. Catedrático de Direito Constitucional na Universidade de Santiago de Compostela

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