quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Marrocos : células terroristas muito… adormecidas!



Sem o apoio da França e dos EUA, Marrocos jamais teria ousado invadir a antiga colónia espanhola do Sahara Ocidental. Para receber esse apoio, Rabat havia prestado muitos serviços no contexto da Guerra da Fria. Com o fim desta, a "ameaça terrorista" foi o melhor alibi de Marrocos para dar continuação aos serviços prestados aos seus amigos e poder exigir um apoio no conflito do Sahara Ocidental.

O plano Baker, apoiado por Washington, convenceu os marroquinos que os EUA estavam dispostos a defender uma solução baseada na legalidade internacional para o conflito que opõe, há mais de três décadas, marroquinos e saharauis. Desde então, Marrocos procura a qualquer preço convencer os seus amigos americanos da sua eficácia na luta contra o fenómeno do terrorismo que ameaça os EUA em primeiro lugar. Assim, a luta contra o terrorismo em Marrocos tornou-se não apenas o meio para assegurar o apoio do Ocidente, mas também para reduzir ao silêncio uma certa oposição politica ou social e para se desembaraçar de opositores. Para estes fins, foi criado um instrumento sob o nome de lei antiterrorismo que foi denunciado pelo Grupo de Trabalho das Nações Unidas contra a detenção arbitrária. O presidente-relator do grupo, o norueguês Mads Andenas disse que "a lei antiterrorismo adotada após os ataques em Casablanca, em 2003, e que ainda está em vigor, é o quadro jurídico para numerosas violações dos direitos humanos "Considerando que a" a lei deve ser alterada para tornar os delitos específicos, reduzir o tempo de prisão preventiva e estabelecer um processo para garantir um julgamento justo ".

Marrocos, encurralado na questão do Sahara Ocidental, manipulou ao máximo a questão da luta contra o terrorismo. A questão saharaui parece ter estado presente até no caso Belliraj (*). Segundo algumas fontes, a prisão deste tem uma natureza de acerto de contas entre os serviços de segurança marroquinos e belga. A primeira tensão entre os dois serviços registou-se quando a DGED marroquina organizou uma manifestação em frente à embaixada da Argélia, em Bruxelas, de acordo com uma declaração do chefe da Sûreté belga Alain Winants. Os marroquinos protestavam contra o apoio da Argélia ao povo saharaui.

A segunda colisão entre a segurança belga e marroquina terá lugar a quando dos atentados de Casablanca em 2003. Após um rumor que correu, segundo o qual os autores foram treinados na Bélgica e tinham preparado tudo a partir da Bélgica, o governo belga pediu à polícia para verificar a informação, enquanto André Jacob, um inspetor que foi responsável por manter contactos com as autoridades marroquinas, em Bruxelas, viaja a Rabat, juntamente com um colega de serviços de inteligência franceses. Não só constatam que a hipótese belga era falsa, como a sua passagem provocou graves tensões entre a DGED marroquina e a Segurança belga. As tensões que iriam aprofundar-se mais tarde, com a prisão do cidadão belga-marroquino Belliraj em janeiro de 2008. Com efeito, a 8 de julho de 2008, Alain Winants pede a Mohamed Yassine Mansouri, chefe da DGED, para recambiar três agentes marroquinos identificados na Bélgica.
 
Abdelkader Belliraj

"Esta medida não estava relacionada ao caso Belliraj. No passado, já tinha havido repetidos problemas com agentes da DGED. Eles tinham, por exemplo, organizado uma manifestação em frente à embaixada da Argélia em Bruxelas", declarou Alan Winants. As acusações da Polícia belgas eram tão graves que o DGED não só chamou os três agentes desmascarados, como também decidiu fechar o seu escritório em Bruxelas chamando todos os seus agentes.

O grito de inocência de Belliraj será apoiado por um relatório dos serviços de segurança do Estado belga reconhecendo a falta de provas contra o acusado. "No dossiê Belliraj, do nome deste belga-marroquino julgado em Marrocos por uma rede de terrorismo e suspeito de ser um informador da Sûreté, esta última sublinha que os elementos avançados por Marrocos não conseguiram demonstrar de maneira indiscutível a existência de uma rede e o envolvimento deste último em seis assassinatos na Bélgica.

O relatório não faz mais que evocar a maior parte dos campos em que a instituição se concentra muito frequentemente em registos meramente factuais do extremismo religioso, espionagem, etc. ", diz o relatório. Enquanto isso, o Ministério Público Federal, em Bruxelas, depois de analisar as duas fileiras de caixas (24.000 peças) resultantes da investigação dos juízes Daniel Fransen e Berta Bernardo Mendez-instrução, afirmou que não há "provas suficientes "contra Belliraj e seus supostos cúmplices (Le Vif).

Há mais de dez anos, que dezenas de comunicados oficiais dão conta do desmantelamento de "células terroristas adormecidas que preparavam ataques contra os interesses do país." Por ocasião do décimo aniversário dos ataques em Casablanca, o Ministério do Interior marroquino afirma que os serviços de segurança marroquinos conseguiram desmantelar mais de 113 células terroristas e prender 1.256 suspeitos de terrorismo "alegadamente envolvidos na preparação de uma trintena de atos terroristas". No entanto, depois do de Casablanca em 2003, o único atentado registado foi o do café Argana em Marraquexe, em 2011, em pleno coração da Primavera Árabe. Uma operação que levantou muitas interrogações quanto ao seu verdadeiro autor.

Agora, o Enviado Pessoal do Secretário-Geral da ONU prepara-se, de acordo com fontes marroquinas, para organizar encontros decisivos entre Marrocos e a Frente Polisario com vista a pôr termos ao contencioso saharaui. Também agora, o Ministério do Interior anuncia-nos o desmantelamento de uma célula terrorista. Mais uma célula que em vez de "fazer o seu trabalho" não fazia mais que "dormir"…

(*) Abdelkader Belliraj - belga, de origem marroquina, , acusado ter dirigido uma rede terrorista de 35 membros em Marrocos e no estrangeiro, condenado em 2009 a prisão perpétua pelo tribunal antiterrorista de Salé, perto de Rabat.


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