terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Os acampamentos de refugiados saharauis alvo dos serviços secretos marroquinos


Yassine Mansouri,
o chefe dos serviços secretos marroquinos

 Os serviços secretos marroquinos organizaram operações de infiltração nos acampamentos de refugiados saharauis de Tindouf para atentar contra a reputação da Frente Polisario e intentar demonstrar um presumível envolvimento dos seus militantes nas atividades das redes terroristas e mafiosas no Sahel. Um objetivo perseguido desde há muito tempo pelo Majzen marroquino que não cessa de lançar acusações aos saharauis para desestabilizar a Frente Polisario e privá-la do apoio internacional à sua luta por restaurar os direitos usurpados do seu povo e sua soberania sobre suas terras e riquezas.

Argelinos, alguns deles de origem saharaui, foram recrutados em Tindouf para levar a cabo atividades subversivas nos acampamentos de refugiados saharauis. Neste contexto, um vasto tráfico de haxixe foi organizado com o objetivo de acusar o movimento saharaui de cumplicidade com os traficantes de drogas e as organizações terroristas.

Oficiais do exército marroquino instalados no muro de defesa e agentes colocados em Zouérate, cidade mauritana fronteiriça com o Sahara Ocidental, encarregavam-se de proporcionar a "mercadoria" aos narcotraficantes. Nos acampamentos de refugiados, outros agentes tratam de avivar o fogo da rebelião contra a direção da Frente Polisario. Em outubro, uma manifestação foi organizada frente à sede da presidência saharaui para protestar contra as medidas adotadas pela Frente Polisario para combater o contrabando de combustível. Em dezembro, outro grupo bloqueou a entrada a Rabouni, onde se encontram as principais sedes administrativas saharauis.

Mustafa Selma Sidi Moulud,
foto da agência noticiosa marroquina MAP

Em 2010, o ex-polícia saharaui, Mustafa Selma Sidi Moulud chega à cidade ocupada de Smara para visitar o seu pai. Rapidamente é contactado pelo trânsfuga Omar Hadrami (1), a quem os marroquinos nomearam chefe do departamento de subvenções destinadas às pessoas mais necessitadas. Além disso, os dois estão unidos por pertencerem à mesma tribo. O tribalismo e os 2000 Dirhams (173 Euros) de subvenção mensais são as cartas que Hadrami utiliza para atrair saharauis dos acampamentos. Mustafa esteve em Rabat durante dois meses enquanto os media marroquinos aclamavam diariamente a sua intenção de voltar aos acampamentos para defender a proposta de autonomia marroquina. O seu plano fracassou porque já não tem direito ao estatuto de refugiado a partir do momento em que abraçou as teses marroquinas.

O sucesso mediático do recrutamento de Mustafa Salma Sidi Mouloud encorajou os serviços secretos marroquinos a redobrar as suas operações nos acampamentos de refugiados saharauis de Tindouf. Com esse objetivo, os marroquinos não poupam meios. Segundo o website Bladi, com base em informações recolhidas pelo jornal libanês Addiyar, o orçamento da DGED (2) ronda os mil milhões de dólares ano.

Um mês após o folhetim de Mustafa, dois cooperantes espanhóis e uma italiana são raptados de Rabouni, sede das principais administrações da RASD. A Al-Qaida nega qualquer implicação na operação. Uma semana depois, um misterioso movimento reivindica o rapto. Designa-se Movimento para a Unicidade e a Jihad na África Ocidental (MUJAO). As consequências são nefastas para os saharauis. São acusados de cumplicidade com os raptores. Pior ainda, a Espanha decide evacuar os seus cooperantes dos acampamentos de refugiados. As suspeitas dos saharauis recaem rapidamente sobre os serviços secretos marroquinos. Tanto mais que o MUJAO, em vez de dirigir as suas operações contra os países da África Ocidental, não visa outra coisa que não seja a Polisario e a Argélia. Esta é visada enquanto principal aliada dos saharauis. As ações visam igualmente minar a posição da Argélia como parceiro numero 1 dos EUA na luta antiterrorista no Sahel contra a Al Qaida do Maghreb islâmico (Aqmi).

Operações similares foram levadas a cabo na Líbia, onde em janeiro de 2011, dois marroquinos foram detidos pela Agência Líbia de Segurança Exterior. Executavam um plano para "violar a integridade territorial da Argélia, Líbia e Tunísia".

O presidente mauritano escapou a uma tentativa de assassinato

Em Nouakchott, a Mauritânia ordenou em dezembro de 2011 a um agente que atuava sob a cobertura de correspondente da agencia noticiosa oficial marroquina MAP, que abandonasse o território mauritano devido à sua atividade ligada aos serviços secretos. Pior, certas fontes acusam os serviços marroquinos de estarem por detrás da tentativa de assassinato do Presidente mauritano Mohamed Ould Abdelaziz.

O Centro Nacional de Inteligência (CNI ) espanhol, por seu lado, expulsou, em maio de 2013, Nour-Eddine Ziani um marroquino acusado de ser "agente" da DGED e de atentar contra a segurança do Estado devido à sua "relação" com o Islamismo radical.

Os serviços de inteligência marroquinos são muito ativos em Espanha relativamente à questão do Sahara Ocidental. Já em 1990, foi descoberta uma «toupeira» no Ministério de Negócios Estrangeiros espanhol que tinha passado a Marrocos um relatório confidencial sobre o conteúdo de uma reunião entre o então ministro de Negócios Estrangeiros espanhol, Francisco Fernandez Ordonez, e um responsável da Frente Polisario.

Em 2008 , dois espiões marroquinos receberam ordem de sair da Bélgica, onde além de perseguirem a comunidade marroquina residente neste pais, haviam organizado manifestações frente à embaixada argelina em Bruxelas. Na sequência desta decisão, a DGED fechou a sua antena na capital belga.

Fonte: diaspora saharaui

1 - Omar Hadrami. Nascido perto de Smara, foi um dos fundadores da Frente Polisario em 1973 e responsável pela segurança da organização durante muitos anos. Desertou para Marrocos em 1990. Viria a ser acusado por muitos militantes saharauis de torturas e violações dos DDH tanto contra os presos de guerra marroquinos como contra os próprios saharauis residentes nos acampamentos de refugiados.  


2 - DGED (Direction Générale des Études et de la Documentation) serviço de informações e de contraespionagem marroquino. A DGED está diretamente ligada ao Palácio Real. Desde 2005 que é dirigida por Mohamed Yassine Mansouri, amigo de infância do rei Mohamed VI.

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