quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Marrocos aceita oficialmente a nacionalidade saharaui



A posição do Reino de Marrocos sobre o conflito do Sahara Ocidental é uma postura que pode qualificar-se, no mínimo, de algo esquizofrénica. Ao mesmo tempo que no interior afirma que o Sahara Ocidental forma parte da "integridade territorial" de Marrocos, no exterior vota a favor de resoluções na Assembleia Geral ou no Conselho de Segurança onde se reconhece que o Sahara Ocidental não faz parte da "integridade territorial" marroquina dado que é um "território não autónomo" pendente de descolonização e com direito à autodeterminação. O último episódio desta esquizofrenia dá-nos um órgão de informação marroquino que revela que o Reino de Marrocos reconhece agora a nacionalidade saharaui. Recordemos que toda a crise da deportação de Aminatu Haidar ocorreu por [Marrocos] não reconhecer a nacionalidade que agora reconhece.


I. RECORDANDO: A ORIGEM DA DEPORTAÇÃO DE AMINETU HAIDAR EM NOVEMBRO DE 2009
Para situar esta informação no seu contexto convém recordar as circunstâncias que provocaram a deportação de Aminetu Haidar.

Aminetu Haidar é uma cidadã saharaui que se encontra entre os cidadãos saharauis a quem a ONU no seu censo de população do Sahara Ocidental de 1999 reconhece o direito a votar no referendo de autodeterminação.

Haidar esteve 4 anos "desaparecida" numa prisão secreta marroquina (1987-1991) e voltou depois a ser encarcerada por Marrocos em 2005.

A cidadã saharaui Aminetu Haidar chegou, procedente de Espanha, ao aeroporto da capital ocupada do Sahara Ocidental, El Aaiun. Ali, no momento de preencher a ficha no controlo aeroportuário escreveu no item "nacionalidade" que a sua era SAHARAUI.

Em razão disto, a potência ocupante, Marrocos, com a cumplicidade do governo espanhol de Rodríguez Zapatero e do seu ministro de Negócios Estrangeiros Moratinos deportou-a ILEGALMENTE, depois de a ter privado do seu passaporte.

Após uma greve de fome (já anteriormente havia feito uma na prisão marroquina em 2005), conseguiu que se lhe reconhecesse o seu DIREITO a entrar e sair livremente do seu país, o Sahara Ocidental.


II. MARROCOS RECONHECE AGORA A NACIONALIDADE SAHARAUI
A informação é fornecida por um jornal on-line marroquino chamado "Le360" numa informação exclusiva com data de "2014/08/05" às "15h26" e assinada por
Mohamed Chakir Alaoui.

O diário afirma o que reproduzo aqui no seu texto original e que depois traduzo (os sublinhados em negrito seu meus):

Des dizaines d’activistes sahraouis ont embarqué à destination de Boumerdès pour participer à une université d’été du polisario. Il s’agit du 36ème périple du genre organisé depuis juillet 2009.
(...)
"Ils ont été choisis par la centrale de Tindouf, pour prendre part aux travaux de l’université d’été des cadres de la pseudo Rasd", expliquent nos sources. Prévue du 3 au 21 août, dans la ville algérienne de Boumerdes, cette université d’été a pour thème "la politique d’expansion et d’exportation de la drogue, une entrave au rêve des peuples maghrébins". Lors des formalités de police, effectués à l’aéroport Mohammed V -d’où ils ont quitté le royaume- 26 membres de ce groupe ont porté sur la case réservée à la nationalité du voyageur (figurant sur la fiche d’embarquement), la mention "sahraouie", tandis que 11 ont inscrit "Sahraoui porteur de passeport marocain". Une provocation devant laquelle, les services de police ont réagi avec sagesse, ne voulant pas retomber dans le précédent Aminatou Haïdar qui avait fait tant de remous.

Traduzo

Dezenas de ativistas saharauis embarcaram (em Casablanca) com destino a Bumerdés para participar numa universidade de verão da Polisario. Esta é a 36.ª viagem deste tipo organizada desde Julho de 2009 - (...)
"Foram escolhidos pela central de Tindouf para tomar parte nos trabalhos da universidade de verão de quadros da pseudo (sic) Rasd", explicam as nossas fontes. Prevista para decorrer de 3 a 21 de agosto na cidade argelina de Bumerdés, esta Universidade de verão tem por tema "A política de expansão e de exportação de droga, um obstáculo ao sonho dos povo magrebinos". Por ocasião das formalidades policiais, efetuadas no aeroporto Mohamed V (de Casablanca) - de onde saíram do reino - 26 membros deste grupo puseram no Espaço reservado à nacionalidade do viajante (que figura na ficha de embarque) a menção "saharaui", enquanto 11 escreveram "Saharaui portador de passaporte marroquino". Uma provocação (sic) ante à qual os serviços de polícia atuaram com prudência, não querendo voltar a cair no precedente de Aminetu Haidar que provocou tantas turbulências.


III. CONCLUSÃO: CONFIRMA-SE QUE MARROCOS RECONHECE PROGRESSIVAMENTE O POVO E O ESTADO SAHARAUI


Esta informação deve juntar-se à anterior. Marrocos não só reconheceu o "Estado" saharaui como estes dados confirmam que também reconhece a "nacionalidade" saharaui.


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