A posição do Reino de Marrocos sobre o conflito do
Sahara Ocidental é uma postura que pode qualificar-se, no mínimo, de algo
esquizofrénica. Ao mesmo tempo que no interior afirma que o Sahara Ocidental forma
parte da "integridade territorial" de Marrocos, no exterior vota a
favor de resoluções na Assembleia Geral ou no Conselho de Segurança onde se
reconhece que o Sahara Ocidental não faz parte da "integridade
territorial" marroquina dado que é um "território não autónomo"
pendente de descolonização e com direito à autodeterminação. O último episódio
desta esquizofrenia dá-nos um órgão de informação marroquino que revela que o Reino
de Marrocos reconhece agora a nacionalidade saharaui. Recordemos
que toda a crise da deportação de Aminatu Haidar ocorreu por [Marrocos] não
reconhecer a nacionalidade que agora reconhece.
I. RECORDANDO: A ORIGEM DA DEPORTAÇÃO DE AMINETU
HAIDAR EM NOVEMBRO DE 2009
Para situar esta informação no seu contexto convém
recordar as circunstâncias que provocaram a deportação de Aminetu Haidar.
Aminetu Haidar é uma cidadã saharaui que se encontra
entre os cidadãos saharauis a quem a ONU no seu censo de população do Sahara Ocidental
de 1999 reconhece o direito a votar no referendo de autodeterminação.
Haidar esteve 4 anos "desaparecida" numa
prisão secreta marroquina (1987-1991) e voltou depois a ser encarcerada por
Marrocos em 2005.
A cidadã saharaui Aminetu Haidar chegou, procedente
de Espanha, ao aeroporto da capital ocupada do Sahara Ocidental, El Aaiun. Ali,
no momento de preencher a ficha no controlo aeroportuário escreveu no item "nacionalidade"
que a sua era SAHARAUI.
Em razão disto, a potência ocupante, Marrocos, com
a cumplicidade do governo espanhol de Rodríguez
Zapatero e do seu ministro de Negócios Estrangeiros Moratinos deportou-a ILEGALMENTE, depois de a ter privado do seu passaporte.
Após uma greve de fome (já anteriormente havia
feito uma na prisão marroquina em 2005), conseguiu que se lhe reconhecesse o
seu DIREITO a entrar e sair livremente do seu país, o Sahara Ocidental.
II. MARROCOS RECONHECE AGORA A NACIONALIDADE
SAHARAUI
A informação é fornecida por um jornal on-line
marroquino chamado "Le360" numa informação exclusiva com data de "2014/08/05"
às "15h26" e assinada por
Mohamed Chakir Alaoui.
O diário afirma o que reproduzo aqui no seu texto
original e que depois traduzo (os sublinhados em negrito seu meus):
Des
dizaines d’activistes sahraouis ont embarqué à destination de Boumerdès pour
participer à une université d’été du polisario. Il s’agit du 36ème périple du
genre organisé depuis juillet 2009.
(...)
"Ils
ont été choisis par la centrale de Tindouf, pour prendre part aux travaux de
l’université d’été des cadres de la pseudo Rasd", expliquent nos sources.
Prévue du 3 au 21 août, dans la ville algérienne de Boumerdes, cette université
d’été a pour thème "la politique d’expansion et d’exportation de la
drogue, une entrave au rêve des peuples maghrébins". Lors des formalités
de police, effectués à l’aéroport Mohammed V -d’où ils ont quitté le royaume-
26 membres de ce groupe ont porté sur la case réservée à la nationalité du voyageur (figurant sur
la fiche d’embarquement), la mention "sahraouie",
tandis que 11 ont inscrit "Sahraoui porteur de passeport marocain".
Une provocation devant laquelle, les services de police ont réagi avec sagesse,
ne voulant pas retomber dans le précédent Aminatou Haïdar qui avait fait tant
de remous.
Traduzo
Dezenas de ativistas saharauis embarcaram (em
Casablanca) com destino a Bumerdés para participar numa universidade de verão da
Polisario. Esta é a 36.ª viagem deste tipo organizada desde Julho de 2009 - (...)
"Foram escolhidos pela central de Tindouf
para tomar parte nos trabalhos da universidade de verão de quadros da pseudo
(sic) Rasd", explicam as nossas fontes. Prevista para decorrer de 3 a 21
de agosto na cidade argelina de Bumerdés, esta Universidade de verão tem por
tema "A política de expansão e de exportação de droga, um obstáculo ao
sonho dos povo magrebinos". Por ocasião das formalidades policiais, efetuadas
no aeroporto Mohamed V (de Casablanca) - de onde saíram do reino - 26 membros deste
grupo puseram no Espaço reservado à nacionalidade
do viajante (que figura na ficha de embarque) a menção "saharaui", enquanto 11 escreveram "Saharaui
portador de passaporte marroquino". Uma provocação (sic) ante à qual os
serviços de polícia atuaram com prudência, não querendo voltar a cair no precedente
de Aminetu Haidar que provocou tantas turbulências.
III. CONCLUSÃO: CONFIRMA-SE QUE MARROCOS RECONHECE
PROGRESSIVAMENTE O POVO E O ESTADO SAHARAUI
Neste blog destacámos que, em
vários eventos, Marrocos reconheceu oficialmente a República Saharaui ao
participar em atos oficiais a seu lado.
Esta informação deve juntar-se à anterior. Marrocos
não só reconheceu o "Estado" saharaui como estes dados confirmam que
também reconhece a "nacionalidade" saharaui.
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