sábado, 20 de setembro de 2014

A nova estratégia francesa no Norte de África e Sahel


Mohamed VI com líder tuareg, janeiro de 2014

Por razões históricas, a tensão sempre caracterizou as relações entre a Argélia e a sua antiga metrópole, Paris. No entanto, o desenvolvimento dos acontecimentos no Sahel e no norte de África alteraram a política de França em relação aos seus vizinhos da Margem Sul do Mediterrâneo.

Desde os anos 60, decénio em que a maioria dos países africanos adquiriram a sua independência, Paris recorreu com muita frequência à intervenção direta naquilo que se costumava designar por “jardim privado” para salvaguardar os seus interesses estratégicos em África. Até à década de 80, a Françafrica constituía um dos pilares da diplomacia francesa no continente negro para combater a corrente progressista liderada pela Argélia, Tanzânia, Nigéria e Etiópia.

Em 1977, os aviões de guerra franceses Jaguar, procedentes da base de Dakar (Senegal), aniquilaram várias colunas saharauis que tinham atacado Nouakchott, Zouérate e outras cidades mauritanas. Intervieram inclusive em território do Sahara Ocidental como protesto contra a captura por parte da Frente Polisario de cooperantes franceses que trabalhavam na empresa de extração de ferro de Zouérate.

As façanhas bélicas francesas chegaram também ao Chade, para proteger o seu presidente ameaçado por uma oposição armada, à Costa do Marfim para derrubar o presidente Laurent Gbagbo, para acabar com a rebelião armada na região do Katanga, no antigo Zaire de Mobutu Sese Seko.

Na atualidade, as tropas francesas intervêm na República Centro-africana, país ameaçado por uma guerra civil, e no Mali, onde se tinham instalado vários movimentos terroristas que ameaçam toda a região do Sahel. Esta última, composta principalmente por países aliados históricos de França.

Corpo de intervenção militar no Mali

Nas suas cruzadas em Africa, o Eliseu sempre contou com o apoio das tropas de Marrocos e de outros países do continente para dar uma fachada africana às suas intervenções. Argélia sempre condenou este intervencionismo francês em África. A participação do exército marroquino ao lado do francés era feita a troco de um apoio incondicional de França no conflito do Sahara Ocidental.

Segundo um telegrama americano revelado por Wikileaks, Bouteflika declarou a um embaixador americano que a França utiliza o apoio a Marrocos para vingar-se da Argélia. As suas intervenções na ONU foram decisivas. Recompensarão o ex-Secretário-Geral da ONU, Bouthrous Ghali, com o cargo de Secretário-General da Organização da Francofonia pelo seu alinhamento com as teses marroquinas. Fizeram pressão sobre o Enviado Pessoal da ONU para o Sahara Ocidental, Peter Van Walsum, para que se colocasse a favor da proposta marroquina de autonomia. E, por último, França está por detrás da fórmula “solução mutuamente aceitável” que deu privilégios a Marrocos a que não tinha direito.

A atual conjuntura impõe novas alianças e o inimigo de ontem poderá, talvez, converter-se no amigo de hoje. Em França, desde há um certo tempo, tanto Sarkozy como François Hollande falam da Argélia “como potência regional”. Referem inclusive que a “Argélia possui a chave do conjunto da problemática no Sahel”.

A intervenção militar francesa no Mali vista pelo caricaturista argelino Dilem


O apoio a Marrocos no conflito do Sahara Ocidental é abandonado em favor de um equilíbrio nas relações com todos os países do Magrebe. Pela primeira vez na sua história, a França não tem as mãos livres para intervir na África do Norte em questões que afetam a sua própria segurança, e vê-se obrigada a contar com países que, até agora, jogavam um papel secundário nas suas relações geopolíticas, em particular a Argélia.

A situação na Líbia, transformou-se num problema para a segurança e os interesses económicos da França. Uma batata quente que Sarkozy lega a François Hollande e que obrigará o novo Presidente a mitigar os ardores de colaboração exclusiva da França neocolonial com o reino de Marrocos, em favor dos novos parceiros do Magrebe e do Sahel. “Não podemos intervir no Mali sem contar com a ação central da Argélia”, confessou Sarkozy no debate televisivo por altura das últimas eleições presidenciais francesas. Algo com o que França não havia contado na sua história.

O protagonismo da Argélia é reforçado mais ainda com a posição da União Africana que defende que “não podemos fazer frente aos problemas do Sahel sem contar com a Argélia”. O papel que França e a União Africana atribuem à Argélia ganha ainda mais relevo já que este último país tem no seu curriculum uma rica experiência na luta contra o terrorismo, adquirida durante o “decénio negro”.

É verdade que, por detrás dessas declarações, também havia a intenção de fazer da Argélia o ‘gendarme’ da região do Magrebe e do Sahel. Conhecendo o extraordinário potencial militar e financeiro da Argélia, que fizeram dela uma verdadeira potência regional, queriam envolvê-la na solução militar dos múltiplos conflitos que agitam a região.

E o mais urgente aos olhos destes países é a situação catastrófica que vive a Líbia. Mas a Argélia reiterou em várias ocasiões que o seu exército não intervém fora das suas fronteiras sob nenhum pretexto e defendeu com ardor o diálogo como solução na antiga Yamahiria de Gadhafi.

Argélia acabou convencendo a comunidade internacional da racionalidade de suas abordagens. Desta maneira, os participantes na Conferência sobre Estabilidade e Desenvolvimento na Líbia, organizada pelo Ministério espanhol dos negócios Estrangeiros, em Madrid, reiteraram unanimemente a sua convicção de que não há solução militar para a presente crise. Com este mesmo argumento, Argel conduz as negociações entre as partes beligerantes para conseguir uma solução pacífica no Mali.

Nesta nova configuração, os governantes marroquinos buscam desesperadamente uma brecha para enfiarem os seus narizes e perturbar a indiscutível liderança do país vizinho na região. Para isso, não hesitaram em financiar organizações terroristas, como o MUYAO, movimento que tem como único objetivo atacar os interesses argelinos e saharauis. O rei de Marrocos recebeu  líderes tuaregs com o intento de os convencer a boicotarem as negociações organizadas pela Argélia,

Sábado, 20 de setembro, 2014
Fonte: Niticias del Sáhara
http://diasporasaharaui-es.blogspot.be/2014/09/la-nueva-estrategia-francesa-en-el.html


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