Espanha desperdiçou
uma esplêndida oportunidade. Uma mais. Há um ano interrogava-me neste blog para
que quereria Espanha estar no Conselho de Segurança. Pois já temos a resposta:
para nada. Neste mês de Outubro Espanha preside ao Conselho de Segurança. Outubro
atravessa o seu Equador com um saldo doloroso para a diplomacia espanhola na
presidência deste importante órgão. @
Desdelatlantico.
I. ESPANHA NO CONSELHO DE SEGURANÇA, PARA
FAZER O QUÊ?
Há um ano, colocava
aqui a pergunta. E dizia
Que vai fazer Espanha em
relação ao Sahara Ocidental caso venha a ser eleita membro do Conselho de Segurança?
Surpreende, e muito, o absoluto
silêncio do nosso governo (e da oposição) sobre este ponto.
Já lá vão 10
meses de participação de Espanha neste órgão. E já foi ultrapassado metade do
tempo da sua presidência deste organismo, que lhe correspondia este mês de Outubro.
Se atendermos
à página oficial do Conselho de Segurança, esta metade de mês salda-se pela aprovação
de quatro resoluções cujo conteúdo político é bastante pobre:
-
S/RES/2243
(2015), 14 de Outubro de 2015, sobre a situação no Haiti
-
S/RES/2242
(2015), 13 de Outubro de 2015, sobre as mulheres e a paz e a segurança
-
S/RES/2241
(2015), de 9 de Outubro de 2015, sobre relatórios do Secretário-Geral sobre o Sudão
e o Sudão do Sul
-
S/RES/2240
(2015), de 9 de Outubro de 2015, sobre a Manutenção da paz e da segurança internacionais
(em relação com a tragedia migratória no Mediterrâneo).
Resoluções onde
há pouco mais do que boas vontades e intenções. Resoluções que, em minha opinião,
não irão alterar nada.
II. O SAHARA OCIDENTAL, QUE DEVIA SER
TEMA CENTRAL,RISCADO DA AGENDA
Hoje, 16 de Outubro,
cumprem-se exatamente 40 anos da Opinião Consultiva sobre o Sahara Ocidental
emitida pelo Tribunal Internacional de Justiça.
O acórdão continua
a ser, ainda hoje, a chave-mestra da solução do conflito. E, por isso, convém recordar
de novo duas passagens essenciais do mesmo:
O Tribunal chegou à conclusão de que os elementos e informações
postos à sua disposição não demostram a existência de nenhum vínculo de soberania
territorial entre o território do Sahara Ocidental, por um lado, e o Reino de
Marrocos ou o complexo mauritano, por outro.
Por tanto, o Tribunal não comprovou que existam vínculos
jurídicos capazes de modificar a aplicação da resolução 1514 (XV) no que se refere
à descolonização do Sahara Ocidental e, em particular, à aplicação da livre
determinação mediante a expressão livre e autêntica da vontade das populações
do território.”
Quando
Felipe VI visitou a sede das Nações Unidas no
passado dia 25 de Setembro de 2015, o Secretário-Geral da ONU emitiu um
comunicado que dizia:
Finalmente, o Secretário-Geral
enfatizou a necessidade de um novo impulso para resolver a situação no Sahara Ocidental
O próprio SG
da ONU estava a dizer que a Espanha DEVIA JOGAR UM PAPEL NA RESOLUÇÃO DO CONFLITO
DO SAHARA OCIDENTAL. A gestão deste assunto é assumida pela Assembleia Geral e
pelo Conselho de Segurança. É verdade que, em princípio, até Abril, não está
previsto o debate de uma nova resolução sobre o tema. Mas o Conselho de Segurança
pode fazer muito mais. E, de facto, no passado, fez muito mais neste e noutros temas:
solicitar um parecer do Conselho de Segurança, ou do Assessor Jurídico da
Organização das Nações Unidas, enviar uma Missão visitadora,... Havendo vontade
política podia-se ter feito o que se devia ter feito… mas não se fez.
III. GRAVES PROBLEMAS PARA A PAZ E A SEGURANÇA,
IGNORADOS DURANTE A PRESIDENCIA ESPANHOLA
Quais são alguns
dos problemas mais graves que encontramos no mundo? De entre os graves problemas
que há no mundo podemos destacar dois ou três que têm maior ou menor relação entre
si:
- o êxodo
migratório para a Europa, maioritariamente de sírios procedentes da Turquia
- a guerra
de Médio Oriente (Síria-Iraque)
- a escalada
de violência em Israel e Palestina
Não poderia Espanha
fazer nada a partir da presidência do CS da ONU sobre estes assuntos, alguns dos
quais a irão afetar diretamente, como o do êxodo migratório?
Em Novembro
de 1991, Espanha acolheu uma conferência de paz sobre o Médio Oriente, meses depois
de terminada a primeira guerra do Iraque. A conferência, convocada pelo governo
de Felipe González, fracassou porque não contou com as Nações Unidas.
Agora que
Espanha preside ao Conselho de Segurança oferece-nos a oportunidade, de ouro,
de convocar uma nova Conferencia de paz sobre o Médio Oriente e o Norte de
África e, desta vez, a partir e com as Nações Unidas. Uma nova conferência de
Madrid. A oportunidade de que o governo espanhol tome a iniciativa e dê relevância
à nossa diplomacia para situar a Espanha na mesa de resolução de graves conflitos
que direta ou indiretamente nos afetam. Uma conferência de paz onde se possam discutir
e solucionar os problemas do Sahara Ocidental, do Mali, da Líbia, da Palestina,
da Síria, do Iraque, do Iémen. Problemas onde, em todos eles, há certos atores
sempre presentes, direta ou indiretamente.
Mas para
isso falta ambição política e inteligência estratégica.
É pedir demasiado
para um governo presidido por Rajoy com García-Margallo como ministro dos
Negócios Estrangeiros.
Artigo: Carlos Ruiz Miguel. Prof. de Direito Constitucional na Universidade de Santiago de Compostela
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