segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Antecedentes da unidade nacional saharaui. Uma luta admirável e heroica




Insurreição independentista no Sahara espanhol. (1956-1958)

Em Outubro de 1956, o Exército de Libertação Nacional Marroquino (ALN) começou a infiltrar grupos armados no Sahara Espanhol com o pretexto de atacar os postos fronteiriços do exército francês na Mauritânia. Em meados de 1957, o seu campo de ação expandiu-se até à colónia espanhola, com aproximadamente 2.500 combatentes.

Nesse tempo, para a estratégia marroquina, o Sahara Espanhol era uma prioridade secundária, utilizando-a em seu favor para desviar a atenção do poder espanhol daquele que era o seu objetivo principal: a região de Ifni.

As forças marroquinas, tendo fracassado ao atacar Ifni, iniciaram hostilidades no Sahara Espanhol atacando a cidade de El Aaiún no dia 26 de Novembro de 1957 na estação de Telata. Desde então, e até 23 de Dezembro, sucederam-se as tentativas de assalto à capital saharaui sem êxito.



Espanha cede Tarfaya a Marrocos. (1958)

A partir de 10 de Fevereiro de 1958, Espanha e França desencadeiam conjuntamente e de forma simultânea as ofensivas: "Operação Teide", que mobilizou 10.000 soldados e 100 aviões espanhóis, e a "Operação Ecouvillion (Vassourada)", que mobilizou 5.000 homens e 70 aviões franceses. Duas semanas mais tarde, os exércitos europeus tinham esmagado a insurreição, e a " paz e a ordem" coloniais reinavam novamente no Sahara Espanhol e nos territórios limítrofes da Mauritânia e de Marrocos. Finalmente, no dia 1 de Abril de 1958, Espanha cedeu a Marrocos a zona saharaui de Tarfaya a troco do Reino marroquino, no futuro, não voltar a alterar a paz na região sahariana.



Evolução social e económica do Sahara espanhol. (1960-1970)

Após a derrota da insurreição de 1958, o governo espanhol aplicou severas represálias contra a população saharaui e forçou milhares de famílias a procurar refúgio nos territórios limítrofes de Marrocos, Argélia e Mauritânia.

Os acontecimentos do ano de 58 levaram a que o governo de Madrid se passasse a interessar mais pela sua distante colónia. Ao longo dos anos 60 foi-se dando um processo de mudanças económicas e sociais no Sahara Espanhol. Em 1963, realizam-se importantes investimentos nas jazidas de fosfatos de Bu-Craá, e isso estimulou a actividade económica da colónia e modificou os costumes da população autóctone. Com a urbanização e o abandono progressivo da vida nómada, começa-se a formar uma consciência nacional saharaui.




Durante a década de 60 surge uma nova geração de independentistas, nascida das experiências e fracassos anteriores, que impulsiona um nacionalismo renovador, baseado na consciência nacional e fundamentado em argumentos políticos.

Em Novembro de 1960, a Assembleia Geral da ONU, no seu XV período de sessões, aprova a Resolução 1514 sobre o processo de descolonização das regiões coloniais que ainda subsistiam no mundo. O Comité Especial encarregado de aplicar a referida resolução, elabora uma lista de territórios a ser descolonizados, entre os quais figura o Sahara Ocidental.

Em 1966, O Comité Especial pediu a Espanha que criasse condições para realizar um referendo no Sahara, a fim de que a população autóctone pudesse expressar-se livremente sobre o seu futuro. O governo de Madrid aceita o pedido, mas o que fez foi transformar o Sahara numa "província" espanhola introduzindo reformas no regime jurídico e administrativo da colónia e criando a Assembleia Geral do Sahara (a Yemáa). Foi assim como o franquismo desperdiçou a oportunidade de proporcionar aos saharauis a sua independência.

Ibrahim Bassiri - líder do MLS - Preso, desaparecido e assassinado pela força colonial espanhola

Em 1968, um intelectual saharaui, Mohamed Sidi Ibrahim "Bassiri", fundou o Movimento de Libertação do Sahara –MLS para reivindicar pacificamente a independência do Sahara Ocidental. Em pouco tempo o movimento agregou nas suas fileiras centenas de militantes entre operários e empregados na indústria, funcionários da administração colonial, estudantes, sargentos e soldados das tropas indígenas.  


Antecedentes históricos da fundação da Frente Polisario. (1970-1973)

Dadas as pressões internacionais, o governo de Madrid e o governador do Sahara congeminam e organizam, em 1970, uma atividade política em El Aaiún com fins propagandísticos para influir na opinião pública internacional. A encenação consiste numa manifestação mediante a qual a população saharaui mostraria a sua adesão ao Estado espanhol. Chamam jornalistas e observadores para que fossem testemunhas do acontecimento, mas o Movimento de Libertação do Sahara convoca os seus militantes e simpatizantes para uma manifestação paralela a fim de desmontar a manobra colonialista. Na manhã do dia 17 de junho de 1970, o dia marcada para a realização da manifestação propagandística, uns quantos grupos concentram-se frente à sede do Governo, enquanto uma multidão enche uma praça da cidade gritando palavras-de-ordem independentistas. Pela tarde, a Legião Espanhola abre fogo sobre a multidão causando numerosos mortos e feridos. E nessa noite é desencadeada uma “caça-ao-homem” a dirigentes e militantes do MLS; centenas são detidos; alguns desaparecem, incluindo o próprio líder "Basiri". Esta ação repressiva acabou para sempre com os projetos de "fraternidade" entre espanhóis e saharauis.

Na sequência da repressão, a militância nacionalista dispersa-se por temor e muitos de seus integrantes refugia-se nos países vizinhos, onde encontram ajuda nas comunidades saharauis aí residentes e reorganizam-se. Em 1971 começam de novo a formar-se grupos nacionalistas nas cidades de Zouerat (Mauritânia) , Tan Tan (na província de Tarfaya cedida pela Espanha a Marrocos em 58)  e Rabat (Marrocos). É precisamente em Rabat onde surge um núcleo muito ativo de estudantes universitários, entre os quais se destacava El Ouali Mustafa Sayed. Este núcleo, ao longo de 1972, promove encontros entre os diversos agrupamentos saharauis dispersos por Marrocos, Argélia e Mauritânia.




A Frente Polisario, ideologia política e campo de ação. (1973)

Em Janeiro de 1973 multiplicam-se os encontros destes grupos e fortalece-se a sua coordenação. Desta maneira, em finais de Abril de 1973 tem lugar uma conferência cujas sessões de trabalho se realizam de forma intermitente e em distintos lugares do deserto para despistar o serviço de informações franquista. Nestas sessões é decidido criar uma organização político-militar para lutar pela independência. No dia 10 de Maio de 1973, em Zouerat (na Mauritânia), a conferência encerra os seus trabalhos fundando a Frente Popular de Libertação do Saguia El Hamra e Rio de Ouro - Frente POLISARIO.

A Frente Polisario é um movimento de libertação nacional democrático e anticolonialista. A organização reúne todos os setores e personalidades mais progressistas da sociedade saharaui, onde quer que estejam: no exílio, nas regiões libertadas ou sob a ocupação marroquina.
Seus principais objetivos são a independência total do Sahara Ocidental e a construção de um Estado moderno no contexto de uma integração regional magrebina. No plano internacional, a Frente Polisario defende a criação de um Estado palestiniano, a unidade do mundo árabe e a eliminação de toda a forma de colonialismo em África.





A guerra de libertação nacional contra Espanha. (1973-1974)

A 20 de Maio de 1973, dez dias depois da sua fundação, a Frente Polisario leva a cabo a sua primeira ação armada contra o colonialismo espanhol. O objetivo foi o posto policial de El Janga. Esta operação marca o início de uma guerra que em breve ultrapassa a capacidade de controlo da administração espanhola do território saharaui. As ações posteriores fizem aumentar o prestígio da Frente Polisario entre a população saharaui e os soldados nativos enquadrados no exército colonial.

1974 é um ano chave para o fortalecimento do Exército de Libertação; por um lado multiplica as suas ações de combate e intensifica a sua campanha política para ganhar simpatizantes entre os soldados saharauis do exército colonial. Por outro lado, começa a receber armas da Líbia e da Argélia.


Espanha ante a descolonização. (1974-1975)

Ante a ofensiva saharaui, o governo espanhol trata de ganhar tempo para criar as bases sobre as quais pretende erigir um futuro governo saharaui "independente", que garanta os interesses económicos espanhóis. A 20 de Agosto de 1974, o regime franquista envia uma carta ao Secretário- Geral da ONU anunciando a intenção de realizar um Referendo de Autodeterminação no Sahara durante o primeiro semestre de 1975. Ao mesmo tempo, apoia a formação de um partido político fiel aos interesses de Espanha denominado "Partido de União Nacional Saharaui" - PUNS.



Fundação da Frente Polisario. (1975)

Durante o ano de 1975, várias patrulhas de militares saharauis passam-se para a Frente Polisario com veículos e armamento. Ao longo desse ano o Exército de Libertação tomo o controlo de numerosos postos do exército colonial e mantem a segurança na imensidade do deserto.
Após dois anos e meio de guerra, a Frente Polisario coroa os seus esforços político-militares com a realização, a 12 de Outubro de 1975, da Convenção para a Unidade Nacional, na localidade de Ain Ben Tili. Mas nesse tempo já existia um acordo entre Espanha e o reino de Marrocos para a entrega do território saharaui.

À convocatória da Frente Polisario acorrem personalidades de todas as forças políticas partidárias da independência: representantes, membros da Yemáa e alguns dirigentes do PUNS. Todos eles, sob a direcção e a presidência de El Ouali Mustafa Sayed, proclamam a união do povo em torno do programa e das estruturas da Frente Polisario com o objetivo de alcançar a independência e defender a integridade territorial do Sahara.



No seu programa acordavam:

  • Libertar a Nação de todas as formas de colonialismo e alcançar uma independência completa.

  • Edificar um regime republicano nacional com participação ativa e efetiva da população.

  • Construir uma autêntica unidade nacional.

  • Criar uma economia nacional baseada no desenvolvimento agropecuário e industrial, a nacionalização dos recursos mineiros e a  proteção dos recursos marinhos.

  • Garantir as liberdades fundamentais dos cidadãos.

  • Distribuir de forma justa as riquezas e eliminar os desequilíbrios.

  • Anular toda a forma de exploração.

  • Garantir habitação a todo o povo.

  • Restabelecer os direitos sociai e políticos da mulher.

  • Estabelecer o ensino gratuito e obrigatório a todos os níveis e para toda a população.

  • Combater as doenças, construir hospitais e proporcionar cuidados médicos gratuitos.



12 de Outubro de 2015, 42º aniversário da Unidade Nacional Saharaui


A luta continua. Sahara Livre!


Fonte: El Confidencial Saharaui

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