sexta-feira, 31 de julho de 2020

Irlanda assume compromisso claro com o direito à autodeterminação do povo saharaui




A Irlanda assumirá o lugar para que foi eleita no Conselho de Segurança das Nações Unidas em Janeiro próximo. Um dos itens da agenda do Conselho é a situação no Sahara Ocidental.

O deputado irlandês Patrick Costello do Partido Os Verdes questionou recentemente o ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio se a Irlanda usará a sua presença como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas para pressionar para que se alcance uma solução em relação ao Sahara Ocidental; e se ele fará uma declaração sobre o assunto.
A resposta de Simon Coveney, ministro da Defesa dos Negócios Estrangeiros e Comércio e membro do partido Gael Party foi clara em relação ao apoio do governo irlandês aos esforços do processo liderado pela ONU e aos esforços do Secretário-Geral para alcançar um acordo político definitivo sobre esta questão, bem como o direito à autodeterminação do povo do Sahara Ocidental. Esse apoio, disse o ministro do Negócios Estrangeiros da Irlanda é independente do resultado, desde que respeite o exercício genuíno da autodeterminação.
Coveney disse ainda que o governo irlandês gostaria de ver a nomeação, o mais rapidamente possível, de um novo Enviado Pessoal do SG da ONU, para levar por diante esse processo e aproveitar a dinâmica que se estava a desenvolver com o Enviado anterior, o alemãoHorst Köhler, antes da demissão no ano passado.

Fonte:PUSL

quinta-feira, 9 de julho de 2020

O exército saharaui combate agora o narcotráfico: aumentam as apreensões no deserto de drogas oriundas de Marrocos



A Polisario vê uma "cumplicidade" entre altos comandantes militares marroquinos e narcotraficantes para permitir que a mercadoria atravesse o maior muro defensivo do mundo que divide o Sahara Ocidental em dois, e que mais tarde vai financiar grupos terroristas jihadistas no Sahel.

SANTIAGO F. REVIEJO @sreviejo

O exército da Frente Polisario que lutou contra o Marrocos durante 16 anos tem agora um novo inimigo: os traficantes de drogas que atravessam o seu deserto carregando toneladas de drogas - principalmente haxixe - em direção a áreas dos países do Sahel dominadas por organizações terroristas jihadistas. O governo saharaui garante que esta mercadoria provém do outro lado do muro defensivo de 2.700 quilómetros que o estado marroquino construiu durante a guerra para defender o seu território, dividindo o Sahara Ocidental em dois após o fim das confrontações em 1991.

As últimas intervenções ocorreram esta semana. As forças armadas saharauis apreenderam 3.775 quilos de haxixe na segunda-feira em Agüenit, ao sul dos territórios libertados pela Polisario na guerra contra Marrocos. Na operação, quatro pessoas foram presas, três delas de nacionalidade estrangeira - não saharaui - sem especificar, e capturadas espingardas de assalto, munições abundantes e veículos todo-o-terreno de alta potência. Um dia depois, outros 775 quilos foram confiscados na área vizinha de Dugej. Membros da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO) estiveram presentes como testemunhas na operação de queima da droga capturada.

Com essas duas intervenções, o exército da Polisario já confiscou no primeiro semestre de 2020 um total de 4.550 quilos de drogas, quase o dobro do que foi apreendido em todo o ano passado, segundo fontes do governo saharaui. E desde 2015, garantem que mais de trinta toneladas foram capturadas em operações realizadas na longa rota do deserto que, atravessando o território saharaui, vai do muro defensivo vigiado pelas forças armadas marroquinas às regiões do Sahel na Mauritânia, Mali e Níger.

Agora, o que pergunta o governo da República Árabe Saharaui Democrática é como os traficantes de drogas conseguem atravessar, sem serem detectados, o muro vigiado por entre 80.000 e 100.000 soldados marroquinos equipados com radares sofisticados capazes de detectar a passagem de uma simples formiga, e depois atravessam, sem pular no ar, um campo de sete milhões de minas antipessoal e antitanque que protege todo o perímetro dessa barreira defensiva. A resposta, segundo o porta-voz de comunicação d Polisario na Espanha, Jalil Mohamed, é muito simples: "O conluio entre organizações de narcotráfico e o alto comando militar marroquino" "é o que torna possível essa proeza.

O exército da Polisario conseguiu bloquear as rotas de entrada no seu território através da parte norte do muro, e isso levou, segundo os seus oficiais, ao facto dos gangues de narcotraficantes desviarem a introdução de carregamentos no território saharaui para a parte sul do muro defensivo, local onde ocorreram as últimas apreensões.

E essa via do tráfico de drogas termina, na opinião do governo saharaui, no financiamento das organizações terroristas jihadistas que dominam várias áreas da vasta região subsaariana do Sahara. "Esse tráfego serve para desestabilizar a região. Marrocos está usando esse tráfego para desestabilizar o Sahara e outros países da região e depois aparece como salvador", diz Jalil Mohamed, que lamenta que em cimeiras como a do Sahel 5, a que compareceram esta semana na Mauritânia os presidentes dos governos espanhol e francês, não se discuta a origem do financiamento dos terroristas.



ONU teme por seus capacetes azuis na região

O Secretário-Geral da ONU já alertou no seu último relatório sobre a situação no Sahara Ocidental, apresentado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas em outubro passado, sobre o perigo representado por esses gangues que atravessam o território saharaui. Especificamente, depois de observar que "aumentaram os relatos de contrabando e outras atividades ilegais em ambos os lados da barreira" - o muro defensivo de Marrocos - assinaladas pela Frente Polisario e pelo exército marroquino, ele destaca: "Apesar de nossa plena confiança no compromisso das partes em proteger a Minurso, esses grupos armados representam uma ameaça crescente e imprevisível para o pessoal da Minurso", a missão internacional responsável por há quase 30 anos garantir a realização de um referendo de autodeterminação que ainda não foi convocado.

Noutro ponto do seu relatório, o Secretário-Geral da ONU afirma que "a ameaça relacionada a grupos terroristas e atividades criminosas na região continua sendo motivo de grande preocupação devido à sua imprevisibilidade e nível de risco desconhecido, especialmente para bases de operações localizadas em áreas remotas a leste do muro (a parte conquistada pela Polisario na guerra), as patrulhas desarmadas que cobrem grandes distâncias em todo o território e o reabastecimento de colunas".

O governo saharaui informou repetidamente o Conselho de Segurança das Nações Unidas da sua preocupação com a atividade dessas quadrilhas de traficantes no seu território, a última quarta-feira passada, depois das apreensões de mais de quatro toneladas de haxixe nas duas operações acima mencionadas. Nos escritos do seu representante na ONU, a Polisario responsabiliza o Reino de Marrocos por essas operações, que atribui ao seu estatuto de maior produtor mundial de resina de cannabis, conforme é referido nos relatórios do Escritório de Nações Unidas contra as Drogas e o Crime.

Em outubro de 2011, dois cooperantes espanhóis e uma italiana foram sequestrados nos campos de refugiados saharauis em Tindouf, na Argélia, por um grupo terrorista jihadista do Sahel. Após nove meses de cativeiro, os reféns foram libertados no norte do Mali. Desde então, a Polisario aumentou as medidas de segurança nos campos para proteger, acima de tudo, os estrangeiros de organizações humanitárias que trabalham com a população local.

"Eles estão transformando a região num oeste selvagem e o que nós queremos é um Magrebe estável e próspero", diz o porta-voz da Polisario em Espanha.


Grandes empresas suíças fecham portas a produtos das zonas ocupadas do Sahara Ocidental




A Suíça fecha os seus mercados a produtos importados ilegalmente das áreas ocupadas do Sahara Ocidental. Grandes importadores de frutas e legumes afirmaram que a decisão foi tomada em conformidade com o direito internacional.

A organização de vigilância de recursos do Sahara Ocidental (Western Sahara Resource Watch) destacou a grande ação liderada pela ONG suíça terre des hommes schweiz para impedir a importação de produtos das áreas ocupadas do Sahara Ocidental. A campanha conseguiu que três grandes redes de supermercados se abstivessem de comercializar produtos das áreas ocupadas em 2019.

Denner e Migros aderem à decisão tomada pela Coop, que já em 2017 parou de vender produtos do território ocupado, respondendo a preocupações ecológicas como afirmou na sua carta ao WSRW.

Migros ressalta que, após "explicações profundas e pareceres legais" em 2017, decidiu "abster-se de comprar produtos em áreas ocupadas de acordo com o direito internacional", uma descrição que se encaixa no Sahara Ocidental, declara a rede de supermercados.

Por seu lado, a Denner, a terceira maior rede de supermercados da Suíça, informou a ONG terre des hommes schweiz que a decisão de cancelar todas as compras e importações de produtos das áreas ocupadas do Saara Ocidental foi tomada em dezembro 2017.

"Grandes plantações localizadas perto da cidade de Dakhla, ao longo da costa sul do Sahara Ocidental, estão esgotando as reservas de água subterrânea da região para cultivar frutas e legumes para exportação. Com o selo de "produto de Marrocos", os melões e os tomates cultivados no território ocupado tornaram-se instrumentos políticos com os quais Marrocos tenta impor o reconhecimento da sua inadmissível reivindicação do Sahara Ocidental através do comércio ", denuncia a Western Sahara Resource Watch.

“A estratégia de Marrocos não funcionou na Suíça. O Conselho Federal Suíço declarou formalmente em várias ocasiões que o seu acordo de livre comércio com Marrocos não era aplicável ao Sahara Ocidental, um território sob ocupação marroquina ", lembrou a organização internacional. Também se referiu ao acórdão do Tribunal de Justiça Europeu, de dezembro de 2016, que determinou que o acordo comercial UE-Marrocos não poderia ser aplicado ao Sahara Ocidental, uma vez que Marrocos não tinha soberania ou apoio legal para administrar o território.

Em 2016, a batalha pelos recursos naturais e sua exploração ilegal pot parte de Marrocos gerou grande atenção nos media suíços. Embora a Coop tenha banido rapidamente o tomate-cereja do Sahara Ocidental, Migros e Denner inicialmente argumentaram que era suficiente marcar corretamente a origem dos produtos para os clientes. No entanto, esse não foi sempre o caso e os rótulos dos tomates do Sahara Ocidental frequentemente apontavam Marrocos como o país de origem.

Depois de celebrar a batalha ganha na Suíça, o Western Sahara Resource Watch alerta para as armadilhas da introdução de produtos saharauis no mercado europeu", uma vez que Marrocos se recusa a rotular corretamente os produtos do Sahara Ocidental".