Em reconhecimento da sua resistência pacífica e defesa dos direitos do povo saharaui nas zonas ocupadas do Sahara Ocidental, a associação cultural asturiana "LA CIUDADANA" decidiu atribuir o seu primeiro prémio de direitos humanos à ativista Sultana Khaya, que cumpre 117 dias de prisão domiciliária e de perseguição policial na cidade ocupada de Bojador.
Numa cerimónia online, La Ciudadana escolheu celebrar o seu sexto aniversário, prestando homenagem ao povo saharaui e à sua luta nas áreas ocupadas e nos campos de refugiados.
Ignacio Loy, presidente da La Ciudadana, recordou os princípios e valores que levaram ao nascimento da associação, como um espaço de debate e reflexão sobre os desafios enfrentados pela nossa sociedade. "Não somos neutros, somos a favor de uma sociedade mais justa, mais igualitária e onde os direitos humanos sejam respeitados", sublinhou ele na cerimónia.
Loy disse também que "entre todas as causas que hoje poderiam ser objecto de louvor e solidariedade pela luta pelos direitos humanos, LA CIUDADANA decidiu apoiar a luta do povo saharaui, concretizada na figura de Sultana Khaya".
O ato recordou igualmente o papel inelutável da Espanha no sofrimento do povo saharaui e a sua responsabilidade perante a legalidade internacional. "O papel da Espanha tem sido lamentável, desde que abandonou o território, favorecendo a invasão marroquina de um território que não lhe pertence. Atualmente, a força heróica e a resistência do povo saharaui mantém viva a sua causa.
O artista asturiano, Ánxel Nava, designer da obra que irá representar este prémio de direitos humanos, sublinhou a importância deste prémio e a necessidade de o promover para que tenha uma voz no mundo. Salientou também que colocou "a causa saharaui neste prémio porque nele estão representadas todas as pessoas boas deste mundo".
A parte mais emocional do evento foi a intervenção da activista saharaui a partir das zonas ocupadas agradecendo ao povo saharaui por esta homenagem. Embrulhada na bandeira da República Saharaui, Khaya insistiu na importância da solidariedade com o povo saharaui nestes "tempos difíceis de maus tratos".
A activista referiu-se também aos presos políticos saharauis detidos pelo regime marroquino e lançou um apelo à mobilização de forças para a sua libertação imediata.
Para Khaya, "a situação que estamos a viver, e a que o povo saharaui tem vivido desde 1975, só nos faz manter a nossa resistência até podermos impor os nossos direitos num Estado livre e soberano".
O evento continuou com a projeção do documentário "Sólo son peces" (17 minutos de duração) nomeado para os Prémios Goya 2021, e a actuação ao vivo de Silvia e Gema Fernández, "Silvidos y Gemidos", artistas que acompanharam La Ciudadana em alguns dos concertos mais celebrados.
Sultana
Sultana Khaya é atualmente uma das figuras mais visíveis nas zonas ocupadas do Sahara Ocidental e em confronto direto contra as autoridades de ocupação marroquinas.
A sua resistência pacífica chama a atenção da comunidade internacional e mobiliza coletivos para denunciar a grave situação da população civil nas cidades ocupadas e os perigos a que os ativistas estão expostos desde a violação do cessar-fogo por Marrocos e a anulação do "Plano de Resolução" em vigor desde 1991.
Desde 19 de Novembro de 2020, várias unidades policiais marroquinas impuseram um cerco em torno da sua casa, sujeitando-a e toda a sua família a maus tratos físicos e psicológicos para que cessem as suas exigências pacíficas de autodeterminação e independência saharaui.
A defensora dos direitos humanos e a sua família continuam em prisão domiciliária, que foi imposta sem uma ordem judicial ou qualquer base legal. Os veículos da polícia estão a bloquear a entrada da casa. Em várias ocasiões, ao tentar sair, a defensora dos direitos humanos tem sido agredida fisicamente. Os militares e a polícia marroquinos também impedem activistas ou cidadãos saharauis de visitar a casa da família Khaya.
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