A publicação "Africa Intelligence", sediada em França, especula sobre as razões do adiamento na nomeação do futuro Enviado Pessoal do SG das Nações Unidas para o Sahara Ocidental
Africa Intelligense - Edição de 26/05/2021 - O perfil de Staffan de Mistura, que o Secretário-Geral da ONU António Guterres quer fazer seu enviado para o Sahara Ocidental, não levanta quaisquer objeções em Rabat. Mas Mohammed VI está a jogar com o tempo, na esperança de alcançar mais vitórias nesta questão.
Segundo as nossas fontes em Rabat, a diplomacia marroquina está a prolongar voluntariamente o exame da candidatura de Staffan de Mistura. O diplomata ítalo-sueco de 74 anos de idade, cujo nome foi falado há quase um mês, já obteve o acordo do movimento de independência da Polisario, que o tornou público a 20 de Maio.
Rabat, senhor do tempo
O seu registo de serviço não é a causa para as tergiversações marroquinas: antigo representante no Sul do Líbano, Iraque e Afeganistão, é sem dúvida um dos pesos pesados da diplomacia da ONU, e nunca deu uma opinião sobre a questão saharaui. A delegação marroquina na sede da ONU em Nova Iorque, liderada por Omar Hilale, não levantou quaisquer reservas sobre o perfil do Staffan de Mistura. Mas Rabat quer adiar qualquer designação o mais tempo possível, enquanto isso lhe permitir ser senhor do tempo no território disputado.
Mohamed VI acredita ter marcado o máximo de pontos desde a demissão de Horst Köhler, após menos de um ano no cargo. Em Novembro, os militares marroquinos conseguiram retomar Guerguerat, o posto fronteiriço com a Mauritânia, das mãos da Polisario e sob os olhos da Minurso, a missão de observação da ONU, praticamente sem a menor repercussão diplomática. Mesmo a eliminação do chefe da gendarmerie da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) Addah al-Bendir pela força aérea marroquina a 6 de Abril, quando não tinha atravessado o muro de separação, causou poucos protestos. Na frente diplomática, o chefe da diplomacia, Nasser Bourita, conseguiu inaugurar cerca de vinte consulados estrangeiros em Dakhla e Laayoune. E o ponto alto desta "sequência" foi o reconhecimento pela administração Trump já de saída da soberania marroquina sobre o Sahara Ocidental em Dezembro.
Mohamed VI considera assim que é do seu interesse jogar com o tempo, especialmente desde a evacuação médica do líder da Polisario Brahim Ghali para Espanha, a 21 de abril, a bordo de um avião-médico da presidência argelina (Le Desk de 06/05/21).
Pressão sobre Madrid e a UE
A hospitalização de Brahim Ghali em Logroño, sob uma falsa identidade argelina, não só paralisou o movimento pró-independência: permitiu a Marrocos abrir uma frente diplomática contra o governo socialista de Pedro Sánchez, considerado demasiado favorável à Polisario, ao chamar a sua embaixadora em Espanha, Karima Benyaich, a 18 de maio.
Para lá da questão Saharaui, as disputas com Madrid dizem igualmente respeito ao espaço marítimo ao largo das Ilhas Canárias, alegadamente rico em petróleo (AI de 12/05/16), e ao estatuto dos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla. Tal como a Alemanha (AI de 18/05/21), a Espanha também está a pagar o preço da ânsia de Marrocos em ver a União Europeia (UE) seguir os passos da administração dos EUA, reconhecendo por sua vez a "marroquinidade do Sahara". Também nesta frente, Rabat acredita que a ausência de um enviado da ONU está a jogar a seu favor.
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