O
Parlamento Europeu falhou por apenas um voto a oportunidade de
bloquear a controversa proposta da Comissão Europeia que permite
mascarar a verdadeira origem dos produtos agrícolas provenientes do
Sahara Ocidental ocupado. A objeção apresentada — que visava
impedir que frutas e hortícolas saharauis fossem reetiquetadas como
oriundas de “regiões administrativas” de Marrocos — reuniu 360
votos, quando eram necessários 361.
Apesar do impasse
formal, o resultado expõe de forma inequívoca a profundidade da
contestação política à manobra de Bruxelas. Uma clara maioria do
plenário pediu à Comissão que não deixe o regulamento entrar em
vigor devido ao seu caráter abertamente enganoso. No entanto, o
requisito de maioria absoluta acabou por salvar, por um triz, uma
proposta amplamente vista como juridicamente insustentável e
politicamente tóxica.
No cerne da polémica está a
insistência da Comissão em contornar sucessivas sentenças do
Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), que têm reiterado
que Marrocos não tem soberania sobre o Sahara Ocidental e não pode
incluir o território em acordos comerciais sem o consentimento do
povo saharaui. Ao permitir a substituição do país de origem por
designações administrativas marroquinas, Bruxelas tenta normalizar
uma ocupação ilegal e importar para o mercado europeu os interesses
geopolíticos de Rabat.
O debate que antecedeu a votação
foi marcado por críticas sem precedentes. Eurodeputados de vários
grupos acusaram a Comissão de estar a promover um autêntico
“rebranding” de um território não autónomo, enganando
consumidores, prejudicando produtores europeus e violando abertamente
o direito internacional. O estreitamento por um único voto da
barreira que impediu o chumbo definitivo deixa clara a erosão do
apoio à estratégia de Bruxelas.
A derrota da objeção
não encerra o processo. O regulamento seguirá agora para um
procedimento completo de codecisão entre Parlamento e Conselho, onde
o escrutínio político será ainda mais intenso. O episódio mostra
que a Comissão enfrenta resistência crescente dentro das próprias
instituições europeias e que a tentativa de legitimar a ocupação
marroquina está longe de reunir o consenso que pretende
projetar.
Se para sustentar esta iniciativa a Comissão
precisa de uma margem de um voto, a fragilidade da sua narrativa fica
exposta. E confirma-se que, na questão do Sahara Ocidental, o
problema já não é apenas a ocupação por Marrocos — é a
complacência de Bruxelas perante ela.
Como votaram os 21 deputados portugueses:
04 – votaram CONTRA a proposta que visava bloquear a iniciativa da Comissão Europeia que permite mascarar a verdadeira origem dos produtos agrícolas provenientes do Sahara Ocidental ocupado. Foram eles: Sebastião Bugalho, Paulo Cunha, Lídia Pereira e Hélder Sousa Silva (todos do Partido Popular Europeu e eleitos pelo PSD).
08
– votaram a FAVOR
da proposta que visava bloquear a iniciativa da CE: Isilda Gomes,
Sérgio Gonçalves, Ana Catarina Mendes, André Rodrigues, Carla
Tavares, Marta Temido (todos do Grupo Socialistas e Democratas –
S&D e eleitos pelo PS), João Oliveira (do Grupo The Left eleito
pelo PCP) e Ana Vasconcelos (do Grupo Renew eleita pela IL).
05
– optaram pela ABSTENÇÃO.
Paulo do Nascimento Cabral, Sérgio Humberto (ambos
do Partido Popular Europeu e eleitos pelo PSD) , Ana Miguel Pedro (do
Grupo PPE e eleita pelo CDS nas listas da Aliança Democrática),
Bruno Gonçalves (do Grupo S&D, eleito pelo PS) e António Tânger
Corrêa (do Grupo PfE eleito pelo Chega).


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