segunda-feira, 25 de abril de 2022

O presidente da Argélia acusa (Pedro) Sánchez de "quebrar tudo" de forma "eticamente inadmissível", mas garante os contratos de gás

 


Carlos Segovia – Madrid (EL MUNDO) 24-04-2022

A relação entre Argélia e Espanha complica-se e, embora de momento o abastecimento de gás não esteja em perigo, a deterioração é de tal magnitude que será muito difícil conseguir melhorias na cooperação energética como a Itália o fez.

O Presidente da Argélia, Abdelmajid Tebboune, acusa duramente o Presidente do Governo, Pedro Sánchez, de "ter quebrado tudo" com a sua cambalhota no Sahara Ocidental de forma "ética e historicamente inadmissível", segundo declarações à imprensa argelina na noite de sábado.

"Temos relações cordiais com a Espanha e houve em tempo uma reaproximação, como com a Itália. O primeiro-ministro quebrou tudo", diz. No entanto, o presidente argelino distingue a figura do líder socialista espanhol do país que representa. "Devemos distinguir entre o governo espanhol e o Estado espanhol, com o qual temos laços muito fortes. Exigimos a aplicação do direito internacional para que as relações com a Espanha voltem à normalidade." Nesse sentido, garante que os contratos de fornecimento de gás já assinados com Espanha serão respeitados. "A Argélia não vai desistir de fornecer gás à Espanha, sejam quais forem as circunstâncias", diz. Embora não abra a porta, como com a Itália, a aumentar a oferta ou assinar novos contratos além dos existentes. Também não garante a manutenção dos preços.

Tudo por causa da guinada no Sahara (Ocidental). "O Governo espanhol não ouviu as opiniões de outros sobre a questão saharaui, apesar de terem sido levantadas no Parlamento espanhol e pela opinião pública espanhola. Não vamos interferir nos assuntos internos de Espanha, mas a Argélia, como país observador na questão do Sahara Ocidental, assim como as Nações Unidas, consideram que a Espanha é a potência administrante do território até que se encontre uma solução para este conflito", sustenta.

"Os outros podem estar alinhados ou não, o problema é deles. Mas a Espanha não. Não tem o direito de entregar um território colonizado a outro país. Esse é o problema da Espanha", afirmou.

Portanto, ele não vê futuro na recomposição das relações com a Espanha sem retificação sobre o Sahara e "cumprimento do direito internacional para normalizar as relações". Na Espanha, "eles não podem ignorar suas responsabilidades históricas e são solicitados a rever o que fizeram".

Tebboune, que no passado manteve boas relações com Sánchez, avisa que não vai afrouxar a sua posição. "A Argélia não abrirá mão nem do Sahara nem da Palestina, dois casos de descolonização." O Presidente argelino recebeu Pedro Sanchez em Argel em outubro de 2020 e teve uma conversa telefónica com o presidente do Governo espanhol em 7 de março, onde este não antecipou a guinada que viria a dar dias depois, segundo a versão argelina.

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