domingo, 26 de maio de 2024

Alterações na estrutura hierárquica do Exército de Libertação do Povo Saharaui

 



Segundo um comunicado do gabinete de imprensa da presidência saharaui, o presidente Brahim Gali procedeu a uma série de nomeações, entre as quais comandantes, subcomandantes e chefes de estado-maior de algumas regiões militares.

 

Texto do comunicado:

Em virtude dos poderes que lhe são conferidos pelos estatutos da Frente e pela Constituição, o camarada Brahim Gali, Presidente da República, Secretário-geral da Frente e Comandante supremo das Forças Armadas, emite um decreto pelo qual são efectuadas as seguintes nomeações:

Nomeação de comandantes das regiões militares:

Habouha Abdallah Abrika como comandante da 4.ª região militar

Moulai Ahmed Mohamed Ahmed Lahbib como comandante da 6.ª região militar

Saleh El-Rahil Baha como comandante de uma região, conselheiro do Ministério da Defesa

 

Comandantes adjuntos das regiões militares:

Mohamed Lamine Lahbib Mohamed como comandante adjunto da 6.ª região militar

Djerba El-Maaloum Mouloud como comandante-adjunto da 7.a região militar

 

Chefes de Estado-Maior das regiões militares:

Mohamed Salem Moussa Ahmed como Chefe do Estado-Maior da 1.ª Região Militar.

El-Seddik Abderrahmane Mohamed como Chefe do Estado-Maior da 2.a região militar

Abdi Abidine Hamadi como Chefe do Estado-Maior da 6.a região militar

Mohamed El-Hussein Abdallah "El-Ghazal" como comandante adjunto de uma região e conselheiro do Ministério da Defesa

Sheikh El-Bah Ali como Comandante de um batalhão e Chefe do Estado-Maior de uma região, conselheiro do Ministério da Defesa.

 

Além disso, o Presidente da República, Secretário-Geral da Frente e Comandante Supremo das Forças Armadas, organizou as secções centrais da Direção Central para os Assuntos dos Mártires, tal como estipulado no decreto presidencial:

 

Foram criadas as seguintes secções

Secção Central para os Assuntos dos Mártires

Secção Central para os Assuntos dos Feridos

Secção Central dos Veteranos do Exército Popular de Libertação Saharaui.

 

O mesmo decreto designa:

O irmão Salek Hammoudi, comandante de batalhão, responsável pela Secção Central dos Assuntos dos Feridos.

Por outro lado, e por ocasião do 51.º aniversário do desencadeamento da luta armada, o Presidente da República promulgou:

Promoção de 20 comandantes de batalhão

Promoção de 36 comandantes de companhia

Promoção de 47 subcomandantes de companhia

Promoção de 600 comandantes de pelotão

Promoção de 7 comandantes de esquadra

Novo livro sobre a pilhagem dos recursos do Sahara Ocidental

Novo livro sobre a pilhagem dos recursos do Sahara Ocidental

O livro explora os argumentos políticos utilizados pela Comissão Europeia para defender o acordo de pesca ilegal de 2011 da UE nas águas do Sahara Ocidental.

O livro intitula-se "Peace Profits in Western Sahara: How commercial interests undermine self-determination in Africa's last colony" (Lucros da paz no Sahara Ocidental: como os interesses comerciais minam a autodeterminação na última colónia de África). É publicado pela Sternberg Press e editado por Erik Hagen (membro da direção do Western Sahara Resource Watch) e Mario Pfeiffer.

O livro explora os argumentos políticos utilizados pela Comissão Europeia para defender o acordo de pesca ilegal de 2011 da UE nas águas do Sahara Ocidental.

Examina também o caso do navio MV Cherry Blossom, detido na África do Sul em 2017 com uma carga de fosfato proveniente do território saharaui.

O livro é bilingue e tem o preço de 10€ em capa dura. As partes inglesa e árabe têm o mesmo conteúdo, querendo pode contactar o o autor em erik@wsrw.org.

https://www.sternberg-press.com/product/profit-over-peace-in-western-sahara-how-commercial-interests-undermine-self-determination-in-the-last-colony-in-africa/

terça-feira, 21 de maio de 2024

Preso político saharaui condenado a prisão perpétua alvo de torturas e humilhações

 


Rabat (Marrocos), 20 de maio de 2024 (SPS) - As autoridades prisionais marroquinas prosseguem a sua política de assédio e provocação contra o preso político saharaui, membro do Grupo Gdeim Izik, Sidi Abdalla Ahmed Sidi Abhah, que se encontra na prisão de Tifelt 2, a leste da capital marroquina, Rabat, a sofrer uma condenação de prisão perpétua.

Segundo fontes familiares informaram a Liga para a Proteção dos Presos Políticos, no dia 12 de maio de 2024, o preso político saharaui foi privado do seu direito de sair para tomar ar fresco por funcionários da prisão, que mais tarde continuaram as suas provocações durante a sua passagem pela ala interna da prisão.

Prisão de Tifelt 2 - Foto Maroc Diplomatique


Durante mais de quarenta e cinco (45) dias, Sidi Abdalla Ahmed Sidi Abhah foi sujeito a todo o tipo de provocações, incluindo a proibição de comunicar com a sua família por telefone, insultos e maus-tratos por parte de criminosos comuns com a cumplicidade das autoridades prisionais, com o objetivo de o humilhar.

Estas medidas arbitrárias de provocação coincidem com as celebrações dos dias 10 e 20 de maio, datas importantes para o povo saharaui, que são regularmente utilizadas pelas autoridades penitenciárias marroquinas para levar a cabo as suas represálias contra os presos políticos saharauis detidos nas prisões marroquinas. (SPS)

 

 

 

Prémio de direitos humanos para marroquina Amina Bouayach é “instrumento de propaganda”

 

Amina Bouayach (à esquerda), juntamente com os representantes do Global Campus of Human Rights, e do secretário-geral adjunto do Conselho da Europa, Bjorn Berge, após a entrega do prémio do Centro Norte-Sul.
Foto reproduzida a partir da conta de X de @DSGBjornBerge

Um Prémio de Direitos Humanos estranhamente atribuído

 

Amina Bouayach, Presidente do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) de Marrocos recebeu hoje, 21 de Maio, (ao mesmo tempo que a organização Global Campus of Human Rights), na presença do Presidente da República Portuguesa e do Presidente da Assembleia da República, o Prémio de Direitos Humanos do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa 2023, em cerimónia  que teve lugar na Assembleia da República.

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos é uma instituição criada pelo governo marroquino em 2011, em plena “Primavera Árabe”, para contrabalançar a ação corajosa da Associação Marroquina de Direitos Humanos (AMDH), fundada em 1979. É fácil confundir os nomes das duas entidades, mas elas distinguem-se bem no que diz respeito à sua independência e à promoção e defesa dos Direitos Humanos.

Nas situações mais flagrantes de violação dos Direitos Humanos que Marrocos tem vivido nos últimos anos, como as penas de prisão de 20 anos para quatro dos dirigentes das manifestações pacíficas no Rif (2018); a chacina de migrantes que tentaram entrar em Melilla, a ocultação de cadáveres que se lhe seguiu, as dificuldades colocadas à plena investigação dos acontecimentos e a não assunção de responsabilidades pelos governos de Espanha e de Marrocos (2022); os múltiplos atentados contra a liberdade de expressão, incluindo o encerramento forçado de meios de comunicação e os julgamentos injustos, baseados em provas forjadas, de reconhecidos jornalistas marroquinos (denunciados pelo Parlamento Europeu na sua resolução de 19 de Janeiro de 2023), a Associação Marroquina de Direitos Humanos tem sempre denunciado as ilegalidades e defendido os direitos e as liberdades fundamentais.

Conseil National Des Droits De L'Homme- CNDH

um instrumento de branqueamento do regime de Mohamed VI


Ao contrário, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos, instituição pública ao serviço do regime marroquino, tem cumprido zelosamente a sua missão de branqueamento das medidas estatais que violam os Direitos Humanos no país. A estratégia não é inovadora, como muito bem exemplificou o maior caso de corrupção e suborno descoberto no Parlamento Europeu, no final de 2022, apelidado de “Marrocosgate”, que continua em investigação na justiça belga e que teve recentemente um desenvolvimento ao ser aberto um novo processo visando as ingerências do poder marroquino junto de altos cargos belgas.

Amina Bouayach foi nomeada pelo rei Mohamed VI Presidente do Conselho Nacional dos Direitos Humanos em 2018. No ano seguinte, afirmou em entrevista à agência EFE que “não há presos políticos em Marrocos”, mas apenas “prisioneiros que foram presos pela sua participação em manifestações ou violência ocorrida durante as manifestações”. Estas afirmações são claramente desmentidas por todas as organizações internacionais de Direitos Humanos, e não só no que diz respeito ao reino de Marrocos, mas também ao Sahara Ocidental, ilegalmente ocupado por Marrocos, onde a violação dos Direitos Humanos é ainda mais grave e mais encoberta: nos últimos anos, cerca de 400 observadores internacionais (jornalistas, advogados, peritos de organizações não-governamentais…) foram impedidos de entrar ou sumariamente expulsos do território não autónomo.

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos marroquino não é uma organização não-governamental e independente. Marrocos é o único país africano que não ratificou a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

Amina Bouayach, Presidente do CNDH, não é uma activista dos Direitos Humanos. O Prémio de Direitos Humanos do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa que vai receber é apenas mais um instrumento de propaganda e de promoção abusiva de um regime ditatorial que oprime o seu povo e o povo do Sahara Ocidental.

AAPSO

20 de Maio de 2022

sábado, 18 de maio de 2024

Portugal é o maior exportador de produtos de gás para o Sahara Ocidental ocupado

 

Do Porto de Sines saiu, em 2023, 38% do gás para o Sahara Ocidental ocupado.

Western Sahara Resource Watch (WSRW) - 15 de maio de 2024 | Um novo país assumiu o papel de fonte mais importante de fornecimento de gás ao Sahara Ocidental ocupado: Portugal. Esta é a conclusão da monitorização diária dos movimentos dos navios da Western Sahara Resource Watch (WSRW) durante o ano passado.

No total, 14 cargas de gás butano liquefeito chegaram a El Aaiún, no Sahara Ocidental ocupado, em 2023. Com base na análise das rotas e dos calados dos navios, o WSRW estima a carga total em cerca de 36.000 toneladas de gás, um pouco menos do que o ano antes. Os transportes foram feitos por treze diferentes navios-tanque de GLP.

Quatro dos navios partiram do porto de Sines, em Portugal, durante o ano. As nossas estimativas mostram que, combinadas, continham aproximadamente 13.600 toneladas de gás, ou seja 38% do total exportado para o território em 2023. Não é claro para a WSRW quem é a empresa exportadora do Terminal de Graneis Líquidos (GGL), Sines.

Tal como no ano passado, os EUA continuam a ser um importante exportador de gás para o território ocupado. O primeiro carregamento de gás dos EUA observado pelo WSRW foi em Abril de 2021, e as exportações continuaram desde então. O WSRW (Western Sahara Resource Watch - Observatório dos Recursos do Sahara Ocidentl) prevê que o volume exportado dos EUA para o Sahara Ocidental em 2023 tenha sido de cerca de 10.000 toneladas, substancialmente inferior ao ano recorde de 2022 , quando os EUA exportaram 17.000 toneladas. As exportações dos EUA em 2023 partiram de Corpus Cristi, Houston e Norfolk.



As exportações também ocorreram a partir de um terminal pertencente à empresa BP na Holanda, e da Refinaria Sarlux South em Sarroch, Itália, ao longo de 2023. O carregamento da Corunha, em Espanha, partiu de um terminal pertencente à Repsol - empresa que não respondeu a uma carta de fevereiro de 2022 enviada pelo WSRW .

O volume total de gás importado para o território ocupado em 2023 esteve a par dos volumes de 2022 , 2021 , 2020 e 2019.

Marrocos não produz gás mas é, segundo o Index Mundi , um importante importador e consumidor de gás butano. Grande parte desse gás é gasto no abastecimento da maquinaria da ocupação no Sahara Ocidental, na manutenção de infraestruturas e indústrias que são críticas para a política de colonatos ilegais de Marrocos.

O gás importado entra no território em navios-tanque projetados especificamente para o transporte de gás liquefeito (GLP).

O Coral Lacera, da companhia Anthony Veder dos Países Baixos, participou no comércio ilegal de gás do Porto de Sines para os territórios ocupados do Sahara Ocidental... 

Assim como o King Arthur, da italiana Mediterrenea di Navigazoni...

e o Eco Lucidity, da companhia grega Stealth Gas.

Tal como nos anos anteriores, duas companhias marítimas destacam-se como as maiores responsáveis ​​nos transportes:

  • A mais envolvida é a empresa de navegação singapurense/norueguesa/dinamarquesa BW Epic Kosan (BWEK, anteriormente Epic Gas). 6 dos 14 embarques estavam a bordo de navios da frota BWEK: Emily Kosan, Epic Borinquen, Epic Sardinia, Epic Shikoku, Epic Salina e Epic Susak . O WSRW estima que aproximadamente 16.800 das 36.000 toneladas tenham sido transportadas em navios BWEK – ou seja cerca de 45% do fornecido. O Comité de Apoio Norueguês escreveu à BW Epic Kosan e ao BW Group sete vezes de 2020 a 2023 (incluindo 30 de setembro de 2021 ), sem receber resposta.
  • A Komaya Shipping tinha quatro navios da sua frota participando do comércio: Kennington, Kingston, Kirkby e Knebworth . Os navios transportaram cerca de 9.000 toneladas, ou 25% do gás.
  • Tal como em anos anteriores, também esteve envolvido um navio da frota Eco - operado pela companhia marítima grega Stealth Corp. A empresa foi contactada sobre a prática em 25 de abril de 2020 e a 5 de junho de 2020, mas as cartas não obtiveram resposta.

 

Os navios envolvidos em 2023 são: o Coral Lacera, Eco Lucidity, Emily Kosan, Epic Borinquen, Epic Salina, Epic Sardinia, Epic Shikoku, Epic Susak, Kennington, King Arthur, Kingston, Kirkby e Knebwort h. Os petroleiros estão registados em Itália, Libéria, Malta, Ilhas Marshall e Singapura.

A lista acima mostra os portos de onde o WSRW estima que o gás foi exportado, mas não reflete a origem real do gás.

Uma grande parte do território do Sahara Ocidental está sob ocupação ilegal por Marrocos desde 1975.

Ennaâma Asfari: detido sem provas por Marrocos há 14 anos

Naama-asfari no campo da dignidade de Gdeim Izik em 2010


Correo Diplomatico Saharaui - 17-05-2024 | Figura da luta do povo do Sahara Ocidental pelo seu direito à autodeterminação nos territórios ilegalmente ocupados por Marrocos desde 1975, Ennaâma Asfari está "arbitrariamente detido desde 2010 em Marrocos", afirma o diário francês "L'Humanité" que lhe dedicou, na quarta-feira, um artigo sob o título "Ennaâma Asfari, detido há 14 anos sem provas por Marrocos".

"O preso político saharaui, militante do direito à autodeterminação, está detido arbitrariamente desde 2010 em Marrocos", afirma o jornal, que conseguiu contactá-lo na prisão de Kenitra.

Sublinhando que "há catorze anos que está cercado por muros intransponíveis", o jornal recorda que Ennaâma Asfari foi raptado em El Ayoun ocupado a 7 de novembro de 2010, na véspera do desmantelamento violento pelas autoridades marroquinas do acampamento de protesto organizado pela sociedade civil saharaui em Gdeim Izik.

"Juntamente com 24 dos seus companheiros, foi acusado do assassínio de vários polícias implicados nesta operação repressiva, embora já não se encontrasse no local", revela o diário francês.

Em 2013, no final de um processo injusto, continua o jornal, "um tribunal militar condenou estes activistas sem provas a penas que vão de vinte anos de prisão a prisão perpétua".

 

2010, Gdeim Izik, Sahara Ocidental: o maior protesto civil nos territórios ocupados por Marrocos

"Três anos mais tarde, esta sentença foi anulada em virtude de uma reforma que proíbe a comparência de civis perante um tribunal militar", indica o jornal, que recorda, neste contexto, que o Comité contra a Tortura da ONU condenou Marrocos no caso Asfari, assinalando uma sentença proferida com base em confissões obtidas sob tortura.

"Novo julgamento, desta vez civil, e nova farsa jurídica.

Veredicto: trinta anos de prisão para Naâma Asfari e penas severas para os seus companheiros. Todos proclamam a sua inocência. Espalhodas por sete prisões, são objeto de torturas físicas e psicológicas, de perseguições e de novos isolamentos. A sua saúde está a deteriorar-se", lamenta "L'Humanité".

Segundo este jornal, as conversas telefónicas destes detidos "são restringidas" e "as chamadas para os seus advogados são controladas".


Claude Mangin-Asfari, a esposa do preso saharaui, durante
a greve de fome que rrealizou em 2018


"No ano passado, o Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias do Conselho dos Direitos do Homem das Nações Unidas apelou ao governo marroquino para que libertasse imediatamente estes detidos e remeteu o assunto para o Relator Especial sobre a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Descrevendo o quotidiano "monótono" dos prisioneiros e a disciplina intelectual e física a que está sujeito "para aguentar, para continuar", Ennaâma Asfari, que pôde falar com "L'Humanité" por telefone, afirma ter passado o tempo a ler "muitos estóicos e existencialistas".

"Gosto de Sartre e Camus. Neste momento, estou imerso em “O Ser e o Nada” (de Jean-Paul Sartre). A partir daí, fiquei com a ideia de que a existência é menos um problema a resolver do que uma forma de vida. Escolhi viver como um homem livre.

É por isso que tento viver esta experiência com coragem, paciência e consciência", declarou a partir da prisão de Kenitra, afirmando que os seus companheiros de prisão têm dificuldade em lidar com a provação psicológica do confinamento. "É difícil. Cada um lida com a sua depressão da melhor forma possível", acrescentou.

Referindo-se à separação da sua família, em particular da sua mulher Claude Mangin-Asfari, que está proibida de permanecer em Marrocos, Ennaâma Asfari diz que "é um teste para ela também. Mas transformou-a, tal como me transformou a mim. Reforça a nossa convicção de que estamos no bom caminho, num mundo que está longe de dar valor a este tipo de luta que estamos a travar e a viver, ela e eu".

Em 2018, esta professora, eleita em Ivry-sur-Seine (Val-de-Marne), fez uma greve de fome de trinta dias para denunciar esta violação do seu direito de visita. Envergonhadas, as autoridades francesas chegaram a um compromisso com Rabat que lhe permitiu viajar para Kenitra.

Mas desde então, nada.

 Além disso, os presos políticos saharauis estão isolados do mundo exterior, segundo Ennaâma Asfari, que defende que eles estão "pouco informados" mas apercebem-se "da desordem, do caos que reina no mundo".

"O que está a acontecer agora em Gaza mostra que o caminho para a libertação de um povo não é fácil. O preço a pagar é elevado", disse ao jornal francês, afirmando, no entanto, que "apesar da repressão nos territórios ocupados, do exílio, da indiferença da comunidade internacional, temos de continuar a lutar com todos os meios possíveis para sair deste status quo que dura há cinquenta anos".


A luta do povo saharaui «foi silenciada e censurada», afirma diplomata da RASD

 

Omar Bulsan, embaixador da RASD em Cuba

AbrilAbril - 13-05-2024 | Havana acolheu um acto comemorativo dos 51 anos da Frente Polisario, no qual Omar Bulsan sublinhou o apoio da Ilha aos povos que lutam pela soberania e denunciou o silêncio sobre o Sahara Ocidental.

Omar Bulsan, embaixador da RASD em Havana, interveio numa iniciativa no Centro Fidel Castro para assinalar os 51 anos da Frente Polisário

«Cuba mostrou ao longo da história o seu apoio aos povos que lutam pelo direito a ser independentes e soberanos», afirmou, o embaixador da República Árabe Saarauí Democrática (RASD), Omar Bulsan.

No encontro, Bulsan destacou «as demonstrações heróicas do povo cubano» nas lutas pela libertação de países africanos, sob a liderança de Fidel Castro, refere a Prensa Latina.

Na ocasião, o embaixador recordou as origens da criação da Frente Popular de Libertação de Saguia el Hamra e Rio de Ouro (Polisario), num contexto marcado pelo avanço dos movimentos de libertação nacional do jugo dos impérios coloniais em África.

 

A formação de estudantes saharauis em Cuba é uma das vertentes da cooperação
entre a Ilha e a RASD


Fundada em 1973 por El Uali Mustafa Sayed em conjunto com outros jovens saharauis, a organização deu continuidade às lutas empreendidas desde os anos 60 pelo Movimento para a Libertação do Sahara, liderado por Mohamed Sidi Brahim Basir (assassinado pelas forças de ocupação do Estado espanhol depois de ter sido detido).

Em Havana, o diplomata disse que a luta do povo saharaui «foi silenciada e censurada», nomeadamente pela imprensa estrangeira na região, pertencente a órgãos de Marrocos, França e Espanha.

«A Frente Polisario não é um partido, mas um aglutinador de toda a opinião pública e de defensores da independência» da RASD, explicou, tendo ainda referido que Cuba conhece de perto o tratamento a que o seu país é submetido.

 

Frente Polisario, 50 anos a lutar pela autodeterminação do povo saharaui

Denunciando de forma contundente o genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestiniano em Gaza, Bulsan criticou os maus-tratos e as perseguições de que são vítimas os cidadãos nas cidades ocupadas por Marrocos que se mostrem a favor da Frente Polisario ou peçam a liberdade para o povo saharaui.

Já o vice-chefe do Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista de Cuba, Juan Carlos Marsán, destacou as relações de cooperação existentes, desde 1980, entre a organização política e a RASD, em áreas como os cuidados de saúde e a formação de estudantes saharauis.

Marsán, que recordou as suas experiências no país árabe durante as comemorações do 50.º aniversário da Frente Polisario, reconheceu ainda o trabalho das mulheres que lutam pela soberania da RASD.

 

quarta-feira, 15 de maio de 2024

1 em cada 4 jovens marroquinos até aos 24 anos é NEET: Não Estuda, Não Trabalha, Não tem qualquer formação...

 

Foto Maroc Hebdo


O Conseil Economique, Social et Environnemental (CESE) de Marrocos, instituição oficial com a incumbência de prestar assessoria técnica ao Governo e às duas camaras legislativas do Reino de Marrocos organizou um seminário na quarta-feira, 8 de maio, para apresentar as conclusões do seu relatório sobre "Jovens NEET: que perspectivas de inclusão socioeconómica". NEET, significa aquilo que afirmámos no título - Not Education, Employment or Training - Expressão que descreve todos aqueles que nem estão a estudar, nem trabalhar nem a ter qualquer tipo de formação...

Segundo o estudo “25,2% dos jovens marroquinos entre os 15 e os 24 anos são considerados como NEET. Nas zonas urbanas, a proporção dos jovens NEET em 2022 elevava-se a 21,8%, o que correspondia a 771.000 jovens. Nas zonas rurais, porém essa percentagem é ainda maior: 30,3%, isto é 715.000 jovens, ou seja 1,5 milhões de pessoas no total.

Alargando a análise até aos jovens de 35 anos - refere o CESE -, o número de jovens NEET atinge o valor astronómico de 4,3 milhões de pessoas o que traduz a dificuldade de integração de grande parte da juventude no tecido social do país. Os numeros são ainda mais preocupantes afirma o CESE “já que o ritmo de crescimento da economia marroquina não gere o numero de empregos minimamente requeridos face a este panorama. Abandono escolar, falta de formaçao muito em particular nas zonas rurais”. Aquela instituição adianta ainda que as mulheres e jovens até aos 35 anos representam 73% dos NEET.

Sahara Ocidental: Um antigo oficial do exército marroquino ataca o Makhzen

 

Abdelilah Isso sobreviveu a várias tentativas de assassinato enquanto residia em Espanha, incluindo uma tentativa de rapto em Madrid, em 2010, e um recente acidente de viação quase fatal a que escapou por pouco, que atribui à rede de espionagem marroquina que opera em Espanha.


Um antigo oficial do exército marroquino a residir em Espanha sublinhou a estratégia do regime de Makhzen de doutrinar o povo marroquino para apoiar a sua ocupação ilegal dos territórios saharauis.

"Infelizmente, a questão do Sahara Ocidental une o povo marroquino. Para mim, não porque a sua causa seja justa, mas porque os marroquinos sofreram e sofrem, desde há décadas, uma lavagem cerebral muito grave e sofisticada, que os transformou em meros «zombies», incapazes de pensar e analisar os factos", lamentou Abdelilah Issou, em entrevista publicada na segunda-feira pelo site "Ecsaharaoui".

Instado a pronunciar-se sobre o conflito do Sahara Ocidental, afirmou que o povo saharaui não tinha outra alternativa senão continuar a lutar pela sua liberdade e independência, prosseguindo a sua luta contra o ocupante marroquino, denunciando a inação da ONU, que qualificou como um instrumento de dominação nas mãos das potências ocidentais.

"Os patriotas saharauis não têm outra escolha senão continuar a lutar pela sua liberdade e independência. É claro que (...) poderiam fazer melhor, e poderiam também receber mais apoio (...) para poderem continuar a sua luta armada", sublinhou Abdelilah Issou. Denunciou a "hipocrisia ocidental sem precedentes" em relação ao conflito saharaui, sublinhando que "a contradição é a mesma que vemos na Palestina".

"Por um lado, armam e apoiam (a entidade sionista) e, por outro, apelam aos palestinianos oprimidos para que se acalmem", indignou-se. Neste contexto, o antigo oficial do exército marroquino apelou à Frente Polisario a prosseguir a sua luta armada até à independência do Sahara Ocidental, sublinhando que "ceder nesta fase da luta seria uma traição à causa".




"A palavra de ordem deve ser 'lutar e resistir até à morte'", insistiu. A uma pergunta sobre o papel da ONU no conflito saharaui, Abdelilah Issou indicou que esta instituição internacional "nunca foi justa nem fiável", e que sempre foi "um instrumento de dominação nas mãos das potências, em particular do Ocidente". "E se não, vejam o que fizeram com os palestinianos. Os saharauis têm a obrigação de denunciar pelo menos as duas medidas utilizadas pela ONU no caso do Sahara Ocidental e de prosseguir a sua ofensiva diplomática em todas as frentes", afirmou.

Por último, Abdelilah Issou dirigiu uma mensagem àquilo a que chamou a "pseudo-oposição marroquina no estrangeiro", que afirmou ter apelado à unidade em várias ocasiões, mas que infelizmente foi alvo de ataques por parte desses mesmos pseudo-opositores. Nascido em Tetouan, no norte de Marrocos, em 1965, graduado como segundo-tenente de infantaria na academia militar de Meknès em 1988, colocado no mesmo ano na frente de batalha do Sahara Ocidental, onde permaneceu até ao final de 1999, Issou sempre se apresentou como um antigo oficial do exército marroquino, opositor do regime de Mohamed VI.

Depois de deixar Marrocos em 2002, é atualmente considerado um dos principais observadores do seu país. Sobreviveu a várias tentativas de assassinato enquanto residia em Espanha, incluindo uma tentativa de rapto em Madrid, em 2010, e um recente acidente de viação quase fatal a que escapou por pouco, que atribui à rede de espionagem marroquina que opera em Espanha.

 

 

domingo, 5 de maio de 2024

FiSahara 2024 abraça a Palestina e atribui a 'Camela Branca' ao filme "200 metros"

 


Contramutis - 05-05-2024 | O Festival Internacional de Cinema do Sahara Ocidental reuniu milhares de pessoas durante uma semana para apelar à união dos povos oprimidos e à sua resistência como uma vitória.

O FiSahara (Festival Internacional de Cinema do Sahara Ocidental) encerrou a sua 18.ª edição honrando o lema escolhido para a edição deste ano: Jaimitna Fi Cinema (O Nosso Jaimah no Cinema): Resistir é Vencer. O filme palestiniano 200 metros, realizado por Ameen Nayfeh e produzido por Ahmad Al-Bazz, ganhou a Camela Branca, que o reconhece como o vencedor desta edição.


O palestiniano Ahmad Al-Bazz, recebe a «Camela Brana» prémio máximo do FiSahara


Na presença do presidente da RASD (República Árabe Saharaui Democrática) e SG da Frente POLISARIO, Brahim Ghali, e do primeiro-ministro, Bucharaya Beyun, terminou na noite de 4 de maio o festival de uma semana no campo de refugiados saharauis de Auserd, no deserto do Sahara argelino, informa o serviço de imprensa do festival.

Ao atribuir o prémio a este filme, que narra as adversidades causadas pelo muro erguido por Israel na Cisjordânia e a opressão a que é submetida a população palestiniana, o júri alargou a geminação de causas como a saharaui e a palestiniana, ambas resistindo ao incumprimento da legalidade internacional por parte de uma potência invasora. O próprio Al-Bazz, que chegou diretamente da Cisjordânia para receber o prémio, aceitou o prémio das mãos do ministro saharaui da Cultura, Moussa Salma, e da governadora de Auserd, Jira Bulahi, sublinhou o seu "orgulho em receber este prémio num festival como o FiSahara", ao mesmo tempo que afirmou que "enquanto fotojornalista e documentarista, continuarei a utilizar o cinema e o seu poder como instrumento de transformação".

O segundo prémio foi atribuído a «Insumisas», o documentário realizado por Laura Dauden e Miguel Ángel Herrera, que relata as atrocidades e os crimes contra a humanidade cometidos por Marrocos contra mulheres activistas, muitas delas dos Territórios Ocupados, como Sultana Jaya, Elghalia Djimi, Mina Baali, Omeima Mahmud Nayern e Jadiyetu El Mohtar. As activistas dos Territórios Ocupados Elghalia Djimi e Mina Baali receberam o prémio das mãos de Galia Yahia, Directora da Cultura na wilaya de Ausserd, e de Sidami Hafed, Directora da Casa da Mulher de Ausserd.

O terceiro prémio, entregue pelo ator Guillermo Toledo, foi atribuído ao filme «Igualada», realizado por Juan Mejía Botero, que conta a história de superação e resistência da vice-presidente colombiana Francia Márquez. A vencedora do Prémio Nacional da Paz da Colômbia e fundadora do Festival Audiovisual Montes de María (Colômbia), Soraya Bayuelo, recebeu o prémio, que destacou a coragem das mulheres que lutam contra a opressão.

Por último, o Prémio Eduardo Galeano para os Direitos Humanos reconheceu o trabalho do Coletivo de Activistas que Defendem os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados. A jornalista e ativista Asria Mohamed entregou o prémio a activistas dos Territórios Ocupados, como Salha Boutenghiza, Mahfouda Lekfir, Nasrathoum Babi, Mina Baali, Laila Lilli, Elghalia Djimi, Soukaina Aamadour e Sidi Mohamed Daddach, conhecido como o "Mandela saharauí", entre outros.

A gala, que teve como anfitriãs as actrizes espanholas Carolina Yuste e Nathalie Poza e o activista senegalês Thimbo Samb, contou com a leitura conjunta pelos defensores dos direitos humanos Soraya Bayuelo (Colômbia), Milton Carrero (Porto Rico), Lurdes Pires (Timor-Leste) e Ahmad Al-Bazz (Palestina) de um manifesto de solidariedade com o povo saharaui.




A gala foi concluída com um concerto de Pedro Pastor e Álvaro Navarro, encerrando assim uma nova edição do festival que, como salientaram nas suas intervenções a sua directora executiva, María Carrión, e o responsável saharaui pelo Cinema e o Teatro no Ministério da Cultura, Ahmed Mahamud Mami, "após 20 anos de existência, continua a ganhar a sua importância entre tantas guerras e opressões, utilizando o cinema como arma".


Cultura e identidade contra a opressão

Na cerimónia de encerramento foram também entregues os prémios Le Frig, um espaço de tendas tradicionais saharauis em que as diferentes wilayas (acampamentos) concorrem em diferentes categorias. A lista dos vencedores foi encabeçada, no concurso nacional, pela wilaya de Auserd, seguida das de Smara, Dakhla, Bojador e El Ayoun, tendo Brahim Ghali e a Bucharaya Beyun entregue o prémio aos dois primeiros classificados. Do mesmo modo, na categoria regional, o vencedor da daira (bairro) foi Leguera, à frente de Zug, Tichla, Bir Ganduz; Miyek e Agüenit.

Le Frig é um dos eventos culturais que, desde o passado dia 30 de abril, data do arranque do FiSahara 2024, se juntou aos mais de trinta filmes, bem como às numerosas mesas redondas e exposições que tomaram a epopeia da resistência como uma espécie de vitória e de ligação entre os diferentes povos oprimidos, com o cinema como ponta de lança da resistência cultural.



Brahim Ghali assegura que o Sahara Ocidental continuará a lutar até à vitória

 


Ausserd (campos de refugiados), Argélia, 4 maio (Prensa Latina) | O presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) e SG da Frente POLISARIO, Brahim Ghali, assegurou hoje que o Sahara Ocidental continuará a luta até à devolução dos territórios ocupados.

Numa troca de impressões com os participantes na Primeira Conferência dos Meios de Comunicação Social de Solidariedade com o Povo Saharaui e no Festival Internacional de Cinema (FiSahara), Ghali afirmou que os saharauis não desistirão da justa exigência de serem livres e trabalharem em paz.

A batalha terminará quando as nossas fronteiras forem respeitadas e o Sahara Ocidental nos for devolvido, sublinhou o Presidente neste campo de refugiados no sul da Argélia.

Agradeceu também aos jornalistas pela sua presença na conferência de imprensa e disse à Prensa Latina estar certo de que a RASD triunfará, tal como Cuba, nações - disse numa mensagem à nação caribenha - que, unidas, triunfarão.

O líder saharaui trocou impressões com a imprensa sobre outros temas de interesse como as relações com Espanha, o papel da ONU na procura de uma solução para o conflito e a defesa dos recursos naturais.

Em Bojador, outro dos cinco acampamentos de refugiados saharauis na região argelina, a conferência dos profissionais da informação terminou com um compromisso de multiplicar o apoio à causa do Sahara Ocidental.

O fórum dos meios de comunicação social terminou há algumas horas com a adoção da declaração final e um acordo para a criação da Federação dos Jornalistas e Profissionais dos Meios de Comunicação Social Solidários e Interessados na Luta do Povo Saharaui.




O Ministro da Informação da RASD, Hamada Salma Daf, descreveu os debates como frutuosos e a conferência como um êxito devido à qualidade dos intercâmbios e à decisão principal de elevar a mensagem em defesa do seu povo a nível mundial.

De acordo com declarações daquele responsável à Prensa Latina, a causa do Sahara recebeu um impulso com a participação ativa de mais de uma centena de profissionais de quase 30 países, determinados, disse, a defender o direito à autodeterminação e à devolução dos territórios ocupados.

Ao longo de dois dias, os participantes no encontro nesta região desértica debateram a situação atual do Sahara Ocidental, a situação dos direitos humanos na zona controlada por Marrocos, a duplicidade de critérios e a necessidade de um jornalismo ético.

O texto final de Bojador, conhecido como Declaração de Bir Lehlu, apela a um trabalho equilibrado e objetivo dos meios de comunicação social contra a máquina de propaganda que ameaça a estabilidade, a segurança e a paz mundiais.

Insta igualmente a esforços conjuntos para proteger os direitos fundamentais e os princípios de causas justas, reiterando simultaneamente a possibilidade e a esperança de construir um mundo melhor.

Segundo o ministro da Informação da RASD, um dos marcos da Conferência foi a decisão de fundar a federação dos jornalistas e profissionais solidários e interessados na causa saharaui, com um órgão diretivo composto por um presidente, um vice-presidente, o secretário-geral e representantes em cada região geográfica.

O Sahara Ocidental é uma linha vermelha para os jornalistas em Marrocos, denuncia o relatório da Repórteres Sem Fronteiras (RSF)

 


As autoridades marroquinas utilizam acusações forjadas contra jornalistas independentes, tais como acusações de violação, tráfico de seres humanos, adultério ou prática ilegal de aborto.

O regime de Mohamed VI reforçou o seu controlo sobre a imprensa em Marrocos.

Por Alfonso Lafarga - Contramutis



O Sahara Ocidental - um Território Não Autónomo pendente de descolonização ocupado pelo regime marroquino desde finais de 1975, depois de ter sido entregue por Espanha - é uma linha vermelha para os jornalistas em Marrocos, para além de outras como a monarquia, a corrupção, o Islão, os serviços de segurança e a repressão das manifestações.

A Repórteres sem Fronteiras (RSF) denuncia esta situação no seu Relatório Mundial sobre a Liberdade de Imprensa 2024, no qual especifica que as detenções de jornalistas sem mandato e por períodos prolongados estão na ordem do dia em Marrocos, onde o governo de Aziz Akhannouch reforçou o seu controlo sobre a imprensa.

No Índice Mundial da Liberdade de Imprensa 2024, Marrocos passa do 144.º para o 129.º lugar, mas a RSF observa que tal se deve "à ausência de novas detenções, mas não reduz a extensão da repressão, nomeadamente judicial, que continua contra os profissionais da comunicação social".

No seu relatório, publicado a 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a RSF sublinha que, nos últimos anos, "foram utilizadas contra jornalistas independentes questões morais completamente forjadas, como acusações de violação, tráfico de seres humanos, adultério ou prática ilegal do aborto" e que "os processos que se seguem a estas acusações são acompanhados de campanhas de difamação orquestradas contra eles pelos meios de comunicação social pró-governamentais".




Repórteres sem Fronteiras afirma que o pluralismo da imprensa marroquina é apenas uma fachada, uma vez que os meios de comunicação social não reflectem a diversidade das opiniões políticas no país. "Os meios de comunicação social e os jornalistas independentes enfrentam graves pressões e o direito à informação é esmagado por uma máquina de propaganda e de desinformação ao serviço da agenda política dos detentores do poder e dos seus círculos", afirma a ONG.

Apesar de o novo código de imprensa marroquino, adotado em 2016, despenalizar os delitos de imprensa, qualquer publicação considerada crítica pode ser objeto de uma ação penal com base no código penal. Esta falta de garantias jurídicas para a liberdade de expressão e o jornalismo, a falta de independência do poder judicial e o aumento das acções judiciais contra jornalistas levam os profissionais da comunicação social a autocensurarem-se.

 

JORNALISTAS SAHARAUIS DETIDOS

A RSF não faz qualquer referência específica à situação da liberdade de imprensa no Sahara Ocidental, apesar de seis jornalistas saharauis estarem atualmente a cumprir penas graves nas prisões marroquinas, a maior parte deles a mais de 1.000 quilómetros de distância das suas famílias, segundo fontes do grupo jornalístico saharaui Equipe Media.

São eles Abdalahi Lekhfauni, condenado a prisão perpétua, da Equipe Media; Hassan Dah, (25 anos de prisão), da RASD TV e Rádio; Mohamed Lamin Haddi (25 anos), da RASD TV e Rádio; El Bachir Khada (20 anos), da EM; Khatri Dadda (20 anos), da Salwan Media e Mahmud Khambir (10 anos), da Smara News.




Yahdih Essabi, diretor da Gargarat Media, foi libertado da prisão a 28 de maio de 2023 após ter cumprido uma pena de dois anos. A caminho de casa, num posto de controlo, a polícia agrediu-o, espancou o seu irmão, ameaçou a família e depois impediu os saharauis de o visitarem.

Vários destes presos fizeram repetidas greves da fome como única forma de denunciar as condições extremas de detenção, as torturas e os maus tratos de que são vítimas e de exigir que sejam levados para prisões no Sahara Ocidental, perto das suas famílias.

Embora a organização central dos Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, não faça referência aos jornalistas saharauis nos seus relatórios anuais, em junho de 2019 a secção espanhola da RSF apresentou um estudo detalhado sobre a liberdade de imprensa no Sahara Ocidental, um território que definiu como "um dos lugares mais áridos do mundo para a informação e o jornalismo". Denunciou a perseguição sofrida pelos jornalistas saharauis por Marrocos, que trata a informação no Sahara Ocidental com "mão de ferro", pune "implacavelmente" o exercício do jornalismo local e bloqueia o acesso aos meios de comunicação estrangeiros.

 

A ESPANHA NÃO ESTÁ LIVRE DE PRESSÕES POLÍTICAS

Repórteres sem Fronteiras afirma que a subida de Espanha no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, do 36º para o 30º lugar no ano passado, se deve a uma melhoria do ambiente jurídico e de segurança e ao declínio de outros países.

Garante que a Espanha não está livre das pressões políticas que, como em todo o mundo, "estão a corroer a independência e a pluralidade do jornalismo, embora este resista num cenário mundial desanimador".

Apesar de o Governo não ter cumprido o seu compromisso de revogar a "Lei da Mordaça", o facto de esta quase não ter sido aplicada aos profissionais da comunicação social durante anos e de não ter sido aprovada recentemente qualquer outra legislação que atente contra a liberdade de informação coloca o quadro jurídico espanhol entre os 20 mais protectores do mundo, segundo a RSF.

A RSF, que conta e condena regularmente as agressões físicas e verbais de que são vítimas os jornalistas espanhóis que cobrem eventos de rua - como os que tiveram lugar durante os protestos em frente à sede do PSOE no outono passado -, bem como o assédio de que são alvo nas redes sociais, "considera, de um modo geral, que Espanha é um país seguro para o livre exercício do jornalismo".

Dos 180 países que integram o ranking da RSF, os que oferecem melhores condições para o jornalismo são: Noruega, seguida da Dinamarca, Suécia, Holanda, Finlândia, Estónia, Portugal Irlanda, Suíça e Alemanha.

sábado, 4 de maio de 2024

Solidariedade com a RASD contra o cerco mediático ao Sahara Ocidental




Correo Diplomatico Saharaui 04-05-2024 | A União dos Jornalistas e Escritores Saharauis apelou ao mundo para que rompa o cerco informativo em torno da luta do povo da RASD pela recuperação dos territórios ocupados por Marrocos.

Durante a jornada de abertura da 1.ª Conferência dos meios de comunicação social de solidariedade com o povo da República Árabe Saharaui Democrática neste campo de refugiados, que decorreu esta quinta e sexta-feiras (2 e 3 de Maio), os oradores e os painelistas apelaram a que se mostre a verdadeira história do seu povo, com objetividade e sem imparcialidade.

A necessidade de criar uma frente comum para fazer face à desinformação sobre a situação no Sahara Ocidental foi evocada por Nafi Ahmed Mohamed, dirigente da organização, antes de saudar a presença de cerca de 120 convidados internacionais provenientes de quase 30 países.

De acordo com a ordem de trabalhos de dois dias, a conferência organizada nos campos de refugiados do deserto do sul da Argélia pretende adotar um roteiro para difundir o discurso com a mensagem verdadeira da causa da independência, da soberania e da integridade territorial.

O evento mediático visa igualmente encorajar a criação de ligas de jornalistas solidários com a causa saharaui e promoverá uma declaração contra a duplicidade de critérios nos media.




O responsável pela informação do governo da RASD, Maluma Larabas, apelou a um intercâmbio sobre a perspectiva jornalística no tratamento do assunto, que é controlado nos grandes meios de comunicação social do ponto de vista marroquino.

Tanto o presidente dos jornalistas e escritores saharauis como Maluma Larabas destacaram a presença da Prensa Latina, uma agência de notícias que, segundo eles, sempre reflectiu de forma oportuna o que consideravam ser a justa luta do seu povo.

É significativo, reiteraram, que o presidente da principal agência de notícias da América Latina, Luis Enrique González, participe com contribuições sensíveis baseadas na experiência de quase 65 anos de enfrentamento dos bloqueios de informação na distante Cuba.

O primeiro dia da conferência contou com intervenções do ministro dos Negócios Estrangeiros Mohamed Sidati, de peritos nacionais e estrangeiros no painel sobre a situação política e diplomática da questão do Sahara Ocidental.

Além disso, as mesas redondas centraram-se na situação dos direitos humanos e nas suas violações na parte ocupada pela nação vizinha, enquanto os comandantes militares falaram sobre as acções das suas forças desde a rutura do acordo de paz em novembro de 2020.